Astronautas da Nasa voltam à Terra; veja como foi o pouso no oceano
A missão Crew-1, da Nasa, lançada em 15 de novembro do ano passado, chegou ao fim. Depois de mais de cinco meses vivendo na Estação Espacial Internacional (ISS), quatro astronautas estão voltando para casa depois dos momentos mais desafiadores dessa etapa da missão: a reentrada na atmosfera da Terra. A cápsula que os trazia de volta caiu no oceano às 3h57 (de Brasília) da madrugada deste domingo (2).
A cápsula Crew Dragon "Resilience", da SpaceX, se desconectou da ISS às 21h35 de ontem. Após uma viagem autônoma de seis horas e meia de volta à Terra, Mike Hopkins, Shannon Walker e Victor Glover, da Nasa, e Soichi Noguchi, da Jaxa (agência espacial japonesa) foram resgatados na costa da Flórida, nos Estados Unidos, antes do amanhecer.
O retorno havia sido adiado duas vezes devido ao mau tempo na região. Inicialmente, estava previsto para ocorrer na última quarta-feira (28), depois, passou para sexta-feira (30).
Durante os 168 dias de estadia na estação, os quatro astronautas realizaram pesquisas científicas na microgravidade e trabalhos de manutenção, incluindo cinco "spacewalks" —caminhadas espaciais por fora da ISS, para fazer reparos em equipamentos e sistemas, como a instalação de novos painéis solares. Eles compuseram a Expedição 64/65.
Com o retorno da Crew-1, acabou a superlotação de 11 pessoas na Estação Espacial —que forçou alguns a dormirem sem cama. Sete astronautas continuam vivendo por lá: os norte-americanos Mark Vande Hei, Shane Kimbrough e Megan McArthur, o japonês Akihiko Hoshide, o francês Thomas Pesquet e os russos Oleg Novitskiy e Pyotr Dubrov.
Riscos da reentrada
A ida foi mais tranquila do que o caminho de volta. As altíssimas velocidades e temperaturas que a cápsula enfrenta ao entrar em nossa atmosfera são um dos maiores desafios da missão.
Primeiro, é preciso encontrar o ângulo correto para a trajetória. Se for muito agudo, a força-G (efeitos da gravidade) pode ser fatal para os astronautas —o atrito com o ar pode até explodir a cápsula. Se for muito raso, a nave pode "quicar" catastroficamente na atmosfera e voltar sem controle ao espaço.
Corrigindo a rota com pequenas ignições de seus dois motores, a Crew Dragon entrou em nossa atmosfera superior a cerca de 27.000 km/h (7,5 km/s). Isso é mais de vinte vezes a velocidade do som, e gera uma enorme onda de choque e calor ao seu redor.
Na fase mais extrema da reentrada, a temperatura pode ultrapassar 2.000° C. É por isso que vemos a cápsula incandescente. Um escudo térmico, feito do moderno material Pica-X, da SpaceX, protege a nave —o escudo em si fica carbonizado, mas ela permanece intacta.
Outro grande risco foi a perda de conexão com o centro de controle da missão, devido a instabilidades elétricas. Com o calor extremo, uma brilhante camada de plasma (uma espécie de nuvem eletrificada) recobre a cápsula e pode bloquear ou atenuar sinais de rádio.
Normalmente, há um blecaute de comunicação de seis minutos durante a reentrada. Além de impedir conversas e orientações aos astronautas, a Dragon não consegue ser controlada remotamente pelos engenheiros de voo em terra neste tempo. Se algo der errado, estará completamente nas mãos dos quatro tripulantes.
Por fim, o último momento tenso é o pouso com auxílio de paraquedas. A cápsula lança quatro deles na etapa final da reentrada, enquanto desce em direção ao Oceano Atlântico, para reduzir o impacto com a água.
Este pouso, de madrugada, teve um obstáculo a mais: foi apenas a terceira vez na história que uma cápsula foi resgatada no mar sem a luz do dia. A primeira foi a Apollo 8, da Nasa, que caiu no Oceano Pacífico na noite de 27 de dezembro de 1968, na primeira viagem do homem à Lua.
A última foi em 16 de outubro de 1976, quando a missão Soyuz 23 acabou prematuramente após uma falha. O pouso noturno de emergência, sob fortes ventos de nevasca, levou dois cosmonautas até as águas congeladas do lago Tengiz, no Cazaquistão, onde esperaram pelo resgate até o dia seguinte.
Para resgatar a Crew Dragon em alto mar, foram utilizadas duas embarcações com equipes de resgate. Agora, os astronautas seguem de helicóptero para terra firme, onde passarão por uma bateria de exames médicos e então poderão voltar para casa.
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