Nível 'péssimo' em SP: entenda como a qualidade do ar é medida nos bairros
A cidade de São Paulo registrou no último dia 23 o nível "péssimo" de qualidade do ar pela primeira vez desde 1996. O índice foi verificado na região de Perus, zona noroeste da capital, enquanto um incêndio atingia o Parque Estadual do Juquery, provocando uma 'chuva de cinzas' em vários locais. Mas você sabe o que dados assim significam e como essa medição é feita?
Primeiramente, temos que entender que a atmosfera é um meio fluido onde os poluentes são lançados e sua dinâmica é um fator determinante para dispersão e concentração deles. Após a chegada de uma frente fria com chuvas, por exemplo, a qualidade do ar tende a melhorar, porque elas dispersam esses poluentes.
Isso está relacionado a como a porção inferior da troposfera, que durante o dia chega à altura de 1 km a 1,5 km do solo. Ela é diretamente afetada pelas correntes termais que se formam pela convecção diurna, quando o ar circula em turbilhões verticais devido a diferenças de temperatura e densidade, explica Bruno Bainy, meteorologista do Cepagri (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Ele acrescenta que durante o dia e sob condições de poucas nuvens, temos forte turbulência nessa camada e ela atinge sua maior altura (espessura), o que favorece a dispersão de poluição do ar.
"Não se pode esquecer de mencionar que a qualidade do ar é determinada pelas fontes locais mais aquelas que são transportadas de média e longa distância. Os exemplos são os eventos de queimada que ocorrem no Brasil central e agora também muitos eventos próximos em São Paulo", afirma Maria de Fátima Andrade, professora titular do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo).
E foram esses ventos de queimadas os responsáveis por prejudicar a qualidade do ar em algumas regiões da capital e grande São Paulo — chegando a ficar com o nível "péssimo" em Perus, e também pela chuva de fuligem registrada em diversos bairros.
E por que só Perus ficou com status de "péssimo"?
Segundo Maria Lúcia Guardani, gerente da divisão de qualidade do ar da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), a explicação envolve a direção do vento de uma estação: "Poderia nem ter pegado Perus. Naquele dia das queimadas, o vento era do quadrante norte e esse quadrante norte estava jogando esse ar para nossa cidade. A direção de vento predominante levou esse poluente."
No dia 23 de agosto, a qualidade do ar ficou em "ruim", "muito ruim" ou "péssima" em 9 das 27 estações de medição da Cetesb na Região Metropolitana de São Paulo.
Como essa medição do ar é feita?
O monitoramento da qualidade do ar avalia a concentração de poluentes. Além dos parâmetros meteorológicos como direção e velocidade do vento, temperatura e umidade relativa do ar, o processo avalia ainda a quantidade de dióxido de enxofre (SO2), material particulado inalável (MP10), ozônio (O3), óxidos de nitrogênio (NO, NO2 e NOx), monóxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos não-metânicos (NMHC), segundo a Cetesb.
O resultado sai a partir de um número que mede a quantidade de partículas finas inaláveis. Para cada poluente medido é calculado um índice, chamado de valor adimensional — os resultados saem em µg/m3 (microgramas por metro cúbico).
Dependendo do índice obtido, o ar recebe uma qualificação, que é uma nota para a qualidade do ar, além de uma cor. São 29 estações medidoras atuando na Região Metropolitana de São Paulo.
- Entre 0 e 40: qualidade do ar é "boa";
- Entre 41 e 80: é "moderada";
- Entre 81 e 120: é "ruim";
- Entre 121 e 200: é "muito ruim";
- Acima de 200: é "péssima".
"A estação medidora é como um laboratório físico-químico, com equipamentos que trabalham sem manuseio. As amostras são coletadas por uma sonda, que funciona mais ou menos como o ar que respiramos. Esse ar vai entrar por essa sonda e chega até nosso equipamento, que atua automaticamente. Ali existe alta tecnologia, o ar passa por diversos sensores que vão dizer quanto tem de cada partícula", explica Maria Lúcia Guardani, da Cetesb.
De acordo com a Companhia Ambiental, a referência para determinar os níveis de poluentes e a qualidade de ar resultam a partir de estatísticas da Organização Mundial da Saúde. Quando a situação é considerada boa, não traz riscos à saúde da população.
Já na qualidade "moderada", pessoas de grupos sensíveis, como crianças, idosos ou pessoas com doenças respiratórias, podem apresentar sintomas como cansaço e tosse. Quando a qualidade do ar cai para "ruim", toda população pode apresentar sintomas como tosse seca, cansaço e ardência nos olhos, nariz e garganta — pessoas do grupo sensível podem apresentar efeitos mais sérios.
Já nas piores condições todos podem ter efeitos mais graves. Com a qualidade do ar "muito ruim", toda população pode apresentar falta de ar e respiração ofegante, com grupos de risco podendo chegar a ter efeitos graves à saúde.
No caso da qualidade "péssima", como a registrada em Perus, toda a população pode apresentar sérios riscos de manifestações de doenças respiratórias e cardiovasculares e há risco de mortes prematuras em pessoas de grupos sensíveis.
São Paulo terá novos padrões para qualidade do ar
O Consema (Conselho Estadual do Meio Ambiente) de São Paulo aprovou em maio deste ano os novos padrões para qualidade do ar no estado, que passarão a valer a partir de janeiro de 2022. A aprovação levou em conta um estudo técnico realizado pela Cetesb que considerou a evolução da qualidade do ar ao longo do tempo, além de novas tecnologias disponíveis, tanto no setor automotivo como no industrial.
Os estudos demonstram que, desde 2014, os níveis de material particulado no ar na atmosfera da Região Metropolitana de São Paulo foram reduzidos de 36 µg/m3 para 27 µg/m3.
Isso não significa, contudo, que haverá uma mudança na avaliação da qualidade do ar, segundo a gerente Maria Lúcia Guardani. A mudança afeta mais a forma como as empresas emitem poluentes e está relacionada às metas de emissão dos municípios, agora mais rígidas. "Quando temos qualidade do ar, a nossa referência é a OMS, que determina quais são os níveis onde cada poluente não vai trazer dano a saúde das pessoas, que é nossa qualidade considerada boa", afirma.
Logo, mesmo com a mudança na meta para as empresas, não haverá mudanças na avaliação da qualidade do ar para as pessoas. "Independentemente da meta, o que estamos dando de informação para a população é o que é considerado bom segundo a OMS. Para quem está na rua, quem vê o relatório, não existe mudança alguma", acrescenta Guardani.
Para quem quer saber como está a qualidade do ar em alguma região do Estado de São Paulo, a Cetesb criou um aplicativo que mostra esses níveis. O app está disponível das lojas dos sistemas operacional Android e iOS. Também é possível acompanhar mudanças pelo site dela.
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