Catador de latinhas a gamer: celular com tela quebrada mudou vida de jovem
A reviravolta na vida do ex-catador de latinhas Fábio dos Santos, de 25 anos, começou quando ele conseguiu ter o primeiro celular. Com ajuda da internet da vizinha, que a compartilhava com o jovem por R$ 20, ele passou a conhecer o mundo dos aplicativos de jogos. O Free Fire logo o conquistou.
A tela quebrada do aparelho e memória eram um empecilho na época, mas foram essas dificuldades que ajudaram a transformar o seu dia a dia, lembra Baiano, como se tornou conhecido no mundo dos games. Hoje, ele acumula 1,7 milhão de seguidores no Facebook, 646 mil no YouTube, 524 mil no TikTok e 654,2 mil na Twitch (plataforma de lives).
"Quando o Free Fire foi lançado em 2017, comecei a jogar e gostei. Jogava em um smartphone com a tela trincada. Era muito difícil jogar. A tela bugava muito. Comecei a gravar toda minha dificuldade e postei em um grupo. Aquele vídeo viralizou e eu ganhei mais de três mil seguidores", conta Baiano, em entrevista a Tilt.
Para ele, a tecnologia aliada ao conhecimento sobre as plataformas online é uma grande ferramenta de transformação social.
O gamer nasceu em Juazeiro (BA) e aos 6 anos foi morar em Juazeiro do Norte (CE). A mãe dele, Francisca dos Santos, 60, ganhava uma pensão do pai falecido (quando ele tinha 11 anos), mas o recurso não era suficiente para a sobrevivência dela, de Baiano e de sua irmã.
"Muitas vezes, a gente almoçava pão. Uma pessoa da família pegou o cartão da minha mãe e fez uma dívida que acabou com mais da metade da renda dela. Aí, as coisas ficaram ainda mais difíceis", conta gamer. As dificuldades obrigaram a família a catar latinha para sobreviver.
"Também trabalhei catando bolinha de golfe. Nossa moradia era bem simples. Eu dormia praticamente na madeira, pois o colchão já tinha muitos anos e não tinha como comprar outro. Minha mãe dormia na rede. Os quartos eram divididos com lençóis, o sofá da sala também não tinha estofado e nosso banho era com balde", relembra.
Ganhando dinheiro com a internet
Paralelamente ao sucesso dos primeiros vídeos, Baiano conheceu o gamer Felype Nascimento e passou a jogar com ele em transmissões ao vivo. Na época, seu canal no YouTube tinha mil seguidores e o perfil no Facebook possuía cinco mil pessoas.
Na época, Baiano nem sabia que podia monetizar as suas publicações. Foi o amigo Felype quem o ajudou a configurar as páginas. Depois disso, o número de visualizações e fãs começou a subir. "A partir daí eu soube que poderia ganhar dinheiro por meio da tecnologia", afirma.
Zerou a fase ruim
Os perrengues e dificuldades para sobreviver do influencer e de sua mãe já foram estágios superados. A nova realidade da família é de fartura, conforto, mas com o mesmo afeto de sempre, destaca o jovem.
Baiano passou a utilizar com maior frequência o celular e o computador para gravar vídeos e fazer lives que mostram a jogabilidade do Free Fire. E capitalizou com isso. Atualmente, toda a renda do jovem vem da Twitch, sendo contratado para fazer lives exclusivas para ela.
"Também sou contratado como criador de conteúdo do time da Fúria [de e-sports]. Todos os dias, eu preciso gravar vídeos para o Facebook, onde posto 30 vídeos por mês. Para o YouTube são dois por semana, que são vídeos difíceis de produzir, pois precisa ter uma partida perfeita. E também postamos vídeos todos os dias no TikTok", explica o gamer. Os trabalhos geralmente começam no início da tarde e seguem até a madrugada.
"Hoje eu consigo dar tudo para mãe. Dou tudo o que ela merece. É que faço com prazer e por tudo que ela passou. Conseguimos no mês passado comprar nosso primeiro terreno. Estamos construindo a nossa casa, que é o sonho dela e nossa maior conquista", ressalta.
A entrada do filho no mundo da fama na internet foi vista inicialmente com desconfiança. Porém, Francisca dos Santos contou a Tilt que ela foi ajudando o filho como pôde. "Eu consegui comprar o primeiro celular para ele depois de juntar dinheiro por um tempo, e com esse celular ele conseguiu fazer sucesso. Até hoje acho que estou sonhando."
"E agora sabendo que ele está sendo bem visto no nosso Nordeste e representando nossa região, eu fico sem palavras de tanta felicidade. Ele ainda ajuda crianças e pessoas com deficiência aqui em Juazeiro do Norte", completa a mãe do gamer.
Vai que dá
O conselho de Baiano para quem deseja se aventurar na produção de conteúdo para a internet é: buscar os seus sonhos e fazer tudo com dedicação. "Não faça por obrigação, ou achando que você vai ficar rico. Quando você coloca amor no que faz as coisas uma hora vão acontecer."
"Faça seus vídeos, compartilhe, não dê ouvidos para pessoas que querem seu mal. Eu sofri por ser nordestino, sempre alguém fazia uma brincadeira de mau gosto, mas isso nunca me desanimou e eu sempre segui em frente e ignorei esses comentários que até hoje tem", conclui.
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