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YouTube remove mais uma leva de vídeos de Bolsonaro sobre cloroquina

Presidente Jair Bolsonaro com caixa de cloroquina do lado de fora do Palácio da Alvorada - ADRIANO MACHADO
Presidente Jair Bolsonaro com caixa de cloroquina do lado de fora do Palácio da Alvorada Imagem: ADRIANO MACHADO

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

27/05/2021 19h04

O YouTube removeu mais vídeos em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) defendia tratamento precoce — não comprovado — para covid-19. A plataforma não relevou a quantidade de publicações deletadas. Mas, de acordo com levantamento da empresa de análise de dados Novelo Data, foram pelo menos 11 vídeos só ontem (26).

A remoção acontece diante das mudanças nas políticas do YouTube que proíbem conteúdos sobre medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença, como cloroquina e ivermectina,

Segundo a Novelo Data, somente ontem foram apagados pelo menos 22 vídeos no YouTube que violavam as regras dentro dessa política. Além do presidente, foram afetados outros canais de apoiadores de Bolsonaro: Pingos nos Is (3), Eduardo Bolsonaro (1), Daniel Silveira (1), Magno Malta (1), Folha Política (1) e RelevanteNews (1).

Já o canal da CNN Brasil teve três vídeos apagados, conforme o levantamento, por conterem declarações da médica Nise Yamaguchi, defensora de medicamentos sem eficácia. Foi a maior limpeza promovida pelo YouTube desde que a Novelo começou a realizar o monitoramento.

Este aumento no número de exclusões tem explicação. Há meses, para se adaptar à realidade da pandemia, a plataforma vem modificando suas políticas e diretrizes da comunidade. A última atualização, em abril, deu um período de um mês de "carência" para os criadores se acostumarem a não publicar mais vídeos recomendando tratamentos sem comprovação científica.

Procurado por Tilt, o YouTube afirmou que: "Como parte de nosso trabalho contínuo para apoiar a saúde e o bem-estar da comunidade de usuários do YouTube, expandimos nossas políticas de desinformação médica sobre a Covid-19. A menos que haja contexto educacional, documental, científico ou artístico suficiente, a plataforma irá remover vídeos que recomendam o uso de ivermectina ou hidroxicloroquina para o tratamento ou prevenção da doença".

Desde o início da pandemia, a plataforma já removeu mais de 850 mil vídeos por violarem as políticas de conteúdo sobre o coronavírus. Na contramão, o presidente usou postagens nas redes sociais para defender o "tratamento precoce", em média, uma vez por semana neste período.

Dos 11 vídeos de Bolsonaro que foram tirados do ar esta semana, 10 continham a palavra cloroquina já no título ou descrição, como "A Hidroxicloroquina cada vez mais demonstra sua eficácia em portadores do COVID-19" e "Fox News mostra estudos sobre a eficácia da Hidroxicloroquina no combate ao Coronavírus". O outro, publicado em 25 de março de 2020, divulgava a campanha negacionista "O Brasil não pode parar".

Outras cinco publicações do presidente já haviam sido derrubadas no mês passado — registros das lives que ele faz às quintas-feiras no Facebook e no Instagram. Em dois meses, pelo menos 16 vídeos de Bolsonaro foram excluídos. Mesmo assim, o canal continua no ar, pois eram todos conteúdos postados antes que as novas diretrizes entrassem oficialmente em vigor.

Serão punidos os vídeos postados a partir de 16 de maio — data final da carência. Cada violação da política de uso rende, além da exclusão do conteúdo, um aviso (strike, em inglês). Três strikes em 90 dias fazem com que o canal seja removido permanentemente do YouTube. Cada aviso expira em 90 dias a partir da emissão, como pontos numa carteira de motorista.

As novas regras valem para qualquer conteúdo que contrarie as orientações da OMS, sobre tratamento, prevenção, diagnóstico, transmissão, medidas de distanciamento social e a própria existência do novo coronavírus.