Facebook na mira: investigação do WSJ revela segredos incômodos da empresa
O Facebook, dono da maior rede social do mundo, do Instagram e do WhatsApp, está na mira do jornal WSJ (Wall Street Journal). O veículo de imprensa teve acesso a documentos internos que revelam informações sobre as práticas da companhia. A partir deles uma grande investigação sobre a empresa fundada por Mark Zuckerberg teve início.
Relatórios de pesquisa, discussões online com funcionários, rascunhos de apresentações para a administração do Facebook e vários documentos internos fizeram o jornal concluir que a empresa sabe muito bem que suas plataformas estão repletas de problemas que causam danos às pessoas.
Até agora, foram publicadas quatro reportagens da série chamada "The Facebook Files" (Os Arquivos do Facebook, em tradução livre). Reunimos abaixo um resumo do que foi divulgado pelas investigações do WSJ:
1. Regras não valem para todos
Ao abrir uma conta na rede social, você concorda com os termos de uso da plataforma. Funciona como um contrato. Para manter sua conta, você deve seguir as normas determinadas por ela. Ninguém pode postar nudez, cometer crimes de ódio, assédio ou espalhar fake news no Facebook. Teoricamente.
Dizem que toda regra tem exceção. Com o Facebook não é diferente. A primeira reportagem do WSJ revelou que o Facebook oferece privilégios para um seleto grupo de celebridades, jornalistas e políticos. Algumas pessoas não são obrigadas a seguir todas as normas de uso da rede social. São quase como membros VIPs do Facebook.
Um programa chamado de "XCheck" dentro da empresa foi criado para funcionar como um controle de qualidade para perfis de pessoas importantes. Hoje, é uma ferramenta que protege esse seleto grupo da fiscalização comum da companhia e acaba blindando os membros que violam as regras. Há 5,8 milhões de contas nas redes sociais do Facebook que são privilegiadas, segundo a reportagem.
Entre aqueles que têm liberdade para burlar as regras se desejar está o jogador Neymar. Em 2019, o atleta divulgou no Facebook e no Instagram fotos íntimas de uma mulher que o acusou de estupro, a modelo Najila Trindade. A regra para esse tipo de violação é clara: apagar a postagem e bloqueio de conta. Por mais de um dia, no entanto, a empresa manteve as postagens no ar de forma deliberada e impediu moderadores do Facebook de deletar os vídeos. Neymar não perdeu acesso às suas contas também.
O ex-presidente dos EUA Donald Trump também teve postagens na rede social que feriram as regras, mas que o Facebook não agiu como agiria com "internautas comuns". O próprio Mark Zuckerberg também faz parte da lista de privilegiados. Donald Trump Jr., a senadora norte-americana Elizabeth Warren e a ativista política Candace Owens. A lista é bem grande.
2. O Facebook sabe que o Instagram é tóxico para os jovens
As consequências do Instagram para a saúde mental de adolescentes são estudadas pelo Facebook há anos. A empresa sabe o mal que a rede social faz para os jovens, especialmente entre as garotas.
Em um grupo de mensagens interno da firma, uma apresentação mostra que 32% das meninas dizem que o Instagram as deixa pior quando elas se sentem mal em relação aos próprios corpos.
Em um relatório de 2019, o Facebook afirma: "Nós pioramos os problemas com a imagem do próprio corpo para uma a cada três garotas adolescentes." A pesquisa interna ainda mostra o impacto da rede social no aumento de quadros de ansiedade e depressão.
Publicamente, Mark Zuckerberg negou os resultados, afirmando que o Instagram faz bem ao aproximar pessoas.
Em resposta ao jornal, Karina Newton, chefe de política pública do Instagram, escreveu no blog oficial da rede social que a empresa está pesquisando maneiras de impedir que os frequentadores do app passem muito tempo observando "certos tipos de postagem".
3. O Facebook tentou se tornar um ambiente mais saudável, mas não deu certo
Em 2018, o Facebook fez uma mudança em seu algoritmo para melhorar a plataforma e aumentar o engajamento entre os frequentadores. O objetivo era tornar o ambiente mais saudável e aproximar ainda mais amigos e familiares, tornar a rede social mais pessoal, e dar menos espaço para conteúdos produzidos de forma profissional.
Dentro da empresa, funcionários alertaram que a mudança estava gerando o efeito contrário: todo o mundo no Facebook estava ainda mais furioso.
Os pesquisadores da empresa descobriram que editores e partidos políticos estavam refazendo suas postagens para viralizar por meio de sensacionalismo. Havia cada vez menos interação e cada vez mais discursos inflamados, tornando o ambiente insuportável.
Consequentemente, também houve aumento da proliferação de desinformação, conteúdo falso e polarizado dentro da plataforma.
Levou muito tempo para a empresa tentar resolver o problema. No mês passado, quase um ano e meio depois do alerta dos funcionários, o Facebook anunciou que começaria a realizar testes para colocar menos ênfase em conteúdo político.
4. O Facebook é usado para o tráfico de drogas e de pessoas
Os documentos levantados pelo WSJ mostram que as plataformas do Facebook são usadas por traficantes de pessoas no Oriente Médio para atrair mulheres para situações de trabalho abusivas. Grupos armados da Etiópia e cartéis de drogas no México também usam a rede social para recrutar mais pessoas para os crimes.
Claro que cometer crimes também é uma das proibições dos termos de uso da rede, mas, mesmo assim, o Facebook não impediu criminosos de países em desenvolvimento de fazerem postagens criminosas, segundo a reportagem.
São regiões em que o Facebook está em crescimento. Os documentos também mostram que, em alguns casos, não há funcionários que falem a língua do país onde os delitos são cometidos, o que dificulta ainda mais a moderação do conteúdo.
Em entrevista ao jornal, Brian Boland, ex-vice-presidente do Facebook, afirmou que a empresa encara os danos em países em desenvolvimento simplesmente como "o custo de fazer negócios". Boland supervisionou parcerias com provedores de internet na África e na Ásia antes de deixar seu cargo da empresa.
"O Facebook concentrou seus esforços de segurança em mercados mais ricos com governos e instituições de mídia poderosos", afirmou Boland ao WSJ.
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