TI virou carreira "salvadora" para estas mulheres que queriam se reinventar
Uma é mãe de dois filhos e outra é negra e estrangeira. Elas não tinham qualquer experiência na área e estavam em uma idade na qual a maioria dos profissionais já busca estabilização em suas carreiras. Ainda assim, surfando contra a maré, conquistaram espaço num mercado estigmatizado: o da TI (tecnologia da informação).
Segundo dados de 2018 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres são 20% dos profissionais contratados na área. O número vem caindo: entre 2007 e 2017, elas passaram de 24% para 20%, diz um estudo da Softex, com apoio da Secretaria de Empreendedorismo do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Mas não foram as estatísticas que frearam as intenções de Dorane Antunes, de 35 anos, de fazer uma carreira, e sim a maternidade. Mãe de dois filhos —um de 18 e outro de 11—, ela precisou trancar a faculdade de licenciatura de física na USP (Universidade de São Paulo). Os planos de cursar administração também ficaram para depois.
Antunes partiu em busca, então, de uma opção de carreira em que pudesse crescer e que, ao mesmo tempo, fosse mais flexível e oferecesse a possibilidade de trabalho remoto, para conciliar com suas atividades de casa.
"Eu era uma curiosa, sempre gostei de ler sobre o assunto. Quando resolvi voltar ao mercado de trabalho, comecei a estudar", diz. Ela começou com cursos online gratuitos para capacitação em linguagens de programação.
"Sei que isso torna tudo mais difícil [ser mulher, mãe e mais velha, sem experiência], mas consegui. Antes eu era mãe, e agora sou mãe e profissional registrada com todos os meus direitos", diz. "O mais velho já disse que vai estudar para ser programador."
A haitiana Falande Loiseau Etienne, de 35 anos, chegou ao Brasil com o marido há cinco anos em busca de uma vida melhor. Ela entrou como refugiada pela fronteira com o Peru e conseguiu permanência provisória de um ano no Acre. Antes mesmo de o prazo expirar, ganhou permanência definitiva por dez anos e seguiu para Blumenau (SC), onde está até hoje.
Em seu país natal, ela trabalhava como professora de crianças com idades entre sete e oito anos e tinha estudado arquitetura. "Meu conhecimento em tecnologia se limitava a enviar emails", diz Etienne.
Mas, vendo na área de TI uma oportunidade de crescer profissionalmente, começou a fazer vários cursos. Ainda assim, sentia dificuldades em ingressar no mercado. Mulher, negra e estrangeira, precisava mostrar o seu potencial e se posicionar a todo o momento —o marido conseguiu entrar na área rapidamente, e ela seguia buscando um trabalho em TI.
"Cheguei a desanimar, pois a situação estava bem difícil. Mesmo assim foi muito bom ter vindo ao Brasil. Tive a chance de conhecer a cultura e a tecnologia, que em meu país ainda está bem atrás do que vejo aqui", afirma. Etienne atualmente prepara os documentos para pedir a naturalização brasileira.
Decidida a não ter o mesmo destino de suas amigas, que precisaram trabalhar em condições desfavoráveis aqui no Brasil, ela continuou insistindo e estudando até que um trabalho apareceu. Assim como Dorane Antunes, foi selecionada em março para a primeira edição feminina do programa de formação de talentos Padawan, na unidade de Blumenau (SC) da Ambev Tech. Recentemente, foram enfim contratadas, assim como as outras 18 alunas do programa.
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