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Brasileiros descobrem detalhe de cometa com 2 corpos em zona perto da Terra

O cometa 2017 YE5 pode nos dar muitas respostas sobre a origem da vida na Terra - Divulgação
O cometa 2017 YE5 pode nos dar muitas respostas sobre a origem da vida na Terra Imagem: Divulgação

De Tilt, em São Paulo

04/09/2021 12h46

Investigação feita por pesquisadores do Observatório Nacional, no Rio de Janeiro, identificou o primeiro núcleo de cometa binário extinto da história na região próxima da Terra. Essa descoberta reforça a existência de cometas extintos e dormentes entre os Objetos Próximos da Terra (NEOs, na sigla em inglês), o que é bastante relevante para entender como o material volátil (inclusive a água) chegou até a Terra.

A equipe liderada pelo astrônomo Filipe Monteiro fez observações fotométricas do objeto 2017 YE5, que passou próximo da Terra em junho de 2018. Na ocasião, ele ficou a uma distância de 6 milhões de quilômetros (cerca de 16 vezes a distância da Terra à Lua), e cientista puderam ter mais detalhes sobre suas propriedades físicas.

"Diversos estudos têm apontado os cometas e asteroides primitivos como os principais fornecedores de material orgânico e volátil para Terra primitiva, o que pode ter ajudado a criar um ambiente capaz de gerar as primeiras formas de vida", ressaltou o astrônomo.

Por isso, os pesquisadores defendem que o binário 2017 YE5 parece ser um alvo plausível para uma missão espacial que buscaria amostrar do asteroide. O material pode significar um grande progresso na compreensão da história inicial do sistema solar, na investigação da origem da vida na Terra e no entendimento dos estados finais dos cometas.

Os observatórios de radar do Arecibo, Green Bank e Goldstone já tinha apontado que o 2017 YE5 é composto por dois corpos de cerca de 900 metros de diâmetro, que orbitam um ao outro em torno de um centro de massa comum entre eles. Só são conhecidos quatro sistemas binários assim na região dos NEOs — o 2017 YE5, o 69230 Hermes, o (190166) 2005 UP156 e o 1994 CJ1.

Agora, com os dados obtidos nos Observatórios Astronômico do Sertão de Itaparica (OASI), Astronómico Nacional de San Pedro Martír (OAN-SPM, México) e no Blue Mountain (BMO, Austrália), foi possível realizar uma caracterização mais completa, que inclui:

  • período orbital do sistema binário e o período rotacional dos componentes;
  • os índices de cor (relacionados à composição superficial do asteroides);
  • densidade média;
  • albedo (quantidade de radiação solar refletida);
  • tipo taxonômico (sistema de classificação de asteroides).

As investigações foram publicadas em agosto de 2021 no artigo "Physical characterization of equal-mass binary near-Earth asteroid 2017 YE5: a possible dormant Jupiter-family comet", na "Monthly Notices of the Royal Astronomical Society".

No artigo, os pesquisadores determinaram que o período orbital é de cerca de 24 horas, embora um dos objetos possa estar girando com um período de rotação de cerca de 15 horas.

"Geralmente, esses sistemas com corpos de tamanhos semelhantes estão totalmente sincronizados, o que significa que o período orbital é igual ao período de rotação dos corpos. Mas nesse sistema, um dos corpos parece não ter atingido a sincronização ainda. Uma das possibilidades é a de que o sistema seja relativamente recente e ainda não conseguiu atingir a sincronização completa", explicou Monteiro.

Além disso, os autores não descartam que os componentes desse sistema possam ter composições diferentes, o que tornaria o processo de sincronização mais longo devido à diferença entre as massas dos corpos.

O estudo indica que o objeto possui uma superfície muito avermelhada, consistente com os asteroides do tipo D —um tipo primitivo de asteroide, rico em material orgânico e volátil.

Segundo Monteiro, a densidade média do objeto é de cerca de 1g/cm³, o que sugere a presença de voláteis (por exemplo, gelos) no interior dos componentes do sistema, e os índices de cor obtidos são típicos de cometas da família de Júpiter.

"Essas características indicam que o sistema 2017 YE5 é um possível núcleo cometário binário, cujo material volátil foi perdido ao longo de sua história ou está guardado em seu interior", explicou o astrônomo.

Embora o objeto pareça um cometa extinto, já que não foi observado sublimação de gelo, ele foi classificado como dormente, pois os componentes voláteis podem estar abaixo de uma camada de rocha.