Ericsson elogia condições do leilão do 5G, mas tem dúvidas se vão vingar
O edital do leilão do 5G trouxe diversas condições para que as operadoras adquiram as frequências da quinta geração da telefonia móvel —por exemplo, mais cobertura de áreas sem conexão no Brasil. Mas, para Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson para a região sul da América Latina, essas contrapartidas podem não acontecer como o planejado.
O motivo para isso é o ineditismo da situação. Nos leilões do 3G (2007) e 4G (2014), o valor arrecadado ia para os cofres do governo. Para o 5G, optou-se por um leilão não-arrecadatório, isto é, cada operadora terá de direcionar a verba para adquirir uma frequência para programas que melhorarão a infraestrutura de telecomunicações em locais mais isolados, como fronteiras, rodovias e áreas da região Norte.
Ricotta acredita que o edital vai passar por mudanças importantes, para ajustá-lo ao modelo não-arrecadatório e às necessidades de outros setores envolvidos.
"Sempre que soltamos as regras [dos leilões de telefonia], tem muita conta que é feita de forma diferente, para o banco, pelo investidor, pela Anatel [Agência Nacional de Telecomunicações]. Em um leilão desse tamanho, o maior da história do nosso país, é normal termos diferença de valores", diz.
Isso quer dizer que, se as exigências forem muito custosas para as operadoras (por exemplo, a necessidade de trocar a infraestrutura existente por conta de algum padrão escolhido pelo governo), sobrará menos dinheiro para ser destinado às melhorias públicas.
Por outro lado, o executivo defende a posição do governo por um leilão não-arrecadatório. "Ele beneficia a população. Os valores [das frequências 5G do leilão] serão transformados em obrigações que vão cobrir mais cidades, mais hospitais, mais escolas. É muito bom, terá impacto na saúde e na educação", explica.
No momento, o edital está sendo analisado pelo TCU (Tribunal de Contas da União), que recebeu o prazo de 150 dias para analisar os gastos e investimentos necessários para cobrir tudo que está previsto no edital. Se tudo correr bem, o documento volta para a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Do contrário, pode sofrer alterações —incluindo aí as contrapartidas do governo pedidas às operadoras.
A sueca Ericsson vai competir pelo fornecimento de equipamentos para as operadoras que montarão as redes 5G no Brasil. Na concorrência, há ainda a finlandesa Nokia e a chinesa Huawei —que após insinuações de espionagem por parte dos EUA e repercutidas no nosso país, só deverá ser impedida de fornecer seus equipamentos a uma "rede privada do governo".
O presidente da Anatel, Leonardo Euler, disse recentemente em entrevista ao "Poder em Foco", do SBT, que espera que o leilão ocorra entre junho e agosto.
Fábricas em ação
Independentemente disso, a Ericsson já se prepara para fornecer equipamentos ao mercado local e anunciou no mês passado que sua fábrica em São José dos Campos (a 88 km de São Paulo) começou a produzir antenas 5G, a primeira da América do Sul. Nela, especificamente serão feitas ERBs (estações rádio-base, nome técnico das antenas), essenciais para funcionamento das redes móveis. A ideia é fornecer itens também para os países vizinhos —estima-se que 60% da produção ficará aqui, enquanto o restante será exportado.
Ao todo, a companhia diz que vai investir R$ 1 bilhão até 2024 para fabricação e pesquisa voltadas para o 5G no Brasil.
Além de antenas e sistemas para redes 5G, a companhia quer oferecer soluções para teles em FWA (Acesso fixo sem Fio, da sigla em inglês), isto é, internet rápida sem fio. O cliente terá uma "caixinha" em casa conectada ao 5G que terá velocidade de conexão de fibra ótica. A promessa é de uma conexão estável, rápida (acima dos 100 Mbps, megabits por segundo) e com baixo tempo de resposta.
Apesar de estarmos só no início da implementação do 5G, a empresa aposta que o assunto deve guiar sua estratégia pelo menos por mais uma década. "O 5G é uma tecnologia com longevidade maior que suas antecessoras. Então, estamos falando de um ciclo de vida de 12 anos a 24 anos. Já estudamos o 6G, mas o 5G vai estar presente ainda por muitos anos", diz Ricotta.
Indústria sentirá maior impacto
Apesar das vantagens evidentes para o consumidor, Ricotta explica que o grande impacto da tecnologia 5G será na indústria, na saúde e na educação, onde haverá "uma quebra de paradigma".
"Vai melhorar muito a eficiência de diversos setores da economia e ampliar a gama de aplicações. Um médico poderá fazer uma ultrassonografia a distância usando apenas um joystick, enquanto controla uma luva que fica na barriga da grávida. Então, levar conexão a determinadas localidades significará levar saúde", afirmou. "Imagine isso no Brasil, que é um país, onde a população está superespalhada e há falta de médico e equipamentos."
Mesmo assim, o executivo acredita que as capacidades do 5G ainda estão para serem descobertas, de forma parecida como aconteceu com a geração anterior.
Há dez anos, quando estava começando o 4G, começaram a surgir serviços que até então ninguém tinha pensado, como Uber e Spotify. Então, ainda há muito o que descobrir em aplicações nesse tipo de conexão.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.