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Denúncias de trabalho mostram falência do sonho de trabalho nas big techs

O presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, teria usado engajamento falso no Facebook, segundo denúncia - Alex Peña/LatinContent via Getty Images
O presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, teria usado engajamento falso no Facebook, segundo denúncia Imagem: Alex Peña/LatinContent via Getty Images

Felipe Oliveira

Colaboração para Tilt

12/04/2021 17h25Atualizada em 12/04/2021 20h22

Sem tempo, irmão

  • Denúncias recentes desmitificam sonho de trabalhar no Facebook, Google e Amazon
  • Funcionária expôs no "Guardian" tratamento diferenciado do Facebook sobre política nos países
  • No "New York Times", ex-Google diz que não se sentiu protegida após relatar abuso na empresa
  • Trabalhadores da Amazon não conseguiram votação suficiente para abrir sindicato

Trabalhar em uma das gigantes de tecnologia do mundo, como Facebook, Google e Amazon, por muito tempo foi o sonho de várias pessoas por conta dos altos salários e uma dita cultura de trabalho mais aberta e cheia de benefícios. Na semana passada, dois casos envolvendo trabalhadores do Facebook e Google e a tentativa fracassada de se criar um sindicato na Amazon reforçaram os relatos que expuseram fragilidades e abusos por trás desse sonho nos últimos anos.

Uma reportagem do jornal britânico The Guardian desta segunda (12) traz o depoimento de Sophie Zhang, ex-cientista de dados do Facebook demitida por "mau comportamento" após descobrir em 2018 uma alta quantidade de engajamentos falsos a postagens envolvendo política. O exemplo mais flagrante foi na eleição de Honduras, na qual o atual presidente, Juan Orlando Hernández, estava recebendo 90% de todo o engajamento cívico falso no país.

A cientista de dados descobriu evidências de que a equipe de Hernández estava impulsionando sua página com centenas de milhares de curtidas falsas. Um dos administradores da página oficial do presidente hondurenho também administrava centenas de outras páginas que foram configuradas para se parecerem com perfis de usuário.

Além de Honduras, a cientista de dados alertou o Facebook sobre redes de contas ou páginas falsas que distorciam discursos políticos na Albânia, México, Argentina, Itália, Filipinas, Afeganistão, Coreia do Sul, Bolívia, Equador, Iraque, Tunísia, Turquia, Taiwan, Paraguai, El Salvador, Índia, República Dominicana, Indonésia, Ucrânia, Polônia e Mongólia. Segundo ela, o Facebook não dava o mesmo tratamento de exclusão de contas a alguns desses países como fez com apoiadores de Donald Trump, nos EUA.

O Facebook teria agido rapidamente na Coréia do Sul, Taiwan, Ucrânia, Itália e Polônia, enquanto no Afeganistão, Argentina, México e Honduras foram mais de 100 dias para que a plataforma tomasse alguma providência.

A Tilt, o Facebook disse em nota que trabalhou "intensamente" contra os abusos em todo o mundo, citando como exemplos a derrubada de mais de 100 redes de comportamento inautêntico coordenado; cerca de metade delas eram "redes domésticas que operavam em países ao redor do mundo, incluindo aqueles na América Latina, Oriente Médio e Norte da África, e na região da Ásia-Pacífico".

Assédio no Google

Já o jornal americano "The New York Times" trouxe um depoimento de uma ex-funcionária do Google sobre as dificuldades de se fazer uma denúncia de assédio na empresa. Dias depois, cerca de mil funcionários assinaram uma carta, publicada online (em inglês), na qual pediram à empresa matriz Alphabet mais proteção para quem denuncia abuso sexual no local de trabalho.

Intitulado "Depois de Trabalhar no Google, Nunca Mais me Deixarei Amar um Emprego", o texto da ex-engenheira de software do Google Emi Nietfled diz que os benefícios e a possibilidade de promoção no Google a fizeram inicialmente deixar de lado o assédio sofrido pelo chefe direto, que a chamava de "linda e deslumbrante", mesmo depois de ela pedir para que ele parasse.

Depois de um tempo, diz ter concordado que ele a chamasse de "minha rainha". Em outras situações, chegou a usar reuniões individuais com ela para lhe pedir que arranjasse um encontro com uma amiga alta e loira, alguém que se parecesse com ela.

Após meses de investigação, o Google descobriu que o líder de Emi violou o Código de Conduta e a política contra assédio, mas continuou trabalhando ao lado dela. O gerente direto da funcionária afirmou que o RH não o obrigaria a mudar de mesa, trabalhar em casa ou sair de licença. Após alguns meses, a mulher decidiu deixar o Google.

Em nota, o Google afirmou a Tilt que a empresa está "profundamente ciente da importância desse assunto" e que o Google trabalha para "apoiar e proteger as pessoas que informam preocupações, investigamos a fundo todas as denúncias e tomamos medidas firmes contra as acusações fundamentadas".

Sem sindicato na Amazon

As denúncias nas big techs fizeram crescer a possibilidade de se sindicalizar suas forças de trabalho. Foi o caso da Amazon, que viu um levante de seus funcionários nos EUA e Reino Unido iniciado por um processo de uma ex-funcionária por condições precárias de trabalho. Já foi falado que os trabalhadores fazem xixi em garrafas para ter tempo de cumprir seus afazeres.

Na sexta-feira (9), trabalhadores da empresa decidiram não criar o primeiro sindicato da Amazon em Bressemer, no Alabama (EUA). Cerca de 55% dos quase 6.000 trabalhadores do centro de distribuição votaram; o "não" teve 1.798 votos, contra 738 em apoio à sindicalização.

Com a derrota, surgiram denúncias de que a empresa interferiu no resultado —o sindicato disse que vai contestar o resultado. Dos 5.867 trabalhadores elegíveis para votar, cerca de 3 mil votaram.

Em um comunicado enviado a Tilt, a Amazon negou ter intimidado trabalhadores para interferir na votação. "Nossos funcionários ouviram muito mais mensagens anti-Amazon do sindicato, dos legisladores e dos meios de comunicação do que de nós. E a Amazon não ganhou —nossos funcionários optaram por votar contra a adesão a um sindicato", diz o texto.