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Vídeos mostram o momento em que o telescópio de Arecibo desabou; assista

Desabamento de plataforma do observatório de Arecibo - Ricardo Arduengo/AFP
Desabamento de plataforma do observatório de Arecibo Imagem: Ricardo Arduengo/AFP

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

04/12/2020 16h48Atualizada em 05/12/2020 17h06

A Fundação Nacional de Ciências (NSF) divulgou dois impressionantes vídeos do exato instante do desabamento do icônico telescópio do Observatório de Arecibo, em Porto Rico, na última terça-feira (1º). Foi assim, com um estrondo, que 57 anos de serviços à ciência se encerraram.

As imagens, feitas por um drone e por uma câmera de monitoramento, mostram os cabos de aço se rompendo e a plataforma receptora suspensa, de 900 toneladas, caindo e levando junto com ela pedaços das torres de sustentação. Tudo caiu dentro do prato de 300 metros do radiotelescópio.

O impacto destruiu boa parte da estrutura em solo e levantou uma grande nuvem de poeira e detritos.

O radiotelescópio já estava em colapso há alguns meses, sem possibilidade de um reparo seguro. Ele seria demolido controladamente por engenheiros, antes que desabasse —mas não deu tempo. Desde novembro, após o rompimento dos dois primeiros cabos, o local era monitorado por câmeras e drones, pois já se esperava a tragédia.

No momento do desabamento, o operador do drone conseguiu rapidamente posicioná-lo e virar a câmera para acompanhar o desabamento. A plataforma de metal abrigava instrumentos e ficava suspensa a 137 metros de altura, sobre a enorme antena refletora, sustentada por diversos cabos de aço conectados a três torres.

Agora, a NSF, organização norte-americana que administra o observatório, está estudando a maneira mais segura e eficiente de limpar o local e demolir o que restou do telescópio. Ela espera ao menos salvar um conjunto de edifícios que ficam abaixo de uma das torres. Assim, o Observatório de Arecibo poderá permanecer aberto —apesar de ficar sem seu principal instrumento e marca registrada.

Descobertas

A perda do telescópio é um grande golpe para a busca da humanidade por vida extraterrestre e para nossa capacidade de defender o planeta contra o impacto de asteroides.

A antena gigante é a marca registrada de Arecibo, que até 2016 ocupou o posto de maior radiotelescópio do mundo —foi ultrapassado pela Fast, na China, de 500 metros. Diferente de um telescópio óptico, que produz imagens a partir da luz visível, um radiotelescópio observa as ondas de rádio, por meio de uma ou mais antenas parabólicas, sem lentes ou espelhos.

Inaugurado em 1963, incrustado na floresta caribenha, Arecibo contribuiu para estudos de radioastronomia e ciências atmosféricas, buscou asteroides e cometas ameaçadores à Terra, procurou sinais de tecnologia alienígena, descobriu o primeiro planeta além do nosso Sistema Solar.

Em 1974, emitiu a primeira e mais poderosa transmissão que a Terra já enviou para se comunicar com possíveis aliens. Em 2016, detectou as primeiras rajadas rápidas de rádio repetitivas —sinais espaciais misteriosos, que talvez venham de estrelas mortas.

Ele é fundamental na investigação de rochas espaciais perigosas, apesar de não as observar diretamente. O telescópio faz um "ping" com radar (sinal que vai e volta), para decifrar sua forma, rotação, características de superfície e trajetória através do espaço ­—variantes que a luz visível, por si só, não oferece. Sem esses dados, é muito mais difícil saber se um asteroide está se movendo em direção à Terra.

Cultura pop

O telescópio era tão icônico que faz parte da cultura pop. Ele apareceu nos filmes "007 Contra GoldenEye" (1995) e "Contato" (1997), sendo este último baseado no livro de Carl Sagan, um romance de ficção científica sobre vida inteligente fora do nosso planeta.

Sagan tem outra conexão com Arecibo. Na década de 1970, junto com outros cientistas, ele criou uma mensagem codificada para civilizações extraterrestres. Na época, ela foi enviada ao espaço de duas maneiras: em uma placa banhada a ouro, colocada na sonda Pioneer 10, e em ondas de rádio, disparadas de Arecibo em direção ao aglomerado de estrelas M13, a 25 mil anos-luz da Terra. Essas ondas ainda estão ecoando pelo espaço-tempo.

Você também já deve ter visto a icônica capa do disco "Unknown Pleasures" (1979), da banda Joy Division, provavelmente em uma camiseta por aí. A ilustração que parece uma cadeia de montanhas, na verdade, representa 80 pulsos de rádio (cada um é uma linha) emitidos pelo pulsar PSR B1919+21, uma estrela de nêutrons a 51 anos-luz da Terra. Seu sinal foi captado pela antena de Arecibo.

Para os fãs de games, o mapa Rogue Transmission do jogo "Battlefield 4" foi inspirado em Arecibo.

Catástrofe anunciada

Com o fim de Arecibo, os Estados Unidos e o mundo perdem grande parte de sua capacidade de realizar pesquisas interplanetárias com sinais de rádio. Ele e o Fast eram os dois grandes olhos da Terra na radioastronomia, se complementando em alguns estudos realizados 24 horas por dia. Agora, estamos caolhos.

Diversos furacões e tempestades tropicais causaram danos leves à estrutura na última década. Mas o trágico destino do telescópio começou a ser selado em 10 de agosto deste ano, após a passagem do furacão Isaías sobre a ilha de Porto Rico. Um cabo de aço auxiliar, de 3 polegadas de espessura, se soltou de uma das três torres e chicoteou o disco abaixo, abrindo uma fenda de 30 metros nos painéis.

dado em arecibo em agosto de 2020 - UCF Today - UCF Today
Dano causado por cabo danificado em agosto de 2020 no telescópio de Arecibo, em Porto Rico
Imagem: UCF Today

Em 7 de novembro, antes que os reparos pudessem começar, um segundo cabo, mais grosso e principal da mesma torre, quebrou e também atingiu o prato. Os engenheiros decidiram que não podiam mais confiar na estrutura e ela foi condenada, para desespero da comunidade astronômica.

Uma petição online já reivindica a reconstrução do telescópio. Mesmo se isso não acontecer, pesquisadores ainda poderão usar os dados arquivados em seus estudos. De qualquer forma, Arecibo deixará um grande legado para a ciência e para a humanidade.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que dizia uma versão anterior deste texto, o Observatório de Arecibo fica em Porto Rico, e não na Costa Rica.