'Tenho o melhor trabalho do mundo': quem é a mulher por trás dos emojis
Vestindo um boné azul com um emoji amarelo com a boquinha reta, Jennifer Daniel surge animada na tela do Google Meet para uma entrevista com jornalistas. "Acho que tenho o melhor trabalho do mundo", comemora a responsável pelo design dos emojis no Android desde 2016.
Artista visual e designer gráfica, Daniel tem em seu currículo passagens pelas equipes de arte do jornal The New York Times e da revista New Yorker. Além do cargo no Google, a norte-americana também é a primeira mulher à frente do Subcomitê de Emojis, do Consórcio Unicode, que reúne empresas de software e hardware que buscam tornar a linguagem na internet mais acessível a todos.
O setor em questão do Unicode é quem cria, lança e padroniza todos os emojis disponíveis na internet. Ou seja, Daniel é um dos verdadeiros rostos por trás das carinhas que fazem sucesso no celular, no WhatsApp e nas redes sociais.
"Tenho uma mente que gosta de ir mais além", afirmou durante apresentação sobre os emojis que chegarão em breve aos sistemas operacionais. "Explodia a minha cabeça quando eu mandava um emoji para alguém e a pessoa o recebia de forma diferente em seu celular", acrescentou.
"Os emojis precisam ser fluídos, assim como a comunicação (...) O que eu mais amo sobre o meu trabalho é que ele oferece essa oportunidade de estar bem no meio da história da comunicação. Não no começo nem no fim, mas no meio."
A missão de Daniel, desde que se envolveu com a linguagem dos emojis, é torná-la mais acessível. Ela deseja que as pessoas consigam expressar suas emoções por meio das pequenas figuras do celular. Na tentativa, chefiou sua equipe na criação da "cozinha de emojis" (emoji kitchen), lançada no final de 2020. A iniciativa faz misturas de ilustrações para criar figurinhas ainda mais fidedignas ao sentimento que o usuário quer expressar.
O foco, diz Daniel, está menos em representações humanas e literais das emoções, mas sim nos sentimentos abstratos
Cringe, porém pop
Apesar da nova geração criticar o uso do emoji do chorinho para indicar uma risada — uma coisa muito cringe, um levantamento do Unicode mostra que ele é um dos mais usados na internet.
"O riso é inerentemente social, não é apenas algo que fazemos para preencher o silêncio — é importante para a nossa sobrevivência", reflete Daniel. Por isso, é tão importante conseguir representá-lo na linguagem online.
A sensação de vergonha alheia dos jovens com relação ao emoji dos millennials mostra, no entanto, mais uma evolução da risada na internet. A geração Z gosta de usar uma caveirinha para indicar que está "morrendo de rir".
"Mas, não tema. A caveirinha não é um substituto para as lágrimas de alegria, é uma escalada", tranquiliza a especialista. O pessoal do TikTok criou, no fundo, um novo código de escrita. "Estamos 'morrendo de rir' de uma forma mais profunda e dramática, que é o que a experiência online de hoje demanda", diz.
Simples e diverso
A reflexão sobre as formas de se comunicar acabou potencializada pela pandemia de covid-19. O distanciamento físico obrigou muita gente a trocar mais mensagens com amigos, família, colegas de trabalho. Você reparou um aumento no envio e recebimento de emojis? Algumas pessoas sim.
Para Daniel, uma hipótese que pode justificar esse movimento é que, por estarem distantes, as pessoas sentem a necessidade de traduzir suas emoções. E os emojis fazem parte disso. "Eu mando dez emojis de coração para a minha mãe para que ela possa realmente sentir que eu não me esqueci dela. Você compensa a distância expressando seus sentimentos", afirma.
Nesse aspecto, a designer diz que menos é mais. Por isso, existe um trabalho para adotar figurinhas mais simples que digam muito mais do que uma ilustração cheia de pormenores. Para ela, na hora de mandar um emoji, um Gif, o que seja, a nossa identificação é com a emoção, não com como aquele desenho é fisicamente. "Desenvolver emojis mais abstratos é importante pela universalidade que eles representam", argumenta.
"Existe um número finito de símbolos que pode criar infinitas expressões. Quando eu penso em inclusão, essa é a minha filosofia, pelo mais simples e abstrato", completa.
Recentemente, o Unicode divulgou novos emojis que surgirão em breve nos sistemas operacionais, como a saudação de continência, o "coramão" e a "pessoa" grávida, ao invés de apenas "mulher". Essa nova leva contém justamente o conceito de universalidade que Daniel comenta, além de abranger mais diversidade e buscar representatividade.
Acessibilidade
Há 30 anos, diz a designer, era difícil se comunicar na internet em diferentes idiomas. Uma mensagem escrita em hindi, por exemplo, não poderia ser recebida por um computador que não tivesse o idioma em seu sistema. Tudo o que o receptor da mensagem via eram caixinhas. Então, surgiu o Unicode, que permitiu que todos os idiomas pudessem ser lidos na internet.
"Para quem não viveu essa época, é até difícil de imaginar. Mas agora as pessoas não estão se comunicando tanto com palavras quanto naquela época. Nossa banda larga está melhor, nossas resoluções estão melhores e nossos gráficos estão melhores. Nós compartilhamos memes, sticker e vídeos com muito mais frequência", destaca.
Porém, esses formatos não são totalmente acessíveis e essa é uma preocupação da designer. Entre a comunidade de pessoas cegas, os emojis são difíceis de serem traduzidos pelos sistemas que reproduzem em voz alta o que está exibido na tela do celular, por exemplo. Para Daniel, esse é o desafio atual da linguagem na internet.
"Assim como tivemos um desafio com os idiomas, agora, temos com a ampliação da acessibilidade às imagens e vídeos", explica.
Uma das soluções, diz Daniel, é apostar na descrição dos emojis nos sistemas operacionais. "Conseguir entender a melhor forma de descrever, entender essa questão e acompanhar a velocidade da linguagem vai ser muito importante para as plataformas. Esses são problemas que têm solução", conclui.
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