"Somos o brilho do mundo", diz Dandara Pagu, a nova cara do Clubhouse
Mulher, preta, nordestina: esta é a nova cara mundial do Clubhouse, rede social que reúne salas de bate-papo por áudio. Desde a última semana, a foto da ativista e produtora cultural Dandara Pagu, 33, com sorriso contagiante, estampa o ícone do aplicativo que bombou recentemente (um convite chegou a custar R$ 279).
"Mesmo não correspondendo a vários padrões estéticos, sociais e até educacionais, eu estou viva. O mundo é nosso, sim! Mulheres, pretas, bichas, pessoas com deficiência. Não somos minoria, somos maioria, somos o brilho deste mundo", destacou Dandara, em entrevista exclusiva a Tilt.
Logo que o Clubhouse foi lançado no Brasil, a ativista começou a se destacar nas salas de bate-papo. Voluntariamente, passou a moderar conversas sobre política, racismo e feminismo. "Falar é uma coisa que para mim nunca foi difícil, então amei a proposta."
Em menos de dois meses, ela já contava com 16 mil seguidores na plataforma, segundo dados do Clubhouse. Por meio da rede social, Dandara viveu diversas realizações pessoais e profissionais. "Conheci a Preta Gil e fechei um contrato de agenciamento, falei com Boninho, com Luciano Huck e até arrumei um namorado", conta. Os cerca de 3 mil seguidores que ela tinha no Instagram, hoje já são mais de 51,4 mil.
"Infelizmente, muitas vezes, uma mulher preta só ganha projeção no mundo e na mídia depois de morta. Então também estou representando Marielle Franco, Kathlen Romeu e todas as mulheres e pessoas negras que o sistema matou ou está tentando matar", afirmou Dandara.
Nascida Robeane Silva Rodrigues, no Recife (PE), ela carrega uma história marcada por vulnerabilidade social, violência e racismo, como a de muitos brasileiros. "Depois que me libertei de uma violência sexual que sofria dos 8 aos 12 anos, me batizei de Dandara Pagu", contou. Estes são os nomes de duas mulheres fortes da história do país.
Dandara Pagu é a filha mais velha de 12 irmãos — quatro deles morreram ainda criança —, de uma família da comunidade da Mangueira e Jiquiá, na capital pernambucana. "Se você nasce preta, pobre, gorda e nordestina, é um dos maiores combos de minoria que se pode ter, né? Quase todas as pessoas da minha infância já morreram. Dificuldade na minha vida é quase um verbo."
Ao longo dos anos, Dandara usou as próprias experiências para se reinventar — e as redes sociais tiveram um importante papel nisso. Uma de suas fortes atuações na Internet é no movimento "body positive", de aceitação do corpo.
"Mudei para São Paulo, voltei a estudar. Chorei, tive medo. Agora, vou apenas agradecer e repetir que tudo o que você sonhar e não deve desistir, pode acontecer sim", afirma. É essa resiliência, aliada à simpatia e militância, que Dandara conquistas seus vários seguidores.
A atualização do aplicativo, com o avatar de Pagu, já está disponível para todos os usuários do Clubhouse. A plataforma troca periodicamente as personalidades do ícone - a anterior era a artista japonesa Drue Kataoka.
Say hello today to a brand new app icon
? Clubhouse (@Clubhouse) June 20, 2021
The wonderful @DrueKataoka is passing the baton to Brazilian activist and creator @DandaraPagu!
Read more about her: https://t.co/Avz3RbbuAO pic.twitter.com/cNNQIW3rqG
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