É bom guardar na geladeira? Ciência esclarece mitos e verdades da supercola
Todo mundo tem uma história com supercola instantânea — seja porque ela salvou o dia ou porque simplesmente colou tudo mesmo (até o que não devia). Um salto de sapato quebrado, um vaso que rachou, um brinquedo amado que ficou destruído... os dedos.
É na hora desespero de querer arrumar algo que esse sentimento de urgência também faz com que o seu uso cause alguns acidentes. Mas ela é capaz de colar tudo como muita gente acredita? Existe algum segredo para fazer a supercola durar? Podemos usar em unhas e cílios?
Para tirar essas dúvidas, Tilt organizou uma lista com mitos e verdade sobre o produto e sua substância química ativa.
O que é a supercola?
Para começo de conversa, colas na linha Super Bonder (uma das marcas mais conhecidas no mundo) nada mais são do que um adesivo líquido à base de cianoacrilato (seu nome técnico). Em outros termos, trata-se de uma cola instantânea de alta resistência e secagem rápida.
A fórmula atual é resistente a ambientes com umidade, além de suportar altos impactos e temperaturas que vão de -50°C até 120°C, explica a química Luci Silva, gerente de desenvolvimento de produtos da Henkel, que produz a Super Bonder.
Quais materiais ela pode ser usada?
As supercolas vão bem em superfícies como pedra, metal, madeira, couro, cerâmica, papel e na maioria dos plásticos como acrílico (PMMA), policarbonato (PC), poliestireno (PS) e policloreto de vinila (PVC).
Mas note: esse tipo de adesivo líquido não é indicado para colar polietileno (PE), polipropileno (PP), silicone, resina antiaderente (PTFE), isopor e tecidos.
Preciso armazenar a cola sempre na geladeira?
Mito. É verdade que, de um modo geral, temperaturas baixas auxiliam na conservação dos mais diversos produtos. Sobre as supercolas, são dois os fatores combinados que determinam a sua durabilidade: o armazenamento adequado e em temperatura ambiente ou refrigerada.
Ou seja, mesmo no armário ou na geladeira, é preciso que a cola esteja guardada nas condições ideais: bem fechada, de pé (para evitar vazamentos), longe de alimentos e em local seco.
"O produto reage com a umidade, é quimicamente reativo. A partir do momento que entra em contato com o ambiente, começa o processo de cura, que nós chamamos de polimerização. Limpe bem o bico para encaixar direito a tampa e evitar excessos no aplicador. Às vezes, é o excesso que não deixa a tampa vedar que abre caminho para a umidade e polimeriza", explica Silva.
Esse tipo de cuidado com o aplicador ajuda a reduzir a popular queixa de "Ops! Colou a tampa!". Uma vez que a reação química começa, ela vai até o final, endurecendo todo o frasco.
"Se optar por guardar em geladeira, é bom manter longe de alimentos, segregar ou identificar para não haver confusão com medicamentos (como colírio), além de cuidar para que fique longe do alcance das crianças", acrescenta a química.
Posso fazer uso estético em dentes, unhas e cílios?
Mito. As supercolas não devem ser aplicadas em tecidos vivos ou qualquer parte do corpo humano. E isso vale para tudo, incluindo dentes, cílios, unhas e orelhas. O YouTube e as redes sociais estão lotados de "dicas" sugerindo o uso da substância em tecidos humanos, mas o produto não é recomendado.
Embora haja relatos de que o cianoacrilato tenha sido usado para estancar ferimentos de guerra ou mesmo em emergências hospitalares, vale notar que na cola cirúrgica que foi desenvolvida para a pele humana são adicionadas substâncias extras para deixar o produto maleável e asséptico.
Portanto, evite usar a supercola no esmalte, colar cílios postiços (que usam também uma cola a base de cianoacrilato, mas similar a que cirurgiões usam no lugar dos pontos para fazer suturas), colar orelhas, apliques no couro cabeludo, pedaços de dentes, entre outros.
"Todo produto que é feito para ter contato com o corpo humano passa por homologação específica para esse uso. O produto é de baixa toxicidade, mas não é recomendado para uso na pele. Cada pessoa tem uma sensibilidade. Alguém pode aplicar na unha e não ter problemas, mas outro pode ter uma alergia", explica Silva.
A cola pode "colar" dentro da embalagem?
Verdade. Com a tampa aberta ou mal vedada, o produto "cura" (como explicado acima) quando em contato com umidade relativa do ar. Quando esse processo se inicia, não para, fazendo o produto secar inteiro no interior da embalagem.
A forma de evitar esse tipo de ocorrência é sempre manter a tampa bem fechada, limpar o excesso do bico após usar e manter o produto em local seco, arejado, sem calor e umidade.
A cola serve para recuperar plantas quebradas?
Mito. Não, não use em tecidos vivos. Por mais que a cola instantânea possa segurar troncos e caules de plantas, esse tipo de produto possui componentes químicos que não foram desenvolvidos para isso e podem obstruir o fluxo da seiva, que leva a água e os nutrientes.
Dá para usar supercola instantânea no tênis?
Verdade. Dá sim, mas não é qualquer cola. Existem supercolas instantâneas específicas para reparos em objetos flexíveis, como a sola de um tênis que fica em constante movimento ou a alça de uma mochila. Elas possuem maior resistência à flexão e impactos quando secam.
Além da flexibilidade, o gel não pinga e permite um tempo maior (ainda na escala dos segundos) para fazer ajustes. É ideal para quem não tem tanta habilidade na aplicação da cola.
Dá para puxar um trem com Super Bonder?
Verdade. Até dá. Uma façanha aconteceu nos Estados Unidos e entrou para o Guinness em 2011. Uma caminhonete e um carro, que somados pesavam oito toneladas, foram içados depois que foram aplicadas nove gotas de Super Glue (como é chamada Super Bonder por lá) no suporte para prender os veículos na grua. "Não recomendamos fazer isso em casa, pois a experiência foi feita em local controlado, mas provamos a resistência do produto", explica a química Silva.
Em outra ocasião, foi feito um teste com uma locomotiva de 208 toneladas com adesivo industrial híbrido Loctite HY4070, que tem tecnologia semelhante a da supercola (mas não é 100% cianoacrilato).
A combinação química usada representou um avanço na adesão estrutural e foi formulada para atender às crescentes demandas em projetos de montagem e reparos. São capazes de puxar um trem de carga com 3 gramas de produto, deixando curar por uma hora.
Existe um "Descola Tudo" para emergências?
Verdade. É possível salvar roupas que tiveram contato com a supercola ou remover excesso e respingos se necessário.
"Excessos de cola e também na 'colagem de dedos', é possível trabalhar com água morna e/ou removedor de esmaltes à base de acetona que se encontra facilmente na farmácia, fazendo movimentos leves (no contato com a pele), no caso de uma emergência", destaca a química.
Produtos solventes em gel, à base de carbonato de propileno, também podem ser usados no processo.
Contudo, se a supercola cair em uma superfície, é preciso avaliar. Em caso de tecidos muito delicados, solventes à base de acetona podem prejudicar mais a situação. Correr para lavar com água corrente ou fria pode acelerar a polimerização. Portanto, se você não quer perder sua blusa, seja cauteloso e avalie a superfície antes de tomar uma decisão.
O processo é simples: onde foi aplicado o removedor (também em poucas gotas), deixe agir por alguns minutos e, de forma mecânica, os componentes da supercola serão separados.
Quanto mais gotas colocar, maior será a fixação?
Mito. Bastam poucas gotas. Variando, claro, a quantidade de cola de acordo com o material e a extensão de cada superfície. Isso explica o tamanho dos frascos, que são sempre bem pequenos.
"Como a umidade do ambiente tem relação direta com o tempo de secagem, a aplicação de muito produto demora mais para secar e dificulta o posicionamento e a colagem. Além disso, a sobra pode escorrer pelas laterais do objeto deixando a peça com um acabamento esteticamente ruim", explica a especialista.
Não é recomendado, também, usar químicos caseiros (aqueles que você encontra na dispensa) para criar ligas. "O produto está pronto para uso. Não faz sentido agregar coisas, o que vai acontecer é uma reação química que você não tem como prever e pode prejudicar a fixação. Isso pode piorar a performance, aumentar o tempo de secagem e reduzir a resistência dessa cola no futuro", conclui.
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