Para criador do Signal, luta contra WhatsApp mira "fim da internet utópica"
Privacidade é a principal palavra no vocabulário de Moxie Marlinspike. O hacker e empreendedor norte-americano é criador do Signal, um aplicativo de mensagens criptografadas que bombou desde que o WhatsApp anunciou uma integração mais próxima com o Facebook, empresa de histórico complicado no cuidado com dados pessoais.
Em uma rara entrevista, Marlinspike contou a Tilt sobre a ascensão do Signal no começo deste ano. Em janeiro, quando o WhatsApp anunciou sua mudança de política, o Signal foi baixado mais de 7 milhões de vezes —um aumento de 4.200% em relação às semanas anteriores. A explosão de adeptos levou o serviço a ficar instável por 24 horas.
Perguntado se nesse ritmo de crescimento ele achava que o Signal poderia substituir o WhatsApp e se tornar o mensageiro mais usado, respondeu: "Sim, absolutamente".
"Pessoas estão mudando suas fotos de perfil no WhatsApp para dizer 'entre em contato comigo no Signal' e, em seguida, excluindo o aplicativo e mudando para o Signal. Pela primeira vez, um número significativo de pessoas percebeu que havia algo muito simples que elas poderiam fazer além de apenas clicar em 'aceitar', como sempre. E estão fazendo", diz.
Houve um tempo em que as pessoas achavam que o Facebook estava apenas conectando o mundo, ou que o Google estava apenas organizando a informação mundial. A era da internet utópica acabou
Marlinspike, no entanto, admite que o app só furou a bolha dos "viciados em tec" naquele período de janeiro —depois a média semanal de downloads se manteve estável. Mas ele se mantém otimista sobre o futuro de sua plataforma.
As pessoas estão percebendo que empresas como o Facebook não estão construindo coisas para elas, mas sim para os seus dados
O hacker é crítico ferrenho das grandes empresas de tecnologia, especialmente do Facebook, há anos. Após deixar o cargo de engenheiro de segurança do Twitter, fundou em 2013 a Open Whisper Systems, empresa que desenvolveu o protocolo de criptografia do WhatsApp. Esse protocolo, mais tarde, seria transformado em um app independente: o Signal.
Hoje o app é administrado por uma equipe pequena, com cerca de 30 pessoas, financiada pela Fundação Signal, uma organização sem fins lucrativos fundada por Marlinspike e Brian Acton, criador do WhatsApp que deixou o rival em 2017. A fundação é sustentada por doações, num modelo semelhante ao da Wikipédia.
Entre os doadores estão entusiastas da privacidade digital, como Edward Snowden, amigo próximo de Marlinspike e ex-analista da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, que hoje vive refugiado na Rússia por denunciar o gigantesco esquema de vigilância em massa do governo norte-americano. Até o bilionário Elon Musk já promoveu o Signal nas redes sociais.
Além de criptografar mensagens de ponta a ponta, assim como o WhatsApp já faz, o Signal se diz mais "privado" do que o rival por não coletar dados pessoais de quem usa o app, como endereço, tipo de celular e lista de contatos. As únicas informações que passam pelos seus servidores são o número de celular e a data da última vez que a pessoa ficou online.
Entre os planos para o futuro, Marlinspike quer lançar um serviço de armazenamento em nuvem e um servidor de email —tudo com criptografia e privacidade em primeiro lugar— e servir de exemplo.
Uma nova era?
Mas a obsessão de Moxie com privacidade acaba deixando o Signal vulnerável em outros pontos. Por não ter acesso às mensagens trocadas dentro do app, a empresa não pode moderar o conteúdo e impedir que o aplicativo seja usado para espalhar notícias falsas ou para proteger conversas de criminosos.
Uma reportagem de janeiro do site norte-americano The Verge afirma que membros da equipe de desenvolvedores do Signal se preocupam com a falta de uma política clara para lidar com o mau uso do app. Um funcionário que não quis se identificar disse que Moxie já foi questionado sobre isso em reuniões internas, mas que sua resposta é sempre evasiva.
Questionado por Tilt sobre o assunto, Moxie se limitou a ressaltar funções do app, como a que impede o compartilhamento de uma mensagem para mais de cinco pessoas, e voltou a mirar seus comentários contra o arquirrival. "O Signal não é uma empresa de mídia como o Facebook, nós não amplificamos o alcance das mensagens usando algoritmos."
De certa maneira, o Signal é uma extensão da filosofia de vida do seu criador —que, na verdade, se chama Matthew Rosenfeld. Discreto e de poucas palavras, ele se recusa a revelar onde mora, sua idade ou mesmo a origem do codinome "Moxie". E é assim, sem compartilhar seus dados pessoais ou ter acesso ao de outras pessoas, que ele quer levar a internet ao que ele chama de "uma nova era".
"Já vimos várias e várias vezes empresas com modelos de negócios ruins que produzem tecnologia ruim com resultados ruins para a sociedade. Estamos chegando a um ponto em que essa relação de causa e efeito está cada vez mais clara para as pessoas. E elas estão famintas por algo diferente."
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