Fim da picada? Como seria se os mosquitos desaparecessem do planeta
Vamos combinar: é difícil achar alguém que goste de mosquito. Eles zumbem, nos picam, se alimentam do nosso sangue e, na pior das hipóteses, nos passam doenças. Portanto é natural que você já tenha desejado ao menos uma vez na vida que esses insetos desapareçam da face da Terra. Afinal, não haveria nenhum problema se eles deixassem de existir, certo?
Bem, a realidade é um pouco diferente. O primeiro ponto a ser esclarecido é que não, os mosquitos (ou pernilongos, muriçocas, carapanãs, como também são chamados em outros lugares do Brasil) não são insetos inúteis.
Tirando espécies exóticas, que vivem em lugares diferentes de sua origem —como Aedes aegypti (Egito) e o Culex quinquefasciatus (EUA)—, que poderiam ser retirados desses lugares sem grandes problemas, mosquitos nativos fazem parte de uma cadeia alimentar e são muito necessários para o equilíbrio ambiental.
Eles são comida de diversos tipos de seres vivos, indo de plantas carnívoras até vertebrados, como anfíbios e peixes. Isso é especialmente importante em biomas mais extremos. No mais frio do mundo, a tundra, em determinada época do ano a população de mosquitos pode ser um importante alimento para as várias espécies de animais que ali habitam.
Mas eles não servem apenas de "petisco": em seu estágio de larva, vivem no meio aquático e atuam como filtradores, por se alimentar de partículas orgânicas que ficam suspensas nas águas dos rios e lagos. E, por fim, ao se alimentarem de néctar e seiva de plantas, eles têm importante função como polinizadores.
Sede de sangue? Nem sempre
Apesar de a primeira associação que fazemos com os mosquitos ser as picadas, nem todos eles se alimentam de sangue. Em sua fase adulta, todos eles têm no néctar e na seiva de plantas a sua principal fonte de energia para sobreviver.
A predileção por sangue ocorre no caso das fêmeas da maioria das espécies, e elas fazem isso para adquirir nutrientes específicos para garantir o desenvolvimento dos seus ovos. Há exceções, como os machos e fêmeas do gênero Toxorhynchites, que se alimentam apenas de seiva e néctar.
Coceira, sim. Doenças, nem sempre
Tem muita gente que experimenta coceiras e inchaços nas regiões das picadas de mosquitos. Isso ocorre porque, enquanto nosso sangue é sugado, esses insetos depositam componentes presentes em sua saliva.
Uma vez que nosso sistema imunológico detecta esses componentes, os mastócitos —que são células do nosso corpo que atuam como "sentinelas"— liberam histamina e outros componentes para combater essa "invasão". A histamina, por sua vez, causa um aumento de fluxo sanguíneo no local da picada, o que provoca a coceira, a vermelhidão e o inchaço —que tendem a ser piores em caso de alergia.
Nem todos os mosquitos atuam como vetores de doenças. Há vários motivos para isso, que vão desde características do ambiente onde eles vivem —como a temperatura, umidade e altitude da região— a densidade populacional desses insetos em um local e as próprias características fisiológicas de certos mosquitos, que não permitem que determinados microorganismos se desenvolvam em seus órgãos.
Atualmente existem mais de 3.500 espécies catalogadas de mosquitos no mundo, mas apenas 200 são consideradas como vetores de algum microrganismo que faz mal a humanos ou outros animais. No Brasil, cerca de 50 dessas espécies são consideradas de interesse médico.
E se eles sumissem?
Se os mosquitos simplesmente sumissem, o que teríamos como consequência é um desequilíbrio ambiental. Determinadas plantas carnívoras, anfíbios e peixes, que têm por hábito se alimentarem desses insetos, ficariam sem alimentos.
Sem as larvas deles se alimentando de matéria orgânica, corpos d'água poderiam ficar mais sujos e a vida de espécies aquáticas poderia ser afetada. O processo de polinização, essencial tanto para a flora do planeta quanto para atividades humanas, como a agricultura, também ficaria comprometido.
Mesmo que a eliminação dos mosquitos não causasse nenhum efeito no nosso planeta, até que ponto seria ético eliminar espécie de plantas, animais e insetos simplesmente porque não gostamos delas? Esse é um ponto a se considerar, especialmente quando lembramos que não somos os únicos habitantes da Terra e que todas as espécies estão lutando pela sobrevivência.
Fonte:
Flávia Virginio, doutora em Ciências e Pesquisadora Científica e Curadora da Coleção Entomológica da Fundação Butantan
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