Hubble morreu? Entenda o 'boletim médico' do histórico telescópio espacial
O telescópio espacial Hubble está inoperante há mais de dez dias, após uma falha computacional que ainda não foi esclarecida pela Nasa. A agência espacial norte-americana continua tentando reativá-lo à distância, mas este pode ser o último capítulo de uma história de 31 anos de observações e descobertas.
Os controladores da missão ainda não sabem explicar o que desligou o computador de carga útil, que controla os instrumentos do telescópio, no último dia 13. Suspeitas recaem sobre um módulo de memória. Desde então, estão sendo realizadas manobras para tentar reiniciar o sistema e solucionar a anomalia.
"Evidências iniciais apontavam para um módulo de memória degradado como a fonte da parada do computador. Porém, quando a equipe de operações tentou alternar para o módulo de backup, o comando de inicialização falhou ao ser concluído", disse a Nasa em um comunicado.
Tentativas posteriores, de inicializar ambos os módulos, também falharam. Há indícios de que outra parte do hardware pode ter originado a falha — e os erros de memória seriam um sintoma. A raiz do problema pode estar no módulo de processamento central (CPM) do computador ou na Interface Padrão (STINT).
A agência espacial norte-americana segue trabalhando, confiante, para ressuscitar o já envelhecido Hubble. Mas pode não haver chances de recuperação.
Fim de uma era?
É um grande desafio consertar remotamente um computador antigo, que orbita a Terra a cerca de 570km de altitude. O sistema computacional do Hubble foi desenvolvido na década de 1980, e o revolucionário telescópio foi lançado ao espaço em 24 de abril de 1990.
Em 2009, passou por um grande conserto e atualização, quando cinco astronautas foram até lá para instalar um novo computador, baterias e instrumentos científicos. Desta vez, porém, a Nasa não pretende enviar uma tripulação — até por limitações de naves; na época do reparo anterior, foi utilizado o ônibus espacial.
Caso a nova falha não consiga ser corrigida, uma derradeira alternativa é tentar inicializar um computador backup, que foi instalado durante a manutenção de 2009, mas até hoje nunca foi utilizado. "Ele não foi ligado desde então, mas foi plenamente testado em Terra, antes de ser instalado no espaço", declarou a Nasa. Esse processo levaria vários dias.
Se nada der certo, a agência espacial pode decidir fazer uma espécie de funeral para o icônico telescópio. Há um dispositivo de segurança capaz de trazer o Hubble de volta para cá. Ele queimaria durante a reentrada na atmosfera, como uma estrela cadente. Uma despedida digna.
Legado para a astronomia
O Hubble revolucionou a astronomia e nossa visão do Sistema Solar, da Via Láctea e de galáxias distantes. Por meio dele, conseguimos ver coisas que apenas imaginávamos existir, como buracos negros e o nascimento das estrelas, e até estimar a idade do Universo (13,7 bilhões de anos).
Em mais de três décadas, os dados coletados e as imagens registradas, além de belíssimas, foram usados em mais de 16 mil publicações científicas, que serviram como base para outras 800 mil pesquisas.
O telescópio tem sido extremamente resiliente, ultrapassando o tempo previsto de operação. Nos últimos anos, superou uma série de falhas técnicas. A mais recente, em março, foi um erro de software que o colocou em modo de segurança por vários dias.
Ele é nosso olho no espaço, enquanto aguardamos o lançamento do Telescópio Espacial James Webb, previsto para outubro deste ano — mas que vem sofrendo diversos atrasos. De última geração, ele continuará a expandir o legado do Hubble.
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