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Big Brother digital: crescem métodos para vigiar trabalhador a distância

Yandex.Taxi, app de transporte da Rússia - CreativeCommons/Elena Yastrebova
Yandex.Taxi, app de transporte da Rússia Imagem: CreativeCommons/Elena Yastrebova

De Tilt, em São Paulo

10/01/2021 04h00

Sem tempo, irmão

  • Existem softwares no mercado que caguetam para a empresa o que você está fazendo
  • Serviço de transporte por app russo instalou reconhecimento facial para monitorar motoristas
  • Empresa desenvolveu ferramenta de IA para detectar comportamento atípico de funcionários

Se você sentiu "medinho" ao assistir ao novo documentário da Netflix, O Dilema das Redes, e perceber que todos os nossos passos são monitorados por alguma ferramenta de tecnologia, vai se assustar ainda mais ao saber que além das suas redes sociais a própria empresa que você trabalha já tem a disposição dela uma série de softwares dotados de inteligência artificial capaz de informar ao seu chefe sobre todas as suas ações — mesmo que você esteja trabalhando "home office".

Seja trabalhando de casa para uma instituição financeira ou até como motorista de app, existe no mercado uma série de tecnologias de monitoramento capazes de informar ao seu empregador desde de o seu nível de cansaço físico até a mensagem que você está enviando pelo seu email pessoal enquanto trabalha.

Na Rússia, por exemplo, a Yandex, maior empresa de internet do país, passou a instalar uma tecnologia de reconhecimento facial em sua unidade de aplicativo de transporte, o Yandex.Taxi, para impedir que motoristas que não estiverem em condições de dirigir aceitem novos pedidos.

Funciona assim: um pequeno dispositivo é instalado no para-brisa do carro para identificar motoristas esgotados, monitorando parâmetros como piscar, bocejar e o movimento da cabeça. O software do dispositivo consegue monitorar 68 pontos faciais.

A Yandex afirmou já ter testado a tecnologia de reconhecimento facial para motoristas e apresentou os resultados ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, em maio. A empresa disse que planeja instalar a tecnologia em milhares de carros em breve.

Já a NICE Actimize consegue monitorar até o home office, que aumentou significativamente durante a pandemia e já mostrou que veio para ficar.

Sem a estrutura de segurança oferecida pelos escritórios, ficou mais difícil para as empresas controlarem as atividades dos funcionários, assim como monitorar suas ações, algo que pode ser desastroso para bancos e instituições financeiras. Afinal, um funcionário mal-intencionado, de posse de informações privilegiadas e livre dos sistemas de segurança do escritório, pode causar grandes prejuízos financeiros para a empresa que trabalha e sair impune.

Numa espécie de Big Brother digital, a empresa oferece softwares de conformidade, risco e crimes financeiros, que usam aprendizado de máquina para ajudar empregadores a detectar comportamento atípico de funcionários.

"Com funcionários em transição para o trabalho remoto, houve aumento dos tipos de comunicação a serem monitorados e dos tipos de comportamento que poderiam gerar preocupações", disse Chris Wooten, vice-presidente executivo da empresa, por email à Bloomberg.

"Vimos canais de comunicação se expandirem em relação ao que eram tradicionalmente apenas telefones de escritório e torres de trading, para incluir celulares pessoais e plataformas de comunicações unificadas, como o Microsoft Teams", acrescentou.

O Robert W. Baird & Co., banco de investimentos norte-americano, por exemplo, tem mantido seus processos de supervisão, continuando a monitorar transações e exigindo que funcionários entrem em licenças de conformidade obrigatórias, disse Jack Miller, responsável pelor trading da empresa.

* Com agência Bloomberg