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Testei o kit da Lego que ajuda a aprender ciências... e não foi fácil

Conforme ginasta se movimenta, o carrinho anda para frente ou para trás - Reprodução
Conforme ginasta se movimenta, o carrinho anda para frente ou para trás Imagem: Reprodução

Bruna Souza Cruz

De Tilt, em São Paulo

09/05/2021 04h00

Como você aprendeu conceitos de matemática e de ciências na escola? Lembranças do meu ensino fundamental trazem muito texto na lousa de giz, listas enormes de exercícios em folhas sulfite ou almaço e meu cérebro dando pane nas exatas.

As formas de transmitir conhecimento mudaram de lá para cá. Tecnologias e outras ferramentas passaram a dar um plus no processo de aprendizado em algumas escolas. Você sabia que até pecinhas de plástico Lego são usadas para ensinar?

Eu tinha um breve conhecimento sobre os kits de robótica da marca, mas dois deles, voltados 100% para educação de crianças, me chamaram a atenção. Eles foram lançados no Brasil em março deste ano com a proposta de auxiliar professores dentro da metodologia Steam (Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática, em tradução do inglês) sem ajuda de computador.

Propus para os editores de Tilt um review diferente — mesmo sendo uma adulta de mais de 30 anos — para conhecer o kit educativo. E eles toparam. O resultado você acompanha a seguir. Antes, um pequeno resumo.

Caixa do kit Lego Education BricQ Motion Prime - Reprodução - Reprodução
O que vem na caixa do kit Lego Education BricQ Motion Prime
Imagem: Reprodução

Dois conjuntos de peças chegaram ao Brasil:

  • Lego Education BricQ Motion Essential: fundamental I (1º ao 5º ano)
  • Lego Education BricQ Motion Prime: fundamental II (6º ao 9º ano)

O kit usado por Tilt foi a versão Prime, emprestada pela Tecnologia Educacional da Positivo Tecnologia, distribuidora no Brasil dos produtos da divisão educacional da Lego. Existem cinco experiências principais de montar dentro do tema ciências do esporte. O conjunto vem com 564 pecinhas de plástico.

É possível construir um carrinho com ginasta, um carro a propulsão, um barco a vela, uma pista de esqui e três estruturas diferentes para lançar bolas. Conceitos físicos de força, causa e efeito, além de movimentos de empurrar, puxar e girar são algumas das ideias trabalhadas aqui.

Bonequinho Lego e a pista de esqui ao fundo - Bruna Souza Cruz/Tilt - Bruna Souza Cruz/Tilt
Bonequinho Lego e a pista de esqui ao fundo
Imagem: Bruna Souza Cruz/Tilt

Impressões da experiência

Os kits foram criados para que professores e alunos trabalhem com a montagem de peças em sala de aula. Por isso, não é um produto de varejo. E, sim, os conjuntos são pagos. Logo, já existe aí um grande recorte de acesso (e falta de) a essas ferramentas.

A empresa Tecnologia Educacional não revelou o valor, mas destacou que o preço varia em função de outros serviços que eventualmente venham a ser contratados junto com os kits, conforme a necessidade de cada instituição (particular ou pública) de ensino. O número de alunos e turmas que usarão os kits é levado em conta. Não é o foco, segundo a companhia, mas pais e responsáveis interessados em aplicar atividades pedagógicas com seus filhos podem solicitar um kit mediante registro de intenção.

Sempre estudei em escolas públicas e lembro muito das tentativas de alguns professores de tornar conceitos abstratos em algo mais concreto, criativo e divertido. Agora, depois de explorar por uma semana o conjunto da Lego Education, eu bem que queria que os blocos de plásticos tivessem feito parte das minhas aulas. Será que eu seria menos "de humanas" do que sou hoje em dia? Vai saber...

Método Steam

Na metodologia Steam os estudantes trabalham por projetos interdisciplinares onde diferentes áreas do conhecimento são exploradas. Ciência, tecnologia, engenharia, artes e matemática. Tudo ao mesmo tempo para estimular os alunos a desenvolverem independência e criatividade. E o kit da Lego explora isso.

Os professores trabalham como mediadores no processo. Um ponto que achei interessante é que os kits não exigem que o(a) docente tenha conhecimento de robótica ou programação. A empresa oferece planos de aulas com orientações sobre como realizar cada atividade e os conceitos explorados. A bagagem dos profissionais se une às pecinhas de montar.

De acordo com a Tecnologia Educacional, em geral, os professores do ensino fundamental (I e II) ensinam a matéria primeiro. Depois, usam os kits para reforçar o que foi ensinado. A recomendação é que cada atividade de montagem leve uma aula para ser concluída (em alguns casos, duas) e que seja feita em grupos pequenos de estudantes.

Mão na massa

Lego Education: lança bola - detalhe a alavanca - Bruna Souza Cruz/Tilt - Bruna Souza Cruz/Tilt
Detalhe da estrutura de lançamento de bola
Imagem: Bruna Souza Cruz/Tilt

Das cinco atividades sugeridas, eu montei três: ginasta, pista de esqui e lançamento de bola. Levei entre 40 e 50 minutos para montar cada uma delas. Achei um tempo demorado somente para construir as estruturas.

Atribuí isso ao fato de encontrar as peças corretas ter sido o meu maior desafio. Elas são muito pequenas. Com certeza as crianças possuem mais habilidade ao manuseá-las do que eu. Provavelmente, montariam mais rapidamente.

Com certeza as crianças possuem mais habilidade ao manuseá-las do que eu. Provavelmente, montariam mais rápido até.

Lego Education: lança bola - Bruna Souza Cruz/Tilt - Bruna Souza Cruz/Tilt
Estrutura de lançamento de bola
Imagem: Bruna Souza Cruz/Tilt

O livro que veio acompanhado do kit é super intuitivo. Existem orientações em cada página mostrando que peça deve ser encaixada em qual bloco e como fica o resultado final da respectiva etapa. Porém, tive dificuldades no início em diferenciar as peças pretas das cinzas. Para mim, no livro eram quase todas semelhantes. Depois peguei o jeito e fluiu melhor.

Lego Education: pista de esqui - Bruna Souza Cruz/Tilt - Bruna Souza Cruz/Tilt
Pìsta de esqui
Imagem: Bruna Souza Cruz/Tilt

Obviamente, não tive professores ao meu lado explicando os conceitos que eu estava reforçando com as experiências. Mas lembrei de alguns do tempo de escola. Segundo a Lego Education, os objetivos são:

  • Kit Ginasta: explorar movimento de um pêndulo, relacionar com as três Leis de Newton e abordar como as forças que agem sobre um objeto podem alterar o seu movimento;
  • Kit Pista de esqui: analisar como as forças impactam o movimento de um esquiador em pistas com variação de altura, ângulos;
  • Kit Tiro livre de bola: analisar a relação de força e movimento a partir da colisão de objetos e como o plano inclinado pode alterar a direção da bola.
Detalhe do rosto da montagem do ginasta - Bruna Souza Cruz/Tilt - Bruna Souza Cruz/Tilt
Detalhe do rosto da montagem do ginasta
Imagem: Bruna Souza Cruz/Tilt

Vale a pena?

O produto da Lego Education é legal, mas nem toda escola possui recursos financeiros para comprar ferramentas como as da empresa. Nem todos os estudantes brasileiros terão essa bagagem educacional estimulada por tecnologias. E isso é uma pena.

O fato de que muitos alunos não possuem internet e equipamentos adequados para estudar durante a pandemia é notório, ampliando a desigualdade de acessos e de perspectivas de futuro. Nem dá para imaginar escolas públicas tendo verba para investir em produtos como esses.

Cheguei a perguntar para a Tecnologia Educacional se eles possuem projetos sociais envolvendo os conjuntos da Lego Education. A resposta foi que sim. Eles estão com três parcerias em fase de amadurecimento com instituições públicas no Brasil.

Além disso, a fundação americana First, a Lego Foundation e a Disney, por meio da empresa brasileira, têm um iniciativa conjunta que atende mais de 700 estudantes de escolas públicas e instituições sem fins lucrativos para que eles possam desenvolver habilidades em tecnologia e ciências aplicadas (na metodologia Steam). Nos próximos meses, a companhia deve iniciar um novo processo de seleção.

Sei que o problema não é do kit Lego, é claro. Mas refletir sobre essa desigualdade acabou me deixando mais frustrada do que feliz após a experiência de montar as pecinhas.

Minha opinião sobre esses kits se baseia na experiência que eu tive comparando-a com o que aprendi na infância. Além disso, também fiz reflexões sobre as lembranças da época em que fui repórter setorista de educação (aqui do UOL, inclusive). Em todo caso, não sou pedagoga e acho importante reforçar isso.

A experiência de explorar as peças de Lego para relembrar conceitos da época de escola foi muito divertida. A nostalgia do brinquedo de montar com certeza tornou tudo mais afetivo e lúdico. Acredito que usar ferramentas criativas como essas, pensadas exclusivamente para auxiliar o processo de aprendizado, é incrível.