Em "DR" inédita, EUA e China conversam para evitar choque de naves em Marte
Sem tempo, irmão
- CNSA e Nasa trocam dados desde janeiro para evitar colisões
- Fato é inédito porque lei dos EUA proíbe o contato entre duas agências
- Exceções são permitidas, desde que haja garantia de segurança
- Trânsito ao redor de Marte anda pesado e já tem lixo espacial por lá
China e Estados Unidos abriram uma DR, a famosa discussão de relacionamento —quem nunca passou por isso com amigos ou namorados?— para garantir a segurança das suas naves enviadas à órbita de Marte no ano passado, diante das preocupações de possíveis colisões. Além dos dois países, os Emirados Árabes Unidos enviaram uma missão ao planeta vermelho na época.
A CNSA (Administração Espacial Nacional da China, na sigla em inglês) disse nesta quarta-feira (31) que teve "reuniões e comunicações de trabalho entre janeiro e março de 2021" com a Nasa, agência espacial norte-americana. O objetivo seria "trocar dados de efemérides para assegurar a segurança de voo das naves em Marte".
Considerando os históricos desacordos entre as duas potências, essa cooperação espacial é um raro evento. De acordo com a lei dos EUA, quase todos os contatos entre a Nasa e a CNSA são proibidos, devido ao temor dos norte-americanos de que sua tecnologia espacial seja roubada pelos rivais, além da natureza militar e secreta do programa espacial chinês. Apenas algumas exceções são permitidas, quando há garantia de proteção das informações.
"Para garantir a segurança de nossas respectivas missões, a Nasa está coordenando com os Emirados Árabes Unidos, a Agência Espacial Europeia (ESA), a Organização de Pesquisa Espacial da Índia (ISRO) e a CNSA, todos com espaçonaves em órbita de Marte, para trocar informações e a garantir a segurança", disse a agência norte-americana, em um comunicado. Dados orbitais teriam sido solicitados à China para cálculos de risco de colisão.
"Engarrafamento" em Marte?
Em fevereiro deste ano, após meses de viagem três novas missões chegaram ao planeta: Tianwen-1 da China; Hope, dos Emirados Árabes; e Mars 2020 da Nasa, com o rover Perseverance explorando a cratera marciana Jezero, de 40 km de diâmetro e 500 m de profundidade —há bilhões de anos, ela foi um lago.
Se já existiu vida no planeta, mesmo que apenas atividade microbiana, este é o local com mais chances de guardar evidências e o Perseverance é equipado para detectá-las diretamente. O rover Curiosity, que a Nasa lançou em 2011, também está em operação, na cratera Gale.
Já a nave chinesa é composta por um orbitador (que está girando em torno do planeta, captando imagens de alta definição), um módulo para pouso e também um rover —que deve "aterrissar" em maio, na região chamada Utopia Planitia, a maior cratera de impacto do Sistema Solar, com diâmetro aproximado de 3300 km, causada por algum enorme asteroide.
Ele não é preparado para coletar amostras ou detectar vida, mas vai obter novas informações sobre o planeta, como camadas geológicas, depósitos de sal, evidências de gelo e de um suposto lago subterrâneo, além de possíveis indicadores de atividade biológica microbiana.
A mais simples das três missões é a Hope. É uma sonda em órbita para, principalmente, estudar a atmosfera e captar imagens de alta resolução do disco inteiro do planeta. Três instrumentos estão observando, entre outros, como os átomos neutros de hidrogênio e oxigênio —remanescentes da água que um dia teria sido abundante no planeta— escapam para o espaço. Não haverá nenhuma tentativa de pouso.
Assim, o trânsito em Marte está bem pesado. Há seis mais orbitadores em operação: Mars Odyssey, MAVEN e Mars Reconnaissance Orbiter, da Nasa; Mars Express e ExoMars Trace Gas Orbiter, da ESA (a agência espacial europeia); Mars Orbiter Mission, da ISRO (Índia); e outros oito mais antigos dos Estados Unidos e da Rússia, que perderam comunicação com a Terra mas continuam por lá como lixo espacial.
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