Topo

App


Adeus à bolinha: gatos já jogam no smartphone, mas isso é bom para eles?

vladans/Getty Images/iStockphoto
Imagem: vladans/Getty Images/iStockphoto

Marcelo Testoni

Colaboração para Tilt

08/11/2020 04h00

Sem tempo, irmão

  • Curiosos como são, gatos interagem com telas de dispositivos móveis
  • Já há uma infinidade de aplicativos voltados apenas para os bichanos
  • O uso pode ser benéfico para os gatos, mas é preciso ter cuidado

Com tantos aplicativos e jogos de smartphone e tablet para humanos, chegou a vez dos animais de estimação brincarem com esses gadgets. Ao perceber como gatos adoram interagir com telas, startups e o próprio setor de pets investem em passatempos baseados nesse tipo de experiência.

Disponíveis já há alguns anos, Mouse for Cats (iOS, Android) e Cat Snaps (Android) são exemplos do que tem sido produzido nesse nicho de mercado. Os aplicativos oferecem aos gatos uma simulação de como é caçar e fisgar presas como camundongos, peixes e baratas em versão digital.

Para deleite dos donos, o Cats Snaps ainda tira selfies automáticas do gato quando ele clica a tela com suas patas.

Selfie feita pelo Cats Snaps - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Mas será que toda essa luz azul nos olhos do bichano, ou o fato de a presa digital não existir de verdade, podem fazer mal para a saúde dele?

Alexandre Rossi, zootecnista especializado em comportamento animal e membro do CRMV-SP (Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo), diz que na falta da bolinha, ter um app é melhor do que nada.

"Embora não seja tão produtivo como brincar com uma pena ou uma bolinha, ter um comportamento que parece completamente antinatural, como caçar uma presa digital, muitas vezes pode ser melhor do que o gato não ter nada para fazer", opina.

Para o especialista, o aumento do uso de passatempos digitais é uma tendência que veio para somar com os brinquedos físicos. Além de facilitar o lado dos donos mais ocupados, compensa a falta de estímulos nos gatos.

Muitos desses animais são criados confinados, sem nenhum tipo de distração ou adaptação às suas necessidades naturais, como saltar, escalar, arranhar. Isso leva ao tédio, que é prejudicial, como explica Pedro Horta, professor da Anclivepa-SP (Associação Nacional dos Clínicos Veterinários de Pequenos Animais).

"Para o gato, não ter o que fazer pode aumentar o estresse, levar a conflitos com outros pets e a comportamentos indesejáveis como a automutilação. E é uma causa comum de obesidade, que também é uma das doenças mais observadas neles atualmente", diz Horta.

Cuidado com a luz azul e o brilho da tela

Apesar de ser benéfico para os gatos, é preciso que os tutores tenham certos cuidados na hora de expor os bichanos a esses aplicativos.

Ele não deve ficar o tempo todo no tablet ou celular, porque embora seja pequena a chance dele se viciar por conta do uso em excesso, comportamentos muito repetitivos e que ocupam grande parte do tempo podem afetar a saúde deles, tal como acontece com os humanos.

Ainda que os gatos não tenham uma visão boa de perto, também não está claro se a incidência direta da luz azulada das telas poderia causar danos visuais.

"A princípio não, mas pode ser prudente diminuir o brilho e também regular as cores para que fiquem puxadas para o cinza, pois a capacidade dos gatos de perceberem a baixa luminosidade é muito melhor que a nossa", diz Rossi. Isso significa que no escuro qualquer luzinha já é suficiente para eles enxergarem bem.

Use os apps do jeito certo

Juliana Damasceno, doutora em psicobiologia pela USP (Universidade de São Paulo), diz que os aparelhos não devem ser usados contra a vontade do gato e exigem toda uma técnica para surtirem, além da distração, algum benefício cognitivo.

"É importante que a brincadeira não cause tensão, estresse, ansiedade e não seja frustrante, o que pode acontecer quando são utilizados não só os joguinhos virtuais, como as ponteiras a laser", explica. Afinal, como a "presa" projetada por essas ferramentas é imaterial, os gatos não conseguem apanhá-la nem manuseá-la e completar seu ritual de caça.

Para isso não acontecer, o dono deve promover os estímulos por um curto período e em seguida oferecer alguma recompensa, como um brinquedo ou petisco, para que o gato aprenda e complete a ordem das etapas da caçada.

Por fim, antes de deixar o gato brincar, cuide para que ele não arranhe a tela dos aparelhos. Para isso, pode-se colocar uma película protetora e checar se as unhas dele estão aparadas.

É preciso ficar atento ainda para que celulares e tablets não estejam sobre superfícies elevadas para não serem derrubados ou conectados a tomadas e fones de ouvido, o que acaba elevando as chances de ocorrerem acidentes como choques e asfixias.