Quais são as condições para existir vida em Marte ou em outro planeta?
Para os cientistas que estudam possibilidades de vida no Universo — mais conhecidos como astrobiólogos —, seres vivos podem surgir em diversos tipos de ambientes. Alguns, extremamente inóspitos para qualquer vida terrestre. Outros podem possuir características que talvez nem tenham sido imaginadas pela comunidade científica.
Sabe-se que uma atmosfera parecida com a da Terra não é necessária para a existência de vida alienígena. O oxigênio pode não ser um ingrediente fundamental, nem a água também — as moléculas de H2O sozinhas, por exemplo, não são capazes de criar um ambiente habitável para a vida.
De fato, enquanto a maioria dos seres vivos precisa de oxigênio para sobreviver, há bactérias terrestres que morrem na presença do gás. No nosso planeta, existem organismos que nascem, crescem e se reproduzem embaixo da terra ou em lugares cheios de amônia, por exemplo.
Como há muitos modelos para a existência de vida em outros planetas, cientistas preferem ajustar o foco de suas pesquisas para o que já está comprovado: ambientes parecidos com o da Terra são extremamente propícios para a existência de seres vivos.
Um planeta que deu certo
A abundância de água e de carbono foram essenciais para o surgimento da vida por aqui. A distância do Sol, as camadas da atmosfera, a gravidade, a temperatura média, a influência da Lua e várias outras características são ideais para a manutenção dos seres vivos.
Mas os astrobiólogos não atuam de forma tão seletiva: não é necessário buscar um outro planeta Terra dentre os 10 bilhões com características parecidas com o nosso na Via Láctea. Hoje é possível identificar até evidências de atividade microbiana na atmosfera de planetas com características distintas, como aconteceu com Vênus.
Os cientistas que descobriram a existência de fosfina na atmosfera de Vênus usando o JCMT (Telescópio James Clerk Maxwell), no Havaí, e do Alma (Observatório Grande Matriz Milimétrica do Atacama), no Chile. Mas a tecnologia atual dos nossos telescópios impede a visualização de atmosferas de planetas distantes.
Uma série de telescópios que estão para ser inaugurados promete revolucionar esse tipo de estudo, três deles, de 30 metros, devem ser inaugurados nos próximos cinco anos. Sem falar no tão esperado Telescópio James Webb, da Nasa, que deve ser inaugurado em outubro deste ano.
Água, fonte de vida?
Em 2018, cientistas da Agência Espacial Italiana anunciaram que existe água líquida em Marte, e de forma constante. Eles descobriram um reservatório subterrâneo permanente de água líquida, 1,5 km abaixo de uma camada de gelo, próxima ao Polo Sul do Planeta Vermelho. Até agora, no entanto, nenhum sinal de vida foi encontrado.
Os cientistas esperam que o robô explorador Perseverance, que já está circulando por Marte, encontre vestígios de vida microbiológica, ainda que de bilhões de anos atrás.
A Nasa também descobriu a presença de água também no lado iluminado da Lua, onde as temperaturas podem chegar a 200º C. E falando em Lua, já se sabia que uma das que gira em torno do planeta Júpiter, a Europa, também tinha um oceano de água embaixo da sua superfície rochosa. Em 2019, a Nasa achou vapor de água acima da superfície congelada do satélite natural.
Mas vida que é o bom, ninguém achou ainda.
Não é só na água
A procura por água não descarta outros tipos de busca. Apesar de ser um meio líquido estável para as moléculas se juntarem e gerarem vida, é preciso manter a cabeça aberta para formas de vida que possam surgir em ambientes inimagináveis: no meio da amônia líquida, por exemplo. O composto químico na sua forma líquida é encontrado em lugares gelados, como a lua Titã (um satélite de Saturno).
No campo da Astrobiologia, muita coisa mudou nos últimos anos e o uso combinado de novos instrumentos tem permitido com que cientistas desbravem e conheçam mais sobre a composição dos planetas. Há quem diga que com os novos telescópios que estão para ser inaugurados haverá uma revolução nessa área até 2030.
Fontes:
Eduardo Janot Pacheco, professor Associado do Departamento de Astronomia e coordenador geral do Laboratório de Astrobiologia da USP (Site Astrobiology, mantido pela Nasa).
Thiago Gonçalves, astrônomo do Observatório do Valongo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e colunista de Tilt.
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