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Cientistas mantêm vivos embriões de macaco com células humanas por 20 dias

Estudo com cientistas chineses e americanos conseguiu manter três embriões macaco-humanos vivos por 20 dias - Reinaldo Canato/UOL
Estudo com cientistas chineses e americanos conseguiu manter três embriões macaco-humanos vivos por 20 dias Imagem: Reinaldo Canato/UOL

Thiago Varella

Colaboração para Tilt

15/04/2021 15h57Atualizada em 15/04/2021 16h14

Cientistas chineses e americanos publicaram nesta quinta-feira (15) um estudo na revista "Cell" onde afirmam ter conseguido manter vivos por 20 dias embriões com células humanas e de macacos, após injetarem células-tronco humanas em embriões de primatas.

Segundo a equipe, esses embriões, conhecidos como quimeras, poderiam ser usados para a construção de modelos para o estudo da biologia humana e também de doenças.

"Como não podemos realizar certos tipos de experimentos em humanos, é essencial que tenhamos modelos melhores para estudar e compreender com mais precisão a biologia e as doenças humanas", afirmou, em nota, Juan Carlos Izpisua Belmonte, especialista em células-tronco do Salk Institute for Biological Studies, na Califórnia, e um dos autores do estudo.

"Um objetivo importante da biologia experimental é o desenvolvimento de sistemas modelo que permitam o estudo de doenças humanas em condições in vivo [que ocorre em um organismo ou tecido vivo]", completou.

À revista "Nature", Izpisua Belmonte diz que a equipe não pretende implantar embriões híbridos em macacos, mas quer entender melhor como células de diferentes espécies se comunicam entre si no embrião durante a fase inicial de crescimento.

No estudo recém-publicado, a equipe injetou até 25 células-tronco pluripotentes, com capacidade de criar tecidos embrionários e extra-embrionários, em embriões de macacos, seis dias depois da fertilização.

Depois de um dia, 132 embriões possuíam células humanas. Após dez dias, 103 embriões ainda cresciam. Passados 19 dias, apenas três embriões ainda estavam vivos.

Os cientistas perceberam que os embriões que se mantiveram viáveis por mais tempo eram os que mantiveram grandes concentrações de células humanas.

Segundo os pesquisadores, no futuro, embriões quiméricos também podem ser usados para cultivar células, tecidos ou órgãos transplantáveis.

O experimento suscitou diversas discussões na comunidade acadêmica. Junto ao artigo, foi também publicado um editorial em que os cientistas disseram que consultaram bioeticistas externos para evitar problemas éticos.

O estudo confirmou rumores relatados no jornal espanhol "El País" em 2019, de que uma equipe de pesquisadores liderada por Belmonte havia produzido quimeras com células de macacos e de humanos.

Na ocasião, Robin Lovell-Badge, biólogo do Instituto Francis Crick, em Londres, disse não estar preocupado com a ética do experimento, já que a equipe só havia produzido apenas um punhado de células. Mas para ele, haverá problemas maiores no futuro se os embriões se desenvolverem mais.

Em 2019, cientistas disseram ter usado com sucesso células-tronco de camundongos para desenvolver rins em embriões de ratos.

No final do ano passado, outra pesquisa chegou a experimentar quimeras macaco-humano e o tema ainda deve suscitar muita polêmica. Sobre a nova pesquisa, o professor Julian Savulescu, diretor do Centro Oxford Uehiro para Práticas Éticas, disse ao jornal inglês "The Guardian" que ela abriu uma caixa de pandora para quimeras.

Para ele, é questão de tempo que esse tipo de embrião com células humanas e não-humanas consiga ser desenvolvido com sucesso. Savulescu frisou que é essencial, nesse tipo de pesquisa, que as capacidades mentais e de vida sejam devidamente avaliadas, já que, o que parece um animal não humano pode ser mentalmente próximo de um humano.