Asteroide passará perto da Terra em 2029; conheça os planos dos cientistas
Mais cedo ou mais tarde, um asteroide com a largura de três campos de futebol pode atingir a Terra. O próximo risco de colisão do Apophis com nosso planeta será 2068. Mas bem antes disso, em 2029, ele se aproximará o suficiente para ser bem estudado. Uma passagem inofensiva, que pode ajudar os cientistas a evitarem um futuro impacto.
Daqui a nove anos, o Apophis passará a 31 mil km da Terra — mais ou menos um décimo da distância entre nosso planeta e a Lua —, a uma velocidade de 30 km/s. Estima-se que ele tenha cerca de 350 metros de diâmetro (mais que a altura da Torre Eiffel).
É uma passagem bem próxima, que será até visível a olho nu, o que é muito raro para um asteroide. Algo assim acontece uma vez a cada mil anos.
O 99942 Apophis está no terceiro lugar na lista da Nasa, agência espacial norte-americana, para os potencialmente perigosos "objetos próximos da Terra" (NEOs), com uma chance de 1 em 150 mil de colidir com nosso planeta em 2068.
Esse possível impacto seria 3.800 vezes mais poderoso do que a bomba de Hiroshima, liberando o equivalente a 1.150 megatons de TNT. Por isso, foi apelidado de "asteroide do juízo final".
Por isso, a aproximação de 2029 é crucial para conhecermos melhor este objeto ameaçador, estudando seu exterior, interior e comportamento.
O Apophis foi descoberto há apenas 16 anos, e o que temos até agora são algumas poucas medições e imagens granuladas de radar.
A lista de incógnitas é longa: formato, composição química, resistência, topologia, rugosidade, porosidade, órbita exata, rotação, distribuição de calor. Astrônomos acreditam que o Apophis tem formato irregular, talvez como um charuto.
Provavelmente, ele é um binário de contato, formado por dois objetos que gravitaram um em direção ao outro, colidindo e se fundindo.
Em 2029, missões terrestres e espaciais podem responder muitas destas questões. Também não sabemos como este próximo encontro com a Terra irá afetar a composição, órbita e outros atributos do asteroide. Podem até acontecer avalanches e terremotos em sua superfície.
Mais importante: poderemos ver quanto sua órbita será alterada pelas forças gravitacionais entre nós, o que é crucial para determinarmos o tamanho do risco de impacto em 2068.
O Apophis nos visita a cada 16 anos, aproximadamente. Ele já havia passado pela Terra em 2013, bem longe, a mais de 14 milhões de quilômetros.
Uma grande preocupação é que, em alguma dessas aproximações, ele atravesse um temível "buraco de fechadura": pequenas áreas no campo de gravidade dos planetas que "puxam" objetos menores para perto, alterando sua trajetória e criando rotas de colisão. O resultado não é uma colisão imediata. Na passagem seguinte do asteroide, sim, aconteceria um impacto devastador.
A maneira mais simples de observar o Apophis nos próximos anos será a partir do solo. Já em 2021, quando ele chegará a cerca de 17 milhões de km da Terra, será possível obter melhores imagens, estimativas de rotação e modelagem 3D. Possíveis deslizamentos de terra e falhas estruturais, por exemplo, podem indicar o que acontece dentro do objeto.
Em abril de 2029, quando ele chegar mais perto da Terra do que satélites em órbita (geoestacionários de telecomunicações ficam a 36 mil quilômetros de altitude; alguns poderão ser destruídos), diversos observatórios pelo mundo todo fornecerão imagens de altíssima resolução. Radares farão "tomografias" do asteroide, revelando a profundidade e estrutura do subsolo.
Ao mesmo tempo, sondas espaciais devidamente equipadas com câmeras, brocas, espectrômetros e sismômetros farão estudos e mapeamentos in loco, inclusive retirando amostras e instalando sensores no Apophis. Já é uma corrida contra o tempo, com prazos apertados em termos de desenvolvimento de tecnologias.
Então iremos usar o que já temos de melhor. Uma missão de reconhecimento, a exemplo da Osiris-Rex que está orbitando e estudando o asteroide Bennu com sucesso, deve ser lançada alguns meses antes da aproximação, para nos fornecer dados preliminares.
Outra inspiração pode ser a Hayabusa2, da agência japonesa Jaxa, que estudou o asteroide Ryugu em 2018 e 2019, e usou o Mascot, um robô do tamanho de uma caixa de sapatos, capaz de pular de um ponto a outro no asteroide.
Dezenas de pequenos refletores de laser, como os instalados na Lua, podem permitir aos cientistas rastrear o movimento do asteroide por muitos anos. Além de informar a trajetória, mudanças de posicionamento dos espelhos podem sugerir abalos na integridade física do objeto.
Só assim, com todo esse conhecimento e colaboração entre pesquisadores e países, será possível elaborar um plano para o caso de uma colisão iminente - como um "jogo de bilhar" que alteraria a órbita do asteroide.
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