Acarajé sustentável: startup cria dendê sintético com grana de Bill Gates
Sem tempo, irmão
- Produção em larga escala de azeite de dendê tem causado danos ambientais
- C16 Biosciences criou tecnologia capaz de produzir o óleo sem derrubar árvores
- Técnica usa micróbios para converter resto de comida e da indústria em óleo
- Startup recebeu US$ 20 mi de iniciativa comandada por Bill Gates
O azeite de dendê é marca registrada da culinária baiana e de vários países da África, mas sua produção em larga em escala tem, cada vez mais, causado impactos ambientais. Isso porque para fabricar a iguaria —também conhecida como óleo de palma— muitas empresas destroem florestas tropicais ricas em carbono para dar espaço às plantações de palmeiras. O óleo é extraído do fruto da palmeira.
Uma startup norte-americana desenvolveu uma maneira de produzir azeite de dendê sintético, sem precisar plantar uma palmeira sequer, só usando resíduos alimentares e derivados industriais. Fundada há três anos, a C16 Biosciences diz que o produto pode substituir a versão derivada da planta.
Ela desenvolveu uma tecnologia que usa micróbios para converter resíduos alimentares e derivados industriais em óleo de palma sintético.
"Acreditamos que fabricar óleo de palma como se fabrica cerveja é o melhor e mais provável caminho para o desenvolvimento de uma alternativa verdadeiramente sustentável ao produto", diz a startup no seu site.
A empresa quer produzir uma plataforma de tecnologia que usa biomanufatura, ao invés da agricultura, para produzir o óleo sintético. "Além das vantagens de fabricação, esse processo resulta em melhor controle das propriedades do óleo e fornece uma cadeia de suprimentos mais eficiente e totalmente rastreável", diz a C16 Biosciences em comunicado.
No começo do ano, a empresa recebeu US$ 20 milhões da Breakthrough Energy Ventures, liderada por Bill Gates (dono da Microsoft) para ampliar o alcance da tecnologia. Isso pode significar que em um futuro próximo pode ser que a moqueca que você está acostumado a comer seja feita com dendê produzido em laboratório. Você comeria?
Se engana quem pensa que a iguaria é usada apenas na mesa do brasileiro e de países da África. Ele é encontrado em quase 50% dos produtos nas prateleiras dos supermercados —incluindo sabonetes, xampus, maquiagem e alimentos embalados como pão, sorvete, manteiga de amendoim e biscoitos - e é uma indústria global de US$ 61 bilhões.
Esse mercado se expandiu rapidamente nos últimos anos. Desde meados dos anos 90, depois que pesquisas mostraram que óleos vegetais são prejudiciais à saúde, grandes marcas de alimentos optaram por usar o óleo de palma, que não contém gorduras trans. Agora, o óleo é usado em mais de 50% dos produtos de consumo, de acordo com a organização sem fins lucrativos Palm Oil Investigations.
Para aumentar esse volume, muitos produtores recorreram a queimadas como maneira barata de limpar florestas e terras agrícolas, que se somam às emissões de gases de efeito estufa do processo e destroem a rica biodiversidade presente dos trópicos.
A Breakthrough Energy Ventures quer investir em empresas com potencial para reduzir as emissões em até 500 milhões de toneladas por ano. Os investidores do fundo incluem o fundador da Amazon.com, Jeff Bezos, o dono do Virgin Group, Richard Branson, e Michael Bloomberg, fundador e acionista majoritário da Bloomberg LP. (Com Bloomberg)
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