Em guerra pelo 5G, Huawei lança celular premium com Android incompleto
Sem tempo, irmão
- Huawei anunciou nesta quinta-feira (23) os celulares Mate 40 e o Mate 40 Pro
- Sem Google, WhatsApp e Facebook, os modelos apostam em câmera e bateria
- Lançado na Europa e na China, os aparelhos ainda não têm previsão de chegar ao Brasil
Em meio a uma disputa geopolítica internacional sobre o mercado de equipamentos 5G que envolve Estados Unidos, China e até o Brasil, a Huawei anunciou nesta quinta-feira (22) o Mate 40 e o Mate 40 Pro. Eles são smartphones superpoderosos, mas que seguem sem acesso à versão completa do sistema operacional Android e à loja de aplicativos Google Play.
Telas grandes, câmera tripla e bateria que pode durar até dois dias são as apostas para contornar a ausência de apps como WhatsApp e Facebook. A assessoria de imprensa da Huawei informou para Tilt que ainda não há previsão de lançamento da linha Mate 40 no Brasil.
Ok Google, cadê o Google?
Desde 2019, os Estados Unidos proíbem empresas americanas de fazer negócio com chinesas, o que impediu a chinesa Huawei de ter acesso integral ao sistema operacional do Google. Os celulares da Huawei também foram banidos nos EUA graças à guerra comercial com a China.
Para continuar lançando smartphones, a empresa passou a adotar um sistema chamado EMUI, que é baseado na versão de código aberto do Android, e desenvolveu uma loja de aplicativos alternativa chamada Huawei App Gallery.
Desde que foi banida de fazer negócios com empresas americanas, a Huawei já lançou quatro smartphones com versões limitadas do Android mundo afora, incluindo dois sob a marca Honor. O último lançamento no Brasil foi o Nova 5T, anunciado em abril, mas que ainda tem apps do Google por ter sido produzido e certificado antes das sanções dos EUA. Os modelos mais avançados P40 e P40 Pro foram homologados, mas ainda não estão à venda.
Um dos efeitos colaterais dessa confusão toda é a disputa pela tecnologia 5G no Brasil. Os EUA querem que o governo brasileiro proíba a Huawei de competir pela infraestrutura que permitirá a instalação da quinta geração de internet móvel no País, acusando-a de fazer espionagem em nome do governo chinês. A empresa nega qualquer espionagem.
O que muda no sistema do Mate 40?
Quem comprar um smartphone da Huawei sem aplicativos do Google não pode baixar de maneira oficial apps populares feitos nos EUA como o YouTube, o Instagram, o Facebook, a Netflix, nem mesmo o WhatsApp. Isso acontece porque muitos desenvolvedores não veem vantagem em adaptar seus apps para uso no ecossistema exclusivo da Huawei ou simplesmente porque baniram a empresa seguindo ordens do governo americano.
Usuários mais avançados podem tentar driblar as restrições usando lojas de apps alternativos para conseguirem instalar manualmente os programas mais populares que não aparecem na Huawei App Gallery, mas a prática não é recomendada oficialmente e pode existir riscos de segurança.
A empresa chinesa vem aumentando investimentos para tornar sua App Gallery mais atraente para desenvolvedores, incluindo descontos em aplicativos pagos e uma "lista de desejos" onde usuários indicam quais programas eles mais querem baixar. Nesse ponto, a fabricante promete fazer o possível para ajudar na compatibilidade com o seu sistema sem-Google.
Atualmente, os apps mais baixados na loja da Huawei são editores de fotos e o também chinês TikTok, sucesso do lado de cá do planeta também. Por outro lado, a Huawei garante que não precisa mais do Android e planeja migrar seus smartphones para um sistema operacional inteiramente novo, chamado HarmonyOS, a partir do ano que vem.
O que há de novo no Mate 40 e Mate 40 Pro
Na China, a ausência de Google e Facebook não é sentida porque os serviços das empresas americanas já são proibidos por lá. Os novos Mate 40 e Mate 40 Pro, por sua vez, apostam no hardware, câmeras, desempenho e 5G para tentar conquistar o mercado não-chinês.
Os dois smartphones usam o processador Kirin 9000, de 5 nanômetros, produzido pela própria Huawei. A fabricante garante que este é o seu melhor chip, equivalente ao A14 usado pelo recém-anunciado iPhone 12, da Apple. A memória RAM, que garante o uso de vários apps ao mesmo tempo sem travar, é de 8 GB— mais do que muito computador por aí.
Para completar o quesito desempenho, o Mate 40 vem com uma bateria de 4.200 mAh e o Mate 40 Pro tem uma de 4.400 mAh. Segundo veículos estrangeiros que já testaram o segundo modelo, essa bateria é suficiente para dar conta da tela enorme de 6,7 polegadas por "quase dois dias". O lançamento ainda vem com carregamento sem fio rápido de 50W.
Outro destaque fica por conta da câmera, desenvolvida em parceria com a empresa de lentes Leica. O aparelho possui três câmeras na parte traseira, sendo uma com lente grande-angular, uma ultra-angular (que enquadra bem mais conteúdo numa só foto) e uma telefoto (para zoom óptico, sem estragar a qualidade da imagem). Tudo isso além de um sensor a laser para garantir foco rápido.
Na parte frontal há apenas uma câmera de selfie, mas a versão a Pro ainda conta com um sensor de profundidade para caprichar naquelas fotos com fundo desfocado.
Ainda de acordo com quem já usou o novo celular, as fotos tiradas pelo Mate 40 Pro ficam tão boas quanto as de concorrentes como o Galaxy S20, da Samsung, e o iPhone 12, da Apple. O que muda é só o "estilo": a câmera da Huawei tenta preservar mais detalhes na imagem do que garantir que as cores fiquem realistas, por exemplo.
Na Europa, o Mate 40 é vendido por a partir de 899 euros (o que, com a desvalorização do real, equivale a quase R$ 6.000 em conversão direta) e chegando até 2.295 euros (mais de R$ 15 mil) na versão feita em parceria com a montadora Porsche, que inclui um design mais refinado, 12 GB de memória RAM e 512 GB de armazenamento.
O impacto nos cofres
Apesar de toda a confusão envolvendo os negócios da Huawei, os smartphones da empresa seguem populares em outros cantos do planeta, como China e Europa. A empresa permanece como a segunda maior fabricante de celulares do mundo, segundo um relatório produzido pela agência Gartner considerando as vendas no segundo trimestre de 2020.
Por consequência da pandemia do novo coronavírus, a empresa registrou queda de 20% nas vendas globais de smartphones entre abril e junho, em comparação com o mesmo período de 2019. Mas a Huawei se manteve na vice-liderança com 54 milhões de dispositivos vendidos, graças ao foco mais agressivo nos mercados chinês e indiano (os maiores do mundo).
Algumas análises, como a da agência Counterpoint Research, chegam a apontar que a Huawei ultrapassou a líder Samsung em alguns momentos do ano. De acordo com um estudo feito pela Canalys, só na China as vendas da Huawei cresceram 8% no segundo trimestre de 2020, em comparação com o mesmo período do ano anterior. No resto do mundo, porém, houve queda de 27%.
Apesar do sucesso inesperado em 2020, a Huawei não tem expectativas positivas para 2021. A empresa já disse que tem tido problemas para adquirir chips e peças de fabricantes americanos e deve reduzir a produção a partir do ano que vem, o que certamente terá impacto nas vendas. No Reino Unido, importante mercado para a empresa na Europa, ela já foi banida de concorrer pelo 5G.
Ficha técnica: Mate 40
- Tela: 6,5 polegadas OLED Full HD+ (1.080 x 2.376 pixels), 90 Hz
- Sistema operacional: EMUI 11 (baseada no Android 10)
- Processador: Kirin 9000 (3,13 Ghz Octa-Core)
- Memórias: 8 GB de RAM e 256 GB de armazenamento interno
- Câmeras: principal tripla (50 MP, 16 MP e 8 MP) e frontal de 13 MP
- Bateria: 4.200 mAh
- Dimensões: 158,6 x 72,5 x 8,8 ou 9,2 mm; peso de 188g
- Preço: 899 euros
Ficha técnica: Mate 40 Pro
- Tela: 6,7 polegadas OLED 2K (1.344 x 2.772 pixels), 90 Hz
- Sistema operacional: EMUI 11 (baseada no Android 10)
- Processador: Kirin 9000 (3,13 Ghz Octa-Core)
- Memórias: 8 GB de RAM e 256 GB de armazenamento interno
- Câmeras: principal tripla (50 MP, 20 MP e 12 MP) e frontal de 13 MP
- Bateria: 4.400 mAh
- Dimensões: 162,9 x 75,5 x 9,1 ou 9,5 mm; peso de 212g
- Preço: 1.199 euros
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