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Fala de Bolsonaro pró-vacina reduziu tuítes contra imunização, diz estudo

Estúdio Rebimboca/UOL
Imagem: Estúdio Rebimboca/UOL

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

09/02/2021 10h00

Uma comunicação clara vinda do governo ajuda no combate à pandemia. Quem disse isso foi a OMS (Organização Mundial da Saúde), mas um estudo recente baseado em tuítes confirma como uma mudança de postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) reduziu em 85% mensagens antivacina na rede. O levantamento foi feito pela Zygon, adtech especializada em soluções de mídia programática.

Em diversas ocasiões, o presidente disse que não se vacinaria e que, se dependesse dele, a imunização não seria obrigatória. No dia 27 de janeiro de 2021, a situação mudou: Bolsonaro defendeu a vacinação em massa como solução para retomada das atividades. Isso resultou numa queda no volume de menções antivacina no Twitter.

"Esse dado reflete a origem político-ideológica da oposição ao antígeno e o tamanho do papel que o silêncio ou a fala do presidente tem na disseminação desses argumentos", diz o estudo, que coletou informações de 13,4 milhões de tuítes e 103,3 milhões de interações sobre movimentos antivacina durante 121 dias.

Cabe ressaltar que o Twitter é apenas uma das redes sociais, e o levantamento não contempla os movimentos no Facebook ou Instagram, por exemplo, que costumam ter um volume muito maior de interações e usuários.

Bolsonaro x Doria

De acordo com o estudo, os argumentos antivacina utilizados no Twitter "são de fundo ideológicos e não científicos ou morais, já que o principal argumento para se opor à vacinação é o debate em torno da sua origem e obrigatoriedade".

Para se ter ideia, apenas 13% das mensagens consideradas como antivacina mencionam um imunizante específico. "Portanto, a maior parte do debate não está pautada em questões ligadas a vacinas específicas, mas sim a posicionamentos mais gerais", diz o texto.

A percepção de que os movimentos antivacinas estão relacionados à disputa política é confirmada pelo fato de as menções ao presidente Jair Bolsonaro e ao governador do estado de São Paulo, João Doria, serem 10 vezes mais comuns que as direcionadas a instituições como a Anvisa e o STF (Supremo Tribunal Federal).

Outro dado que aponta para disputa política é relacionado a obrigatoriedade da vacinação, mencionada em 8 a cada 10 postagens. "Assuntos como a eficácia das vacinas, o tempo de desenvolvimento delas ou seus efeitos colaterais aparecem de forma bastante pontual no debate".

Vacinas mais buscadas

A Coronavac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, domina o debate sobre imunizantes no Twitter. De todas as vezes que aparecem nomes de vacinas na plataforma, 82,6% das menções se referem à Coronavac.

Na comparação, a vacina Oxford/Astrazeneca, que também já teve o uso emergencial aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e começou a ser aplicada no Brasil, foi mencionada 11,3% das vezes, enquanto a da Pfizer foi 6,19%. A Sputinik V, da Rússia, que já entrou com pedido para aplicação no Brasil, foi mencionada em 0,5% das vezes.

"Em seus perfis nas redes sociais, diferentes usuários se opõem à vacinação no geral e, mais especificamente, ao uso da Coronavac, imunizante de origem chinesa, produzido no Brasil no Instituto Butantan, ligado ao Governo de São Paulo", diz o estudo.

Vacina do Butantan

O movimento nas redes sociais mudou desde que a Coronavac começou a se tornar a vacina mais próxima de ser aprovada no Brasil. Segundo o estudo, até outubro, a vacina da Sinovac era vista pelos usuários do Twitter como "a vacina chinesa".

Desde então, o entendimento do público com relação à vacina começou a mudar, com o imunizante passando a ser classificada como "a vacina do Butantan". Em janeiro deste ano, as menções a Coronavac como "a vacina do Butantan" foi de 750%, enquanto a menção a "vacina da China" foi 53% menor.

Picos de menção

Segundo o estudo da Zygon, o volume de publicações sobre vacinas contra covid-19 cresceu especialmente em três momentos.

  • 19 de novembro de 2020 - quando houve cancelamento da compra da Coronavac pelo governo federal - após reunião na qual o ministro da saúde, Eduardo Pazuello, havia confirmado a compra a governadores.
  • 17 de dezembro de 2020 - quando o STF (Supremo Tribunal Federal) julgou a constitucionalidade da exigência da vacinação.
  • 22 de janeiro de 2021 - quando a Anvisa aprovou o uso emergencial da Coronavac, gerando um volume 533% maior de menções, se comparado com a média do período.