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Cientistas afirmam ter visto a colisão de duas estrelas "mortas"

Representação artística de uma kilonova deixada pela colisão de duas estrelas de nêutrons formando um magnetar - D. Player/STScI/NASA/ESA
Representação artística de uma kilonova deixada pela colisão de duas estrelas de nêutrons formando um magnetar Imagem: D. Player/STScI/NASA/ESA

Lucas Carvalho

De Tilt, em São Paulo

14/11/2020 14h57

Pesquisadores da Universidade Northwestern, em Illinois (EUA), acreditam ter registrado, pela primeira vez, um fenômeno raro de ser observado no universo: o nascimento de um magnetar, formado a partir da colisão de duas estrelas de nêutrons.

O primeiro sinal do evento foi captado por astrônomos em 22 de maio, quando uma explosão de raios gama muito mais intensa do que o normal e sem origem definida foi observada pelo telescópio espacial Hubble e pelo observatório flutuante Neil Gehrels Swift.

Num estudo publicado nesta semana na revista científica The Astrophysical Journal, os autores argumentam que a origem dessa explosão de raios gama foi o choque de duas estrelas de nêutrons a 5,47 bilhões de anos-luz da Terra.

A fusão deixou em seu lugar uma kilonova, que em seguida deu lugar a um magnetar — uma espécie de estrela "morta" super magnética.

São coautores do estudo os astrônomos do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian. Além dos telescópios Hubble e Swift, foram utilizados observatórios de várias partes do mundo para coletar informações sobre o fenômeno, como o Very Large Array, no Novo México (EUA) e o Observatório W. M. Keck, no Havaí.

Estrelas de nêutrons são chamadas de "mortas" pois são o resultado do colapso de estrelas comuns. São objetos extremamente densos, com massa semelhante à do nosso Sol, mas concentrada num espaço do tamanho de uma pequena cidade. Uma kilonova é a explosão que ocorre com a colisão de duas estrelas de nêutrons.

Até hoje, cientistas acreditavam que, após a kilonova, esse tipo de colisão dava origem a um buraco negro. Mas a luz infravermelha que acompanhava os raios gama, detectada pelo telescópio Hubble, era brilhante demais para um buraco negro.

"Ao tentarmos montar o quebra-cabeça dessa explosão de raios gama, uma peça não estava se encaixando corretamente", explicou Wen-fai Fong, pesquisadora da Universidade Northwestern e autora do estudo que analisa o fenômeno.

A análise do material "mostra que explosões curtas de raios gama realmente se formam a partir de colisões de estrelas de nêutrons, mas, surpreendentemente, o resultado dessa colisão pode não ser um buraco negro, mas provavelmente um magnetar", disse Fong.

Um magnetar é uma estrela de nêutrons com um campo magnético muito mais poderoso — mil vezes mais intenso do que o de uma estrela de nêutrons comum, como as duas que se chocaram e formaram o novo objeto.

A descoberta joga luz sobre um fenômeno difícil de ser observado a partir da Terra e traz mais informações sobre como funciona o nosso universo, segundo os autores do estudo.

"Achamos que a maioria dos magnetares é formada na morte explosiva de estrelas massivas, deixando para trás essas estrelas de nêutrons altamente magnetizadas", explicou Fong. "No entanto, é possível que uma pequena fração deles surja em colisões de estrelas de nêutrons."

"Nunca vimos evidências disso antes, muito menos na luz infravermelha, o que torna esta uma descoberta especial."