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O que a venda da Oi significa para o mercado de telefonia móvel do Brasil

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Imagem: Divulgação

Guilherme Tagiaroli

De Tilt, em São Paulo

16/12/2020 04h00

A longa novela envolvendo o pedido de falência da Oi —que já durava quatro anos— teve um desfecho na segunda-feira (14), quando Vivo, Claro e TIM venceram um leilão para a compra da Oi Móvel por R$ 16,5 bilhões. A operação ainda deve ser analisada pela Anatel (Agência Nacional das Telecomunicações) e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Para o mercado, a possível saída da Oi vai reduzir a competição, consolidando as outras três operadoras.

Mas isso não deve ser de todo ruim para os clientes. Há grandes chances da recepção do sinal melhorar para estes consumidores, pois as ex-rivais da Oi contam com cobertura melhor. Já a possibilidade de haver abusos, com uma empresa a menos do mercado móvel, ainda é uma incógnita.

Grandes engolem os pequenos

Antes de falar dos detalhes da operação, vale entender um pouco o mercado de telefonia móvel brasileiro. Você se lembra das pessoas com múltiplos chips pré-pagos? Isso ainda existe, mas tem diminuído. Segundo a Anatel, pela primeira vez em setembro de 2020 as linhas pós-pagas superaram as pré-pagas.

  • Linhas pós-pagas: 114,7 milhões
  • Linhas pré-pagas: 113,5 milhões
  • População brasileira: 210 milhões de habitantes

Sim, há muito mais linhas que gente no Brasil.

O fato é que o mercado móvel brasileiro já chegou a um ponto em que o acesso ao serviço é amplo, e a tendência dos últimos anos é essa: usuários pré-pagos virando pós-pagos. O atrativo é que eles oferecem uma franquia de dados maior para uso de internet móvel, além de vantagens adicionais como descontos em serviços de streaming. Então, não há muito mais o que crescer.

"Tradicionalmente, telecomunicação é um negócio de grande investimento e de escala. A operadora precisa de muito alcance e volume para ter retorno", explicou Luciano Saboia, gerente de pesquisa e consultoria em telecom da IDC Brasil, em conversa com Tilt. Neste cenário, a divisão móvel da Oi tem uma participação de mercado de 16% e está em recuperação judicial desde 2016. A Vivo tem 33,5% do mercado, a Claro, 26,5%, e a TIM, 22%, segundo dados de outubro de 2020 da Anatel. Assim, a empresa dificilmente conseguiria bater de frente com suas concorrentes.

"Se não tem crescimento, os competidores mais fracos são absorvidos pelos outros. O que aconteceu com a Oi não foi diferente do que rolou com a Nextel, que foi comprada pela Claro. A companhia [Nextel] tinha inclusive falado que não tinha dinheiro em caixa para sobreviver", disse Ari Lopes, analista da consultoria em telecomunicações Omdia.

Nos EUA, ocorreu algo parecido no início deste ano. A T-Mobile se fundiu com a Sprint, que era a quarta do mercado, restando três grandes teles. A diferença é que no Brasil os clientes da Oi serão divididos entre as operadoras envolvidas.

Alguns países importantes do mercado contam com a consolidação de três operadoras: China, Japão, Itália, Canadá, Portugal, Holanda e Austrália, por exemplo. Outros contam com quatro grandes operadoras, como Reino Unido, Índia, França e Chile.

China, Japão, Alemanha, Itália, Canadá, Espanha, Portugal, Holanda, Austrália, México, Colômbia, Argentina e Uruguai.... - Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/12/13/venda-da-oi-concentrara-ainda-mais-a-telefonia.htm?cmpid=copiaecola
Estados Unidos, China, Japão, Alemanha, Itália, Canadá, Espanha, Portugal, Holanda, Austrália, México, Colômbia, Argentina e Uruguai.... - Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2020/12/13/venda-da-oi-concentrara-ainda-mais-a-telefonia.htm?cmpid=copiaecola

Legal, e o que vai mudar para o cliente?

Segundo as operadoras vencedoras do leilão, os clientes da Oi serão divididos entre Claro, TIM e Vivo, mas ainda não há detalhes de como isso vai acontecer. Muito provavelmente, eles serão notificados e, na sequência, passarão a receber a conta da nova operadora com o mesmo plano e pagando o mesmo valor.

Quanto à qualidade da recepção de sinal, a tendência é melhorar. "A Oi tem um espectro de frequência alto, o que costuma ser ruim para a cobertura de sinal de grandes áreas geográficas", disse Lopes, da Omdia.

Para transmitir dados e voz, as operadoras contam com faixas de frequências, que são como "avenidas" que ficam no ar. Quanto maior a frequência, são necessárias mais antenas para que o sinal se espalhe melhor. Quanto menor a frequência, o sinal tem maior abrangência.

Das grandes teles, a Oi é a única que não atua na faixa de 700 MHz, a "avenida" mais baixa disponível para 4G. A companhia atua majoritariamente em 2,5 GHz, uma frequência considerada bem alta. Então, consumidores da Oi que migrarão para outras operadoras poderão contar com um sinal de telefonia melhor.

Então, isso deve piorar a vida dos clientes das operadoras que vão receber os assinantes de serviços da Oi? Para Lopes, não. "As operadoras não compraram só a base de clientes, mas também a infraestrutura. Com isso, elas podem ativar novas frequências ou ainda passar a ter uma cobertura melhor em áreas onde antes só tinham uma antena. As empresas devem fazer uma análise regional, pois não é negócio para elas piorar o serviço prestado", explica.

O movimento das operadoras aponta para uma tendência de mercado também comum no ramo de telecomunicações, segundo Saboia, da IDC. "A consolidação é um caminho natural, e isso tem feito as empresas irem na direção de compartilhar infraestrutura, que é melhor do que cada um ter a sua", disse.

De certa forma, isso já acontece no Brasil. Em algumas localidades, TIM e Vivo já dividem a infraestrutura de rede em milhares de cidades pequenas. A ideia é: em vez de cada operadora instalar uma antena em uma localidade, elas podem distribuir melhor os esforços em atingir locais com pouco ou nenhum sinal. Esse tipo de iniciativa é especialmente importante em municípios com até 30 mil habitantes. Em metrópoles, onde há grande concentração de usuários, a história é outra, pois o uso é intenso.

Voltando aos clientes da Oi, as perspectivas são boas, mas resta saber como vai ser toda a transição na prática. Sobretudo, se Anatel e Cade vão impor medidas para evitar abuso de mercado ou redução na qualidade do serviço. Algumas possibilidades seriam um aumento geral nos preços dos pacotes ou não deixar aos clientes da Oi escolherem a nova operadora. Mas por enquanto, isso tudo está no reino da especulação.