"Apagão" no Facebook: Austrália repudia "ameaças" e convoca Zuckerberg
Sem tempo, irmão
- Governo da Austrália chamou Zuckerberg para "sentar à mesa" e negociar
- Primeiro-ministro reagiu após Facebook banir links de veículos jornalísticos
- Ação da rede social, em resposta a projeto de lei, causou "apagão" de notícias
O apagão de notícias que o Facebook promoveu ontem (18) ao retirar links de veículos de mídia australianos da rede social provocou revolta generalizada. Depois de escrever que a atitude da empresa foi "tão arrogantes quanto decepcionante", o primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, convocou uma entrevista coletiva nesta sexta-feira (19) para dizer que não vai se curvar às "ameaças". Ele ressaltou que já conversou com Mark Zuckerberg, CEO e fundador do Facebook, e apelou que "retorne à mesa [de negociações]"
A decisão do Facebook foi uma resposta à chamada "News Media Bargaining Code", lei australiana que deve ser votada na próxima segunda-feira (22) e determina que grandes plataformas de tecnologia paguem por linkar conteúdos jornalísticos.
O bloqueio da rede social a links de notícias teve um efeito colateral sério: além de deixar milhares de pessoas sem jornalismo de qualidade no feed, derrubou sites governamentais com serviços de saúde, meteorologia e bombeiros. Isso foi visto como um sinal de que não é fácil determinar o que é notícia e de que a desinformação e teorias da conspiração podem dominar a plataforma em meio a uma pandemia.
Segundo o ministro de finanças da Austrália, Josh Frydenberg, as negociações com o Zuckerberg já estão acontecendo e devem continuar durante o fim de semana. "Falamos sobre assuntos que persistem e concordamos que nossas respectivas equipes devem analisá-los imediatamente", postou ele no Twitter.
A postura do governo é de que o Facebook confirmou as preocupações que um número cada vez maior de países sobre o comportamento "tóxico" das grandes empresas de tecnologia.
Pelo lado do Facebook, o recado é de que não vai facilitar para os países que querem regulamentar o setor digital. A empresa alega que as notícias representam menos de 4% do conteúdo que as pessoas veem na rede social e que os publishers já estão em vantagem, porque recebem bilhões de referências gratuitas ao serem linkados em postagens.
O mundo todo está de olho nessa briga, que está pautando o debate em torno do monopólio das big techs, do futuro do jornalismo e do acesso à informação de qualidade.
"Ao cortar o acesso dos meios de comunicação aos seus serviços, vemos a verdadeira face do Facebook", criticou o ex-deputado Jean-Marie Cavada, diretor do IDFrights, instituto que defende os direitos fundamentais no meio digital, à AFP. "Uma forma de imperialismo verde, verde como a cor do dólar."
Para os europeus, "este é um sinal", disse Joëlle Toledano, economista e autora de um livro sobre o assunto. Ela considera que as plataformas "só podem ser reguladas a nível europeu", um mercado demasiado importante para correr o risco de perder.
Os efeitos do corte de links do Facebook na Austrália foram sentidos já no primeiro dia. Segundo a ferramenta de medição de tráfego Chartbeat, houve redução de mais de 20% de acessos a sites de mídia australiana. Neste curto período de apenas um dia, os internautas não trocaram o Facebook pelo Google ou outra forma de acesso.
"Trata-se de uma empresa que quase detém o monopólio do acesso à informação e, na verdade, trata-se de marcar o seu território", afirmou à AFP o professor de ciências da informação da Universidade de Nantes Olivier Ertzschield.
Segundo ele, o Facebook "exerce soberania de uso" na esfera digital e, por isso, não vai desistir tão cedo.
O Google, que também havia ameaçado suspender sua ferramenta de busca na Austrália, já recuou e fechou um acordo para pagar "quantias significativas" pelas notícias do grupo de imprensa News Corp., do empresário Rupert Murdoch. (Com agências internacionais)
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