App premiado ajuda domésticas a calcular salário e denunciar abusos
Sem tempo, irmão
- App Laudelina surgiu após leis darem direitos básicos a essas trabalhadoras
- Ele leva o nome ativista negra que criou a 1ª associação das domésticas
- Dá para saber exatamente quanto o patrão tem que pagar de salário, férias e 13º
- O app tem ainda um canal de denúncia de abusos e contatos de entidades
- ONG e startup responsáveis pelo app ganharam dois prêmios, do Google e da ONU
As mudanças nas leis trabalhistas que trouxeram direitos básicos para as domésticas motivaram a criação do app Laudelina. Criado em 2017, desde então cerca de 17.000 downloads já foram feitos, dois prêmios foram recebidos e uma terceira versão está sendo preparada.
O aplicativo reúne em um só lugar os direitos das domésticas, uma calculadora de salários e de benefícios após demissões, uma rede de contatos que inclui entidades da classe e sindicatos, além de um canal de denúncias de abusos. Ele foi batizado em homenagem a Laudelina de Campos Melo, a ativista do movimento negro que, em 1936, criou a primeira associação de trabalhadoras domésticas no Brasil, em Campinas (SP).
Só é possível baixar o app na Play Store — ou seja, ele está disponível apenas para smartphones com sistema operacional Android. A próxima atualização vai oferecer serviços offline, permitir que as usuárias façam o download do conteúdo e ainda trazer mais recursos, como podcast e vídeos.
Calculadora diz se valor de férias e 13º está correto
Segundo o CEO da startup Conceptu, responsável pelo desenvolvimento do sistema em parceria com a ONG Themis e com a FENATRAD (Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas), Daniel Dora, o recurso do app mais buscado pelas trabalhadoras é a calculadora de salários. Nela, é possível verificar se os valores de férias, 13º e da própria remuneração estão corretos.
Na seção "Meus Direitos", a usuária pode ler ou ouvir o conteúdo. Segundo Dora, a inclusão do áudio foi feita pensando em facilitar o acesso das profissionais que possuem baixo nível de escolaridade às leis, entre outras questões.
"Muitas pessoas têm dificuldade para ler e outras entendem que a leitura é mais difícil. No caso do áudio não. A pessoa põe o fone de ouvido e pode ouvir no trem, no ônibus. Tem também a questão da segurança. Quando se está lendo, o celular fica mais à mostra", salienta.
A coordenadora de projetos da ONG Themis, Jéssica Miranda Pinheiro, observa que não havia áudios na primeira versão do app, o que foi incluído depois. "A gente fez mapeamento e identificou que muitas delas têm o Ensino Fundamental completo ou não chegaram a concluir o Ensino Médio", contou.
A importância social do projeto foi reconhecida por dois prêmios. Esse ano, o app Laudelina foi premiado com o "Equals in Tech", iniciativa da ITU (União Internacional das Telecomunicações, agência das Nações Unidas sobre tecnologias de informação) em parceria com a ONU Mulheres, que reconhece projetos que capacitam mulheres com o objetivo de garantir a equidade de gênero.
Em 2016, o app ficou entre os finalistas do "Impact Challenge Brasil" do Google e recebeu R$ 650 mil para desenvolvimento e divulgação do aplicativo. Veja o vídeo que o Google divulgou sobre a iniciativa na época:
Atualizações devem torná-lo ainda mais inclusivo
O aplicativo já foi baixado mais de 17.000 vezes, mas as usuárias acabam desinstalando o Laudelina principalmente por falta de espaço no armazenamento interno do celular, como diz a startup que desenvolve o app.
"Qualquer que seja o app acaba pesando. Por isso, a taxa de permanência é baixa. Muitas usuárias fazem o download, realizam os cálculos e acabam desinstalando por causa de restrições no hardware", observa Dora, da Conceptu.
Outro fator que limita o uso do app por mais tempo é a falta de acesso contínuo à internet, já que delas boa parte utiliza o wi-fi do trabalho ou de casa e não tem pacote de dados. Por isso, para a próxima versão, os desenvolvedores pretendem dar a possibilidade de fazer download do material.
Além disso, a ideia é deixá-lo mais leve e torná-lo um web-app —isto é, utilizável por navegador web, o que elimina a necessidade de download do app. Uma das vantagens é que esse sistema não ocupa espaço na memória do aparelho, como ocorre na versão atual. Com isso, será possível acessar o Laudelina por uma URL e o usuário terá a opção de adicionar o ícone do site na tela inicial do aparelho, como se fosse um aplicativo.
Planeja-se ainda para a nova versão serviços gratuitos para as trabalhadoras, como advogado e psicólogas, além de incluir vídeos e podcasts na plataforma. Mas para essa nova etapa é preciso captar recursos.
Por enquanto, o Laudelina 3.0 está sendo desenvolvido em sistema pro-bono, ou seja, os programadores da Conceptu executam a atualização entre um projeto e outro. "Se não conseguir financiamento para versão 3.0 vai demorar demorar um ano para ser concluída", observa.
A coordenadora de projetos da Themis explica que a organização está procurando parceiros e editais para obter os recursos necessários para a nova versão do app.
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