Equação "caça aliens" inspira cálculo de transmissão de covid-19 pelo ar
Uma antiga fórmula conhecida como "equação de Drake", que ajuda nas buscas por vida alienígena, tem inspirado cientistas a desenvolverem uma nova equação que calcula as chances de transmissão da covid-19 pelo ar.
Desenvolvida em 1961 pelo astrônomo Frank Drake, a equação estima o número de civilizações extraterrestres ativas em nossa galáxia com as quais poderíamos ter chances de estabelecer comunicação. Agora, segundo reportagem do site Live Science, o objetivo dos cientistas é usar esse mesmo conceito para esclarecer as formas de transmissão do novo coronavírus.
"O que realmente precisa acontecer para alguém se infectar? Se pudermos visualizar esse processo de forma mais clara e quantitativa, poderemos tomar melhores decisões sobre quais atividades retomar e quais evitar", afirmou à Live Science Rajat Mittal, coautor do estudo e professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Johns Hopkins.
Esse novo modelo de equação foi publicado na revista Physics of Fluids no início de outubro. Nela, a transmissão da covid-19 é dividida na seguinte sequência de eventos:
- Expulsão de gotículas contendo vírus de uma pessoa infectada para o ar;
- A dispersão dessas gotículas;
- A inalação dessas gotículas por uma pessoa suscetível.
Dentro dessas três etapas, a fórmula foi estabelecida com dez variáveis envolvidas na transmissão de covid-19. Entre elas estão, por exemplo: taxa de respiração das pessoas infectadas e suscetíveis, a quantidade de partículas de vírus nas gotículas exaladas e a quantidade de tempo que uma pessoa suscetível fica exposta.
O risco de transmissão de covid muda bastante em diferentes cenários. A ideia dos autores para estimar esse risco foi aplicar o que chamaram de modelo de desigualdade da Transmissão Aérea de Contágio (CAT).
Com esse modelo, realizaram estimativas em cenários como ambas as pessoas usando máscaras ou com modelos diferentes de máscara (com mais ou menos proteção). Por exemplo: as máscaras cirúrgicas (consideradas mais seguras) podem reduzir a transmissão em um fator de 10 (base de cálculo da fórmula). Já as máscaras de tecido, em um fator de 7. Isso se ambas as partes estiverem usando máscaras.
Em outro cenário do cálculo, levou-se em conta as pessoas que se exercitam em academias onde, segundo o modelo, o risco de transmissão dispara.
"Imagine duas pessoas em uma esteira na academia; ambas respiram com mais dificuldade do que o normal. A pessoa infectada está expelindo mais gotas e a não infectada está inalando mais gotas. Nesse espaço confinado, o risco de transmissão multiplica por 200 em comparação a um cenário em que as pessoas não estão se exercitando", disse Mittal em um comunicado da Johns Hopkins.
Já no cálculo referido ao distanciamento social, os pesquisadores estimularam cinco cenários diferentes. Com isso, descobriram que quando a distância para a outra pessoa é dobrada, geralmente a proteção também dobra. "O fator de proteção é inversamente proporcional ao declínio da distância entre hospedeiro e suscetível", explica o estudo. Portanto, é melhor manter a distância!
A simplicidade na forma matemática do modelo é projetada para que possa servir não apenas como uma base comum para a investigação científica, mas também ser compreensível por um amplo público fora da ciência e da academia. Mittal espera que o modelo possa informar estudos futuros que irão preencher essas lacunas em nosso entendimento sobre a covid-19.
Uma advertência dos pesquisadores no comunicado é que atualmente não sabemos quantas partículas são necessárias para causar uma infecção. Assim, por mais que a fórmula abranja diferentes cenários, o modelo não pode precisar um grau absoluto de risco no contágio de covid, mas sim comparar o nível de risco em situações distintas.
"Ainda há muita confusão sobre as vias de transmissão da covid-19. Isso ocorre em parte porque não existe uma linguagem comum que facilite a compreensão dos fatores de risco envolvidos", afirma Mittal.
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