Big techs servem de teatro para senadores dos EUA antes das eleições
Senadores dos EUA pressionaram, nesta quarta-feira (28), os executivos Mark Zuckerberg (Facebook), Jack Dorsey (Twitter) e Sundar Pichai (Google) para que esclareçam suas posturas em relação a marcações ou retiradas de postagens de usuários em suas plataformas. A audiência, que durou mais de três horas e 40 minutos em Washington, aconteceu a poucos dias das eleições presidenciais do país.
Senadores republicanos alegaram censura na remoção de conteúdos conservadores, enquanto os democratas queriam mais rigidez para retirar conteúdo falso das plataformas. Os executivos foram questionados sobre decisões que afetam as campanhas políticas do atual presidente e candidato republicano Donald Trump e do seu concorrente democrata Joe Biden.
Apesar de ter servido para um teatro pré-eleitoral, na verdade a audiência foi convocada para discutir uma possível mudança da Seção 230 da lei de comunicações dos EUA. Um trecho dessa lei garante que as empresas de tecnologia ou de mídia não são legalmente responsáveis pelo conteúdo que seus usuários compartilham.
Os executivos foram duramente questionados pelos legisladores não só a respeito da Seção 230 —como programado— mas também em pontos como privacidade, algoritmos e a classificação dos conteúdos como enganosos ou não, sobretudo em assuntos eleitorais.
Na apresentação inicial, o presidente do Comitê de Comércio do Senado, o republicano Roger Wicker, destacou que tanto o presidente Trump quanto Biden, candidatos nesta eleição presidencial, falaram sobre a revogação de 230 "em sua totalidade". O senador afirmou que não chegou ao ponto de pedir essa revogação total.
"A Seção 230 é a lei mais importante da internet que protege a liberdade de expressão e a segurança", declarou Jack Dorsey em seu discurso de abertura. O chefe do Google, Sundar Pichai, foi o segundo a depor: "Serei claro: fazemos nosso trabalho sem preconceito político, ponto final."
Problemas na conexão
O cofundador e chefe do Facebook, Mark Zuckerberg, teve problemas com a conexão de internet e foi necessário solicitar um intervalo de cinco minutos antes de seu testemunho de abertura. Wicker classificou a falha de Zuckerberg como "interessante". Em seu discurso, o executivo disse não acreditar que "as empresas privadas devessem tomar tantas decisões por conta própria."
Antes deste período, porém, Zuckerberg apareceu para testemunhar com vídeo e áudio funcionando bem. "Pude ouvir as outras declarações de abertura. Só estava tendo dificuldade em me conectar", disse. Wicker respondeu: "Eu conheço o sentimento, sr. Zuckerberg".
Fugindo do assunto
Ted Cruz, senador republicano pelo estado do Texas, cobrou Jack Dorsey a respeito de uma reportagem do jornal The New York Post que levantava suspeitas sobre Hunter Biden, filho do candidato democrata Joe Biden. O Twitter afirmou que censurou a matéria porque ela se baseava em conteúdos obtidos por hackers, mas já voltou a autorizar a sua divulgação após críticas.
"Sr. Dorsey, quem diabos elegeu o senhor e o colocou no comando do que a mídia tem permissão para divulgar e o que o povo americano tem permissão para ouvir?", questionou Cruz, em tom de voz elevado. Dorsey reagiu dizendo que a matéria não foi censurada, que ela já pode ser compartilhada de novo e que o Twitter não é capaz de influenciar as eleições americanas.
Embora controle a plataforma com menos usuários dentre as três "big techs" da audiência, Dorsey foi o mais questionado. Também foi alvo de Roger Wicker: "Sr. Dorsey, sua plataforma permite que ditadores estrangeiros postem conteúdo sem restrições", disse o político, acrescentando que o Twitter às vezes sinaliza tuítes de Trump como falsos. "O objetivo da nossa sinalização é fornecer mais contexto", reagiu o executivo.
Enquanto Dorsey sofreu a fúria dos republicanos, Zuckerberg teve que rebater acusações dos democratas por não ser tão proativo quanto os concorrentes ao sinalizar ou ocultar posts de Trump e seus defensores. A senadora Jacky Rosen argumentou que, enquanto os republicanos achavam que as redes sociais estavam "trabalhando demais" para ocultar discurso de ódio e desinformação, ela acreditava que as empresas estavam fazendo "muito pouco".
Zuckerberg se defendeu dizendo que o Facebook emprega mais de 35 mil pessoas e gasta mais de US$ 3 bilhões na moderação de conteúdo da rede social. "Estou orgulhoso do trabalho que fizemos para apoiar nossa democracia", declarou.
Menos acionado do que os "colegas", Sundar Pichai teve que rebater acusações de que o Google monopoliza o mercado de anúncios online e comentar o processo movido pelo Departamento de Justiça dos EUA contra a empresa justamente por esse motivo.
"Nossas margens [de lucro] são baixas e temos competidores como a Amazon, que vem crescendo nos últimos anos", disse Pichai, repetindo parte de seu discurso de abertura quando foi questionado se o mercado do Google é competitivo. "Queremos apoiar a indústria de mídia e aceitamos todo tipo de feedback."
E agora?
Resta saber como os depoimentos influenciarão no avanço da discussão sobre alterar ou não a Seção 230, que já é alvo de diversos projetos de lei nesse sentido. Segundo o site Cnet, Roger Wicker e dois outros republicanos propuseram, em setembro, limitar a seção para seja possível remover postagens com material ilegal, que promovam o terrorismo ou que incentivem auto-mutilação.
Os representantes democratas Anna Eshoo e Tom Malinowski apresentaram um projeto de lei em outubro que removeria as proteções legais da Seção 230 se um algoritmo fosse usado para amplificar ou recomendar conteúdo que vá contra os direitos civis ou sobre terrorismo internacional.
O senador republicano Josh Hawley apresentou vários projetos de lei sobre o assunto, incluindo um que permitiria aos americanos processar empresas de tecnologia que censuram discursos políticos.
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