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Sintomas da covid-19 se espalharam pelas redes sociais antes da pandemia

Getty Images
Imagem: Getty Images

Vinícius de Oliveira

Colaboração para Tilt

27/01/2021 14h01

Sem tempo, irmão

  • Pesquisadores analisaram tuítes de 570 mil pessoas em sete países da Europa
  • Estudo mostrou aumento de usuários falando de "pneumonia" e "tosse seca" antes da pandemia
  • Em países como a Itália, relatos nas redes sociais anteciparam casos oficiais em mais de 45 dias
  • Cientistas sugerem monitorar internet para antecipar onde surgirão novos surtos da doença

Que as redes sociais como Twitter, Facebook e Instagram são ferramentas poderosas de comunicação todo mundo sabe. Mas cientistas estão descobrindo novas maneiras de usar estes canais para monitorar surtos de doenças respiratórias, por exemplo. Um estudo publicado na revista "Scientific Reports" mostrou que houve um aumento de pessoas relatando sintomas da covid-19 semanas antes dos órgãos oficiais detectarem sua existência.

"Nosso estudo sugere que as redes sociais podem ser uma poderosa ferramenta de vigilância epidemiológica. Elas podem ajudar a identificar os primeiros sinais de uma doença, antes que ela se espalhe, e também a monitorar seu avanço", disse o economista Massimo Riccaboni, da IMT Lucca, uma escola de estudos avançados na Itália. O estudo foi coordenado pela estatística Milena Lopreite, da Universidade de Calabria.

A pesquisa coletou informações de mais de 890 mil tuítes de 570 mil usuários diferentes de sete países da Europa. Os cientistas analisaram quantas vezes a palavra "pneumonia" apareceu no último inverno europeu (que foi de dezembro de 2019 a março de 2020) e compararam com os anos anteriores até 2014. Após excluírem links de notícias, o estudo encontrou um aumento significante de pessoas falando sobre pneumonia nesse período em relação aos invernos anteriores.

Os pesquisadores fizeram o mesmo trabalho comparativo com outros sintomas da covid-19, como "tosse seca", e encontraram um padrão similar. Na Itália, um dos países mais afetados pela pandemia na Europa, os tuítes mostraram sinais da circulação do coronavírus na primeira semana de 2020 —muito antes do primeiro caso no país ter sido confirmado, em 20 de fevereiro. O mesmo aconteceu na França.

Já na Espanha, Polônia e Reino Unido, as redes sociais anteciparam a chegada da pandemia em pelo menos duas semanas. De acordo com os pesquisadores, isto é um sinal de como os órgãos oficiais podem demorar demais para detectar uma doença. Além disso, autoridades poderiam usar as plataformas para obter informações em tempo real em regiões com alto índice de transmissão.

Por isso, os pesquisadores sugerem o uso das redes sociais para rastrear aumentos de casos da covid-19 ou outras doenças já conhecidas. No entanto, Lopreite e seus colegas ressaltam que esta estratégia não servirá para detectar doenças novas, já que é preciso conhecer um pouco dela —como os principais sintomas, por exemplo— para saber o que procurar na internet.

"A pesquisa mostra a urgência de criar um sistema de vigilância digital integrado, no qual as redes sociais ajudem na geolocalização das cadeias de contágio que, de outras formas, podem passar despercebidas", diz Lopreite. Ela faz a ressalva de que qualquer centro de monitoramento criado para este fim seja independente e siga as leis de proteção de dados pessoais, já que as mídias sociais também foram palco para desinformação e notícias falsas na pandemia.