Satélite tem "raio-X para nuvens" e poderá evitar incêndios florestais
A ESA (Agência Espacial Europeia), a Intel e a startup Ubotica revelaram mais informações sobre o PhiSat-1, o primeiro satélite com inteligência artificial a orbitar a Terra. Lançado em setembro, ele foi criado para resolver um dos grandes problemas da indústria espacial: remover nuvens de imagens aéreas.
As nuvens comprometem cerca de 70% dos registros dos satélites, desperdiçando espaço de armazenamento, poder de processamento e tempo dos pesquisadores.
Equipado com uma nova câmera térmica hiperespectral, chamada HyperScout-2, e o chip Intel Movidius Myriad 2, o novo satélite irá registrar um grande número de imagens no espectro visível, infravermelhas e térmicas, que passarão por algoritmos de IA para "ignorar" as nuvens. Imagens obscurecidas por elas nem serão enviadas à Terra.
Os principais objetivos, atualmente, são:
- Monitorar o derretimento das calotas polares;
- Monitorar a umidade do solo;
- Testar novos sistemas de comunicação entre satélites, para a futura criação de uma rede de observação.
A próxima etapa é desenvolver satélites mais sofisticados que possam, por exemplo, detectar incêndios florestais logo no início para que nossa resposta seja imediata, evitando que o fogo se espalhe tanto. Também consegue monitorar, quase em tempo real, as mudanças na rota e intensidade das chamas. Hoje demora-se horas ou até dias para a chegada das equipes de bombeiros.
No caso dos oceanos, seria possível encontrar navios à deriva ou derramamentos de óleo.
Essa tecnologia, aliando satélites e inteligência artificial, tem o potencial de mudar a maneira como lidamos com acidentes, desastres naturais e o aquecimento global.
Colocando o PhiSat-1 para funcionar
O PhiSat-1 é um tipo de CubeSat, um satélite pequeno do tamanho de uma caixa de cereal e parecido com um gabinete de computador. Ele foi lançado no dia 2 de setembro, do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa, utilizando um foguete Vega, da empresa Arianespace.
O foguete levou à órbita 53 satélites, de 21 clientes diferentes, de 13 países. Foi a bem-sucedida prova de conceito do Small Spacecraft Mission Service (Serviço de Missões de Pequenas Naves), um programa de lançamento compartilhado de CubeSats e outros pequenos satélites.
Como o chip Myriad 2 não foi feito para operar a 530 km de altura, sob a radiação espacial, a Ubotica teve de fazer algumas adaptações para lidar com erros, desgaste, ruídos e picos de sinal. Um equipamento que funciona perfeitamente na Terra poderia até pegar fogo no espaço. Por isso, foram necessários revestimentos, ajustes no software e dispositivos eletrônicos para desligamento em caso de superaquecimento.
O chip passou por uma série de testes sob feixes radioativos no maior acelerador de partículas do mundo: o Grande Colisor de Hádrons, na Suíça.
Já para treinar os algoritmos que distinguem as nuvens, a equipe usou dados de missões anteriores. Durante quatro meses, o sistema vasculhou milhares de imagens, para aprender o que são nuvens e a filtrar o que enviar para a Terra. Tudo estava pronto em maio de 2019, com o lançamento previsto para setembro.
foi necessário mais um ano para superar os desafios decorrentes da missão. O Vega teve um acidente no ano passado, caindo no mar com toda a carga pouco após o lançamento. A pandemia do novo coronavírus e os fortes ventos de verão —dois furacões atingiram a região de lançamento— também atrasaram os planos. Mas até agora o PhiSat-1 é um sucesso.
O PhiSat-2 já está em desenvolvimento, com planos de lançamento para 2022. De acordo com a ESA e a Ubotica, ele conterá um outro processador Myriad 2, com aplicativos de IA que conseguem ser validados e operados durante o voo, usando uma interface de usuário simples.
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