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Super Pads: como um app musical feito no Brasil se tornou sucesso na China

Tela do app Super Pads, desenvolvido pelo brasileiro Arthur Motelevicz - Divulgação
Tela do app Super Pads, desenvolvido pelo brasileiro Arthur Motelevicz Imagem: Divulgação

Roseli Adrion

Colaboração para Tilt

19/05/2021 04h00

Todo desenvolvedor de aplicativo quer que seu produto viralize. Isso nem sempre acontece, já que requer, além de competência, uma boa dose de sorte, mas às vezes um app cai no gosto dos usuários, ganha bastante atenção e pronto: torna-se um sucesso de público e crítica.

Foi o que aconteceu com o Super Pads, um emulador de controlador de produção musical (music production controller - MPC), um equipamento essencial para os DJs, criado pelo engenheiro curitibano Arthur Motelevicz. Lançada há quatro anos, a ferramenta já atingiu os 50 milhões de downloads e viralizou na China, um dos maiores mercados do mundo

Motelevicz começou a programar quase por acaso. Antes de conhecer o universo das Exatas, se dedicou à música por 11 anos. "Achei que seria músico a vida toda, mas, conforme envelheci e tive algumas frustrações, decidi mudar de carreira e ingressei na faculdade de engenharia de controle e automação", conta.

Assim que começou a faculdade, ele se identificou com a programação. "Descobri algo que eu gostava tanto quanto música", lembra. Quando estava no segundo ano da graduação, viu um anúncio para interessados em se tornar desenvolvedores de apps para iOS. Era 2013 e os aplicativos eram uma tendência importante do mercado de dispositivos móveis.

Arthur Motelevicz desenvolveu o Super Pads, um app para DJs que viralizou na China - Divulgação - Divulgação
Arthur Motelevicz desenvolveu o Super Pads, um app para DJs que viralizou na China
Imagem: Divulgação

Quando o curso de criação de apps começou, Motelevicz descobriu que se tratava da Apple Developer Academy. Era a primeira edição do programa no mundo: o Brasil foi escolhido para abrigar o piloto do projeto. "Depois disso, a iniciativa cresceu muito, mas tenho muito orgulho de ter participado da primeira turma."

A formação teve duração de um ano e o engenheiro foi convidado para participar da turma seguinte, mais bem estruturada, por mais dois anos. "Como fiz enquanto ainda cursava engenharia, foi quase como fazer duas faculdades ao mesmo tempo."

Super Pads viralizou sem propaganda

Depois desses três anos, antes mesmo de terminar a graduação, Motelevicz criou a Opala Studios em sociedade com dois amigos. De lá saiu o Super Pads. Para alguém com background em música, era natural criar um aplicativo relacionado com esse segmento.

E foi aí que o sucesso veio. "Antes dele, foram muitas tentativas com outros jogos e apps, mas, até aquele momento, eu era o único funcionário em período integral da Opala Studios. Só depois do Super Pads, os meus sócios puderam passar a se dedicar integralmente à empresa."

O êxito do aplicativo levou à criação de um ecossistema em torno dele: hoje, o Super Pads tem canal no YouTube com mais de 2 milhões de inscritos e até uma parceria com a produtora KondZilla. Isso fez a Opala Studios crescer e poder investir em novos projetos: atualmente, são 27 colaboradores, cinco apps ativos e dois em fase final de desenvolvimento.

A ideia por trás do Super Pads, de emular um MPC, não é inovadora. O diferencial dele foi permitir que qualquer usuário toque uma música conhecida no celular. "Permitir que as pessoas fizessem covers apenas com o telefone e fazer conteúdo ensinando a usar a ferramenta foi o que, de fato, nos destacou. Tivemos muitos downloads orgânicos."

O app chegou até a lugares inimaginados pela Opala Studios. A École de Musique Conectée, na França, usa o Super Pads para ensinar conceitos iniciais de música aos alunos. "É como se fosse mais um instrumento para introdução musical. Criamos uma ferramenta que é usada para algo que nem tínhamos imaginado."

Outra surpresa foi ver a ferramenta ser clonada na China. "Por isso, é muito importante adaptar o produto para cada mercado", conta Motelevicz. "Jamais imaginamos que o aplicativo seria sucesso na China, mas, hoje, cerca de 50% do público vem de lá. É como se fosse outro planeta para explorar: aprendemos muito, porque tudo o que é voltado para a China é diferente. Temos um canal e uma equipe dedicados a esse mercado."

No momento, a equipe de Motelevicz busca profissionalizar a empresa para não ter de contar com a sorte e garantir que o empreendimento cresça de forma sustentável. "Publicar um app é só o começo. É preciso conhecer o mercado profundamente para fazer disso um negócio. Sem isso, a chance de frustração é grande."

A academia de desenvolvimento da Apple

O programa de desenvolvimento de aplicativos da Apple está presente em nove cidades de oito Estados brasileiros - além de outros 11 países. O curso de dois anos é gratuito e oferece auxílio financeiro aos participantes. Segundo informação do site do projeto, aqui no Brasil, o valor é "compatível ao de uma bolsa de iniciação científica".

A metodologia de ensino utilizada no programa é a CBL (Challenge-Based Learning, ou Aprendizado a Partir de Desafios), semelhante à adotada em escolas e universidades americanas: o ensino se baseia na conclusão de tarefas. "Resumidamente, eles ensinam um conceito e pedem que ele seja usado na criação de um app publicável", explica Motelevicz.