Brasileiros em lista de inovadores do MIT vão do veganismo à genômica
O Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) publica desde 2013 uma lista dos 35 jovens da América Latina mais inovadores com menos de 35 anos. A edição mais recente da "Innovators Under 35 Latam 2020" foi divulgada em dezembro e trouxe cinco nomes brasileiros.
As ideias do grupo envolvem produtos alternativos ao ovo em comidas veganas, uma plataforma para agricultores sem conexão à internet, fabricação de tecidos artificiais em laboratório, um sistema de teleconsulta e testes genéticos mais baratos.
Completam a lista representantes da Colômbia, Peru e México (cinco cada), Chile e Argentina (três), Equador e Venezuela (dois), Uruguai, Guatemala, República Dominicana, Panamá e Bolívia (um cada).
Renato Borges, 28 anos
O engenheiro Renato Borges é fundador da Agrointeli, uma inteligência artificial que conecta agricultores às suas lavouras.
Filhos de produtores rurais, o engenheiro conheceu de perto as dificuldades que uma fazenda pode enfrentar: secas, inundações, pragas, aumento do preço dos insumos e queda nos preços de vendas, dentre outros. Seu sistema centraliza, integra e organiza diferentes fontes de dados em um só lugar, ajudando agricultores na tomada de decisões no campo.
Os algoritmos da Agrointeli reúnem informações de imagens aéreas, sensores e máquinas para dar recomendações a quem usa o aplicativo da startup. A proposta é ajudar os produtores rurais a economizar dinheiro, tempo e a praticar uma agricultura mais sustentável.
Outro fator que ajuda os agricultores é o fato de o Agrointeli não necessitar de internet. "70% das fazendas do Brasil não têm conexão por falta de investimento", lamenta o jovem à revista do MIT.
A plataforma atualmente monitora mais de 300 mil hectares todos os dias, mas pretende se tornar a principal referência do setor na América Latina para pequenos e médios produtores.
Amanda Pinto, 29 anos
O impacto ambiental causado pela comida que chega até a nossa mesa é uma das preocupações da administradora Amanda Pinto. Segundo ela, 79% da produção agrícola brasileira é destinada ao consumo animal, que depois é consumida por humanos.
"Se não mudarmos nossos hábitos alimentares, teremos que aumentar a produção de carne em torno de 70%. Isso é insustentável. Poderíamos alimentar mais pessoas se não tivéssemos o hábito de comer tantos produtos carnívoros", diz Amanda à revista do MIT.
Para incentivar e fazer parte dessa mudança, a administradora fundou a N.ovo, uma startup que desenvolve produtos de origem vegetal para substituir o ovo em todos os tipos de receita.
Entre os produtos está um pó que basta adicionar água para substituir o ovo na hora de cozinhar, além de três maioneses veganas e sem glúten. Atualmente, a empresa trabalha em um líquido vegetal para fazer ovos mexidos.
A startup é uma spin-off do Grupo Mantiqueira, maior produtora de ovos da América do Sul, fundada por Leandro Pinto, pai de Amanda. "Quero um mundo melhor e manter a minha família nos negócios. Se inovarmos aqui, podemos ir mais longe e fazer com que as coisas melhorem", diz a empreendedora.
O projeto foi escolhido pelo MIT porque, ao contrário de muitos alimentos veganos, o produto da N.ovo é similar ao alimento de origem animal, fazendo que os consumidores o prefiram.
Fred Rabelo, 30 anos
O engenheiro Fred Rabelo fundou a Ti.Saúde, um sistema capaz de conectar pacientes a profissionais de saúde de forma remota. A Ti.Saúde permite agendar e fazer teleconsultas de forma segura e a monitorar pacientes a distância. Durante a pandemia da covid-19, a plataforma atendeu mais de 10 mil pessoas no Brasil que não tinham acesso a médicos.
Atualmente, o sistema criado por Rabelo é usado por mais de 3,4 mil médicos e tem facilitado a implantação da telemedicina em todo o país. Além de viabilizar consultas virtuais, a Ti.Saúde permite a interação do médico e paciente via WhatsApp, SMS e telefone, facilitando o acompanhamento de pacientes crônicos ou de risco. A plataforma está disponível tanto na rede pública quanto na rede privada.
Rabelo pretende expandir seus negócios por toda a América Latina depois de traduzir o sistema para o espanhol, e quer investir em inteligência artificial para fazer a triagem dos pacientes de forma automatizada. Por enquanto, o Ti.Saúde está disponível em três países lusófonos: Brasil, Moçambique e Angola.
Gabriel Liguori, 31 anos
O médico Gabriel Liguori é um dos fundadores da TissueLabs, uma startup que fabrica tecidos artificiais em laboratório. As bioimpressoras 3D e outros equipamentos patenteados pela empresa permitem criar tecidos com células vivas.
Depois de criados, os tecidos podem ser usados para testar medicamentos em fase de desenvolvimento ou encontrar os melhores tratamentos para cada indivíduo. De acordo com Liguori, mais de 40 laboratórios e 200 cientistas trabalham com a sua startup.
Uma das vantagens da TissueLabs é que suas bioimpressoras têm o menor custo do mercado, permitindo que países menos desenvolvidos também tenham acesso a elas.
Os tecidos artificiais eliminam a necessidade de testes em animais, algo que vem sendo pedido pela sociedade não somente na área da biomedicina.
Atualmente, a startup é capaz de criar tecidos simples como válvulas cardíacas e vasos sanguíneos. Em 15 anos, a empresa espera ser capaz de fabricar órgãos complexos como corações artificiais e também tecidos que permitam a regeneração celular.
Segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplantes), entre abril e junho do ano passado ocorreram menos da metade dos transplantes de órgãos e tecidos do primeiro trimestre de 2020. Isso levou a um crescimento de 44,5% nas mortes de pacientes cadastrados na fila de espera entre os dois períodos no Brasil.
Ricardo di Lazzaro, 34 anos
O médico e farmacêutico bioquímico Ricardo di Lazzaro atua no ramo da genômica. Por meio de sua startup Genera, ele criou um dos testes genéticos mais baratos do mercado.
Especializado em medicina genômica pessoal, Lazzaro busca difundir os testes para que as pessoas possam descobrir predisposições a doenças, respostas a medicamentos e tomar decisões tendo como base dados objetivos do DNA.
Os testes custam de R$ 199 a R$ 799 e sequenciam todo o genoma, revelando até informações sobre os ancestrais. Com essas informações, a Genera consegue personalizar medicamentos de acordo com a realidade de cada pessoa.
Assim como a maioria das análises de genoma, qualquer pessoa pode comprar o kit e fazer o teste da saliva em casa, antes de enviá-lo para análise no laboratório. A Genera já realizou mais de 100 mil mapeamentos genéticos em todo o Brasil e agora busca expandir para a América Latina.
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