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Além de Bolsonaro, YouTube removerá mais vídeos que indiquem cloroquina

A live semanal do presidente Jair Bolsonaro do dia 14 de janeiro deste ano foi removida pelo Youtube - Reprodução/Facebook/Jair Messias Bolsonaro
A live semanal do presidente Jair Bolsonaro do dia 14 de janeiro deste ano foi removida pelo Youtube Imagem: Reprodução/Facebook/Jair Messias Bolsonaro

De Tilt, em São Paulo

21/04/2021 15h10Atualizada em 21/04/2021 16h41

O YouTube diz que vai retirar do ar mais vídeos que incentivem tratamentos ineficazes contra a covid-19, assim como fez com um vídeo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta semana. A derrubada de conteúdos do tipo ocorrerá até mesmo com vídeos publicados antes do início das novas diretrizes. Quem diz é Alana Rizzo, gerente de políticas públicas do YouTube no Brasil, em um comunicado enviado com exclusividade a Tilt: "Sim, a política será aplicada a todos os vídeos na plataforma, inclusive de maneira retroativa."

O YouTube não permite, desde o começo da semana, vídeos que recomendam o uso da hidroxicloroquina ou ivermectina para tratar a covid-19. O vídeo removido do canal de Bolsonaro no YouTube —que dizia que a hidroxicloroquina e a ivermectina "têm dado certo" no tratamento à covid— foi publicado no dia 14 de janeiro deste ano e fazia parte das lives semanais feitas pelo presidente nas redes sociais.

A empresa diz que as contas devem ganhar um "período de carência" para se adaptar às novas regras.

Vídeos postados antes da mudança ou até um mês depois da atualização são removidos do YouTube, mas não geram um aviso (strike) como penalidade. Depois desse período de carência, os criadores que postarem novos vídeos em desacordo com a diretriz passam a receber sanções, por isso, precisam redobrar a atenção
Alana Rizzo, gerente de políticas públicas do YouTube no Brasil

O YouTube removeu a live do dia 14 de janeiro deste ano feita no canal do presidente Jair Bolsonaro  - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
O YouTube removeu a live do dia 14 de janeiro deste ano feita no canal do presidente Jair Bolsonaro
Imagem: Reprodução/YouTube

A hidroxicloroquina tem sido questionada como medicamento para covid há meses pela comunidade médica, e a OMS (Organização Mundial da Saúde) publicou em outubro um amplo estudo sobre a ineficácia da substância como tratamento ao novo coronavírus. Sobre a demora para se posicionar sobre isso, Rizzo disse que o YouTube precisava "de algum tempo para atualizar ou desenvolver uma política nova".

Consultamos especialistas externos e criadores para compreender como nossa política atual precisa ser melhorada, considerando as diferenças regionais para garantir que a alteração proposta seja aplicada de forma justa em todo o mundo. No caso do coronavírus, nossas diretrizes refletem as últimas orientações das autoridades de saúde globais (...) estamos sempre avaliando nossas políticas para entender como podemos alcançar um maior equilíbrio entre dar voz a todos, que é a missão do YouTube, e, ao mesmo tempo, proteger a nossa comunidade

O Twitter é uma plataforma que agiu mais rápido que o YouTube neste sentido. Em janeiro, colocou uma marcação de "informação enganosa e potencialmente prejudicial" em um post do presidente sobre o tratamento precoce da covid-19. Em março, excluiu dois tuítes dele pelo mesmo motivo.

A gerente de políticas públicas do YouTube também reforçou como funciona o sistema de avisos da plataforma para conteúdos inapropriados:

  • Na primeira vez que um canal do YouTube viola as regras, o criador recebe um alerta informando que o dono do canal precisa conhecer melhor as normas do site. Segundo a empresa, 98% dos criadores que recebem um alerta não cometem novas violações;
  • Na segunda vez que um canal viola as regras, ele recebe o primeiro aviso (chamado de strike, em inglês) e ficará impedido de subir vídeos novos por sete dias;
  • Uma terceira violação leva a um segundo aviso, com restrições de novos vídeos por 14 dias;
  • Em caso de uma quarta infração, se as anteriores ocorreram dentro de um período de noventa dias, o canal receberá um aviso final e será removido permanentemente do YouTube.

O que dizia a live do presidente

A live de Bolsonaro de janeiro estava disponível neste link do YouTube. Apesar da remoção na plataforma do Google, o vídeo ainda está disponível no Facebook, rede também usada para compartilhar informações do governo.

Ao longo do vídeo, Bolsonaro questionou o protocolo do Ministério da Saúde feito pelo ex-ministro da Saúde e médico Henrique Mandetta sobre indicar o uso de hidroxicloroquina apenas para casos graves da doença. Para o mandatário, os medicamentos do "kit covid" não "fazem mal", contrariando a indicação de médicos e especialistas sobre os riscos do tratamento sem eficácia científica comprovada.

Quero repetir aqui a história. Guerra do Pacífico. Os soldados chegavam lá feridos, não tinha sangue, não tinha doador. Colocaram o que na veia do cara? Água de côco. E deu certo. (...) É a mesma coisa o tratamento precoce da covid-19 com hidroxicloroquina, ivermectina, a tal da Annita, mais azitromicina, mais vitamina D. E não faz mal isso aí

Bolsonaro também criticou outras medidas indicadas por especialistas para evitar a disseminação da doença, como o isolamento social e o uso de máscaras.

"E alguns falam 'não tem comprovação científica', oh cara, mas não tem efeito colateral. (...) Tem dado certo, a hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina, Anitta, zinco, vitamina D. Procure o seu médico, se ele falar que está errado, procure outro médico", afirmou o presidente, sem trazer nenhum estudo que baseie sua fala.

O uso do "kit covid", que envolve diversos medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da doença provocada pelo coronavírus, como azitromicina, hidroxicloroquina e ivermectina, está prejudicando a saúde de pessoas que utilizam os remédios. Hospitais e médicos têm relatado casos de hepatite medicamentosa, que é quando ocorre uma inflamação ou lesão no fígado por conta do uso de um remédio. O problema é tão grave que pode ser necessário o transplante de fígado ou, em determinadas situações, o paciente pode morrer.