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Em pedacinho: como será 1º leilão NFT no Brasil, com obra de artista baiano

"Fronteira Físico/Digital", do artista plástico baiano Bel Borba, será leiloada via NFT 100% brasileiro - Divulgação
"Fronteira Físico/Digital", do artista plástico baiano Bel Borba, será leiloada via NFT 100% brasileiro Imagem: Divulgação

Gabriela Fujita

Colaboração para Tilt

26/05/2021 15h23Atualizada em 27/05/2021 12h04

O primeiro leilão de arte em NFT (tecnologia que usa contrato inteligente) 100% brasileiro vai acontecer em junho deste ano. A obra escolhida para inaugurar o uso da modalidade por aqui é a do artista plástico baiano Bel Borba, intitulada "Fronteira Físico/Digital".

A tela, pintada especialmente para a ação, foi digitalizada e será recortada em cem partes, tanto fisicamente quanto no ambiente virtual. O leilão brasileiro será realizado por meio da plataforma InspireIP.

A tecnologia NFT, que funciona com contratos virtuais, tem ganhado adesão de pessoas famosas, como o presidente do Twitter, Jack Dorsey, que vendeu seu primeiro tuíte por US$ 2,9 milhões. Até vídeos virais e memes entraram na onda. A foto conhecida como "Disaster Girl" foi vendida por quase US$ 500 mil.

No leilão brasileiro, o lance mínimo é de US$ 600 (cerca de R$ 3.200) por peça, e o vencedor receberá dois exemplares: o pedaço digital em uma carteira de criptomoedas e o material, contendo um QR code, que será enviado para o endereço do comprador (no Brasil ou no exterior).

O artista plástico baiano Bel Borba, autor de "Fronteira Físico/Digital" - Divulgação - Divulgação
O artista plástico baiano Bel Borba, autor de "Fronteira Físico/Digital"
Imagem: Divulgação

O artista plástico Bel Borba tem forte presença na cultura soteropolitana, com obras espalhadas pela capital baiana. Para ele, a tela que será leiloada sugere uma colcha de retalhos material e digital. "É muito simbólico saber que você a vai destruir, no bom sentido. E não deletando, mas fracionando. Arte é compartilhamento", diz.

Borba explica que cada um que tiver uma parte da obra será sócio de um todo, algo virtual e físico, uma peça numerada, um fragmento. "Ela foi pintada por cerca de 30 dias, sem pressa, mas sensível ao que eu estou fazendo parte", completa o artista, que também já expôs seus trabalhos em São Paulo e Nova York.

Para Caroline Nunes, presidente-executiva da InspireIP, a tecnologia NFT é capaz de universalizar o acesso à arte. "Qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, consegue facilmente arrematar aquela obra."

A profissional, que também é advogada e mestre em propriedade intelectual pela University of Southern California (EUA), acredita que a comercialização de tudo que envolve direitos autorais vai ser feita, em pouco tempo, somente via NFT.

O que é esse tal de NFT, afinal?

NFT é a sigla em inglês para "non-fungible token" (token não fungível, em tradução livre), e a realização de negócios por esse modelo é baseada em um sistema operado por contratos virtuais inteligentes, com pagamento em criptomoedas, como Bitcoin e Ether.

O objetivo principal nesse tipo de transação é conferir o caráter de autêntico a qualquer coisa, principalmente no meio digital. Não só obras de arte, como memes, vídeos, GIFs etc.

Dessa forma, aquilo que se perderia na internet de tanto ser compartilhado e reproduzido passa a ter uma assinatura digital do autor e, por consequência, uma pessoa proprietária. Quem compra um NFT está adquirindo, na verdade, um token, ou seja, o certificado de autenticidade.

Cada NFT tem uma assinatura virtual em blockchain, como se fosse um livro de registros virtual, que pode ser consultada para exibir a quem ele pertence, por exemplo. Colecionadores e investidores estão entre os grandes interessados nesse mercado.

Rastreamento e pagamento de royalties

Segundo a advogada Caroline Nunes, o "autógrafo virtual" via NFT permite o rastreamento das obras e assegura o pagamento de royalties. Bel Borba, por exemplo, receberá uma porcentagem do valor da transação toda vez que um dos cem NFTs leiloados for novamente vendido.

"Qualquer coisa que você compra pela internet, você está comprando uma cópia. Com o NFT, vai para a sua carteira. Você pode fazer o que quiser com ele, e é como se fosse realmente um bem físico", diz a executiva.

A empresa brasileira fez uma parceria com a Nordeste Leilões para o trabalho no mercado de arte. A expectativa de arrecadação é alcançar em torno de US$ 1 mil por peça.

Como participar

Os interessados em participar do leilão devem fazer um cadastro na plataforma da empresa. Eles serão informados sobre os trâmites alguns dias antes da abertura. A obra vai ficar à venda entre os dias 5 e 20 de junho de 2021

Os lances poderão ser feitos em reais ou criptomoedas da plataforma Ethereum, para quantas unidades o comprador quiser. É possível acompanhar em tempo real se o lance já foi superado por outra pessoa. Os vencedores vão receber os NFTs na moeda digital, pela carteira virtual MetaMask.

"Se o lance for superado, esse dinheiro volta para a carteira da pessoa e ela consegue dar um lance maior, superar o valor ou desistir. O sistema define o ganhador, o retorno do dinheiro, é tudo por contrato inteligente, é tudo muito bem calculado", explica Nunes.

Casos milionários de sucesso

A recente popularização dos NFTs pode ser explicada pela facilidade de participar dos leilões e pelas volumosas quantias que eles vêm movimentando. Veja alguns exemplos:

  • em fevereiro de 2021, a animação "Nyan Cat" foi leiloada em NFT por US$ 500 mil;
  • em março de 2021, o presidente do Twitter, Jack Dorsey, vendeu seu primeiro tuíte por US$ 2,9 milhões;
  • em abril de 2021, uma foto de 2005 que viralizou, virou meme e ficou conhecida como "Disaster Girl" foi vendida por US$ 500 mil;
  • em maio de 2021, o vídeo viral "Charlie Bit My Finger", postado no YouTube, foi leiloado por US$ 760 mil via NFT, 14 anos depois de vir a público e alcançar 883 milhões de visualizações.