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Acredite, os dias estão ficando mais longos... e a explicação é científica

Getty Images
Imagem: Getty Images

Tatiana Pronin

De Tilt, em São Paulo

31/10/2020 04h00

Se você perguntar por aí, a reposta será unânime: todo mundo acha que o tempo está passando mais rápido. Essa sensação de que o mundo está acelerado é totalmente subjetiva. A verdade é que os dias estão ficando cada vez mais longos.

Claro que as definições de segundo, minuto, hora e dia continuam as mesmas, apesar dos pequenos ajustes que são feitos periodicamente no chamado UTC (Tempo Universal Coordenado). Mas a rotação da Terra vai ficando um pouquinho mais lenta a cada século e, dentro de alguns milhões de anos, será preciso estabelecer que um dia tem bem mais do que 24 horas. Há cerca de meio bilhão de anos, por sinal, o dia durava pouco mais de 22 horas e um ano tinha quase 400 dias.

Tudo isso pode ser comprovado pelo estudo dos fósseis, que funcionam como calendários naturais, e também de eclipses. Estimativas indicam que a volta completa da Terra em torno de si mesma aumenta 1,7 microssegundo por século (cada microssegundo equivale a um milionésimo de segundo), algo imperceptível na escala humana.

A mesma face da Lua

A culpada por esse descompasso é a interação gravitacional entre a Terra e a Lua, também conhecida como efeito de maré. Vale destacar que, segundo os astrônomos, a Lua nasceu da própria Terra, após uma colisão interplanetária. Aos poucos, os restos se transformaram na esfera que conhecemos, que fica quase quatro centímetros mais distante a cada ano, como provam os espelhos colocados no satélite pelos astronautas.

As forças são recíprocas e, assim como a Terra atrai a Lua, fazendo-a girar em torno dela, a Lua também atrai o planeta que lhe deu origem. O resultado é bem perceptível nos oceanos, que se deformam (pois a água é maleável), criando as marés. E essas forças acabam tendo impacto no movimento de rotação de ambos os corpos celestes.

"Ao longo do tempo, essa interação gravitacional criou a rotação síncrona da Lua —atualmente, ela demora o mesmo tempo para dar uma volta ao redor de si mesma (rotação) e para dar uma volta ao redor da Terra (translação). Por conta disso, vemos sempre a mesma face da Lua", explica o professor de física Dulcidio Braz Jr, autor da coluna Física na Veia. Ele ressalta, entretanto, que nem sempre foi assim: "A interação gravitacional entre Terra e Lua foi 'ajustando' esses valores no decorrer do tempo".

Num futuro distante, com a rotação da Terra mais lenta, o planeta vai girar em torno de seu eixo no mesmo período em que a Lua vai girar em torno da Terra. A consequência é que o nosso satélite natural vai ficar parado sempre no mesmo ponto do planeta, como os satélites geoestacionários usados em telecomunicações. Em certos continentes, a visão poética da Lua à noite vai deixar de existir. Os cientistas acreditam, porém, que o Sol vai evaporar os oceanos antes disso, mas essa é outra história...

Terremotos

A interação com a Lua não é a única responsável por mudanças na duração dos dias. O terremoto de 8,9 pontos na escala Richter que assolou o Japão em 2011 foi tão forte que acelerou a rotação da Terra e encurtou os dias em 1,6 microssegundo, segundo a Nasa. Algo parecido ocorreu por causa do terremoto no Chile, um ano antes. Já o abalo de Sumatra, em 2004, causou uma aceleração de 6,8 microssegundos, segundo cientistas.

A mudança se dá porque os tremores obrigam a Terra a fazer uma espécie de rearranjo geológico e parte da massa se aproxima do eixo, causando modificações. Vale destacar que os cientistas se referem ao eixo imaginário de rotação da Terra, não ao eixo Norte-Sul.

"Eventos como terremotos e tsunamis podem tanto acelerar quanto retardar o período de rotação terrestre. Mas estamos falando em escalas de tempo muito grandes, ou seja, milhões de anos. O efeito predominante é a interação Terra-Lua", afirma o astrofísico Gustavo Rojas, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Ou seja: quem estiver na Terra num futuro longínquo (se é que o planeta ainda vai existir) não poderá reclamar que um dia não dá para nada.