Ainda não há cura para o telescópio Hubble; computador backup também falhou
A Nasa segue batalhando para solucionar uma misteriosa falha computacional que deixou o icônico Telescópio Espacial Hubble inoperante, há mais de duas semanas. Nos últimos dias, tentativas de ligar o computador backup também não deram certo.
O Hubble entrou em modo de segurança -- como uma hibernação eletrônica -- no último dia 13, quando seu computador primário, que opera os instrumentos científicos, parou de funcionar repentinamente. Os controladores da missão ainda não sabem explicar o que ocasionou o problema; desde então, estão realizando manobras para reiniciar o sistema e ressuscitar o telescópio.
Primeiro, tentaram alternar para o módulo de memória backup, diversas vezes, sem sucesso. Com indícios de que outra parte do hardware poderia ter originado a falha — e erros de memória seriam um sintoma —, a complicada alternativa foi inicializar um computador backup, que foi instalado em 2009, mas nunca havia sido sequer ligado no espaço.
E, surpreendentemente, ele ligou. Mas caiu no mesmo erro que o computador principal. Ou seja, a agência espacial ainda não faz ideia de onde está a "doença" do Hubble. Mas acredita que todos seus instrumentos estejam saudáveis, apesar de terem parado de coletar dados científicos.
Agora suspeita-se da Unidade de Comando/Formatador de Dados Científicos (CU/SDF), responsável por formatar e transmitir informações, ou do regulador de força, que fornece uma voltagem constante para abastecer o computador. "Se a voltagem estiver fora dos limites, poderia causar os problemas observados", declarou a Nasa.
Os próximos testes devem focar nessas peças de hardware, que também têm backups.
Envelhecido e resiliente
Estes computadores foram instalados em uma grande manutenção, realizada em 2009, mas foram desenvolvidos nos anos 1980. O revolucionário telescópio foi lançado ao espaço em 24 de abril de 1990. É um grande desafio consertar remotamente um sistema operacional antigo, que orbita a Terra a cerca de 570 km de altitude.
Na atualização de 12 anos atrás, cinco astronautas foram até o espaço para instalar o novo-velho computador, baterias e instrumentos científicos. Desta vez, porém, a Nasa não pretende enviar uma tripulação — e nem conseguiria, por limitações de naves; na época, foi utilizado o ônibus espacial Discovery.
A agência espacial norte-americana continua tentando isolar a falha e reativar o Hubble à distância, mas este pode ser o último capítulo de uma história de 31 anos de observações e descobertas. O fim de uma era.
Caso nada dê certo, a agência espacial pode decidir fazer uma espécie de funeral para o icônico telescópio. Há um dispositivo de segurança capaz de trazer o Hubble de volta para a Terra. Ele queimaria durante a reentrada na atmosfera, como uma estrela cadente. Uma despedida digna.
Legado para a astronomia
O Hubble revolucionou a astronomia e nossa visão do Sistema Solar, da Via Láctea e de galáxias distantes. Por meio dele, conseguimos ver coisas que apenas imaginávamos existir, como buracos negros e o nascimento das estrelas, e até estimar a idade do Universo (13,7 bilhões de anos).
Em mais de três décadas, os dados coletados e as imagens registradas, além de belíssimas, foram usados em mais de 16 mil publicações científicas, que serviram como base para outras 800 mil pesquisas.
O telescópio tem sido extremamente resiliente, ultrapassando o tempo previsto de operação. Nos últimos anos, superou uma série de falhas técnicas. A Nasa lançou cinco missões de serviço para lá, entre 1993 e 2009, e resolveu diversos erros de software remotamente. O mais recente, em março, o colocou em modo de segurança por vários dias.
O Hubble é nosso olho no espaço, enquanto aguardamos o lançamento do Telescópio Espacial James Webb, previsto para outubro deste ano - mas que vem sofrendo diversos atrasos. De última geração, ele continuará a expandir o legado do "velhinho".
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