Como seria se a gente jogasse o nosso lixo para fora da Terra?
O nosso estilo de vida tem deixado marcas no nosso planeta que vão desde o aquecimento global até a produção de resíduos que podem demorar séculos para se decompor. Mas e se a gente simplesmente jogasse nosso lixo para fora do planeta? Seria essa uma solução viável?
Para se ter uma ideia do problema, cerca de 2 bilhões de toneladas de lixo são geradas anualmente de acordo com estimativas do Banco Mundial. Em média, cada habitante do planeta produz 740 gramas de lixo por dia. A julgar pela tendência dos últimos anos, o órgão internacional estima que, em 2050, os resíduos gerados no planeta anualmente cheguem próximo das 3,4 bilhões de toneladas.
Ou seja, lidar com essa quantidade absurda de resíduos é um desafio que só tende a aumentar. Mas jogar para o espaço não é uma solução adequada.
Nós já fazemos isso
A ideia não é exatamente nova. Quer dizer, ao menos se considerarmos que isso ocorra de maneira não-intencional. A ESA (agência espacial europeia) estima que na órbita da Terra existam mais de 34 mil objetos artificiais, ou seja, produzidos de alguma forma pela humanidade — levando em consideração apenas pedaços grandes o suficiente para serem rastreados.
A estimativa chega na casa de um milhão quando são considerados nessa conta objetos com um a 10 centímetros de diâmetro. Já a quantidade de objetos com menos de 1 cm em órbita da Terra ultrapassa os 100 milhões. Desde número, pouco mais de 2.000 são satélites, de fato, operacionais. O restante, portanto, é lixo.
Perigo em órbita
A quantidade de objetos é gigantesca, sem dúvida, mas a essa hora você deve estar pensando: se são objetos de 10 cm ou menos, qual o risco? Enorme, já que eles circulam em velocidades altíssimas ao redor do nosso planeta.
O problema é tamanho que há protocolos de procedimentos na ISS (Estação Espacial Internacional) caso um desses detritos causem algum tipo de dano à sua estrutura. Satélites, especialmente os de órbita baixa, também estão sob risco de serem quebrados pelos detritos.
Se a presença de lixo ao redor da Terra já é problemática como está hoje, não faz sentido piorar a situação jogando mais lixo em órbita.
Custa caro
Já que não faz sentido jogar lixo na órbita da Terra —o que, inclusive, atrapalharia qualquer tipo de atividade espacial—, a única solução realmente útil para a nossa ideia de nos livrarmos do lixo que produzimos seria mandá-lo para muito mais longe.
O principal problema aqui seria o custo. Mesmo com o surgimento de iniciativas como a SpaceX e o consequente barateamento de lançamentos de foguetes, colocar um quilo de material em órbita da Terra custa US$ 2.720 — esse valor considera a mais recente missão do Falcon 9, foguete da SpaceX usado para levar astronautas para a Estação Espacial Internacional em maio deste ano.
Mas aqui há uma pegadinha: esse custo considera apenas colocar materiais em órbita, mas não lançá-los além disso. E como a ideia seria não poluir ainda mais a órbita do planeta, chegaríamos a valores absurdos caso quiséssemos jogar o lixo para bem longe. É inviável, portanto.
Cenário dos sonhos
Mas e se fosse barato e tecnicamente viável? Neste caso, a melhor nossa melhor opção seria jogar nosso lixo a cerca de 150 milhões de km da Terra.
Por que essa distância toda? Simples: a melhor opção para descarte de lixo seria arremessá-lo diretamente no nosso Sol, que pode ser considerada a fornalha mais eficiente do Sistema Solar.
Isso porque os cerca de 5.800ºC da sua superfície seriam capazes de destruir por completo qualquer tipo de material. Fosse algo viável, seria uma solução e tanto para a produção de lixo em nosso planeta.
Fonte:
Roberto D. Dias da Costa, professor do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP)
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