Impacto na saúde mental de jovens leva Facebook de volta ao Senado nos EUA
A chefe global de segurança do Facebook, Antigone Davis, deve comparecer perante um subcomitê do Senado dos Estados Unidos nesta quinta-feira (30). O convite, que traz de volta a rede social aos holofotes do congresso do país, envolve potenciais efeitos nocivos que seus serviços — como o Instagram — podem ter sobre as crianças e os adolescentes.
A audiência marcada na agenda do Senado recebeu o nome de "Protegendo Crianças Online: Facebook, Instagram e Danos à Saúde Mental" e ocorre depois que o WSJ (Wall Street Journal) publicou uma série de reportagens sobre como a rede social, ciente dos efeitos prejudiciais a menores na plataforma, os reconhece, porém os minimiza publicamente.
A resposta do Facebook aos artigos do WSJ já dá uma dica de como a empresa — que é dona do Instagram e do WhatsApp — está planejando defender as suas plataformas das críticas de senadores. A companhia negou que sua plataforma seja tóxica e que tentou esconder a pesquisa em questão.
Os legisladores, provavelmente, vão pressionar Davis para arrancar mais detalhes sobre como o Facebook está combatendo impactos potencialmente prejudiciais causados pelo seu algoritmo e tentar responsabilizar a plataforma publicamente pelo que foi divulgado.
Instagram e conteúdo tóxico
Em uma das reportagens, o WSJ vazou uma pesquisa interna do Facebook que demonstra que o Instagram pode prejudicar a saúde mental de meninas adolescentes, criando expectativas sobre sua imagem corporal.
Além do impacto da plataforma no aumento de quadros de ansiedade e depressão, 32% das meninas ouvidas disseram que o Instagram as deixa pior quando elas se sentem mal em relação aos próprios corpos. Em outro relatório de 2019, o Facebook reconheceu que piorou problemas com a imagem do próprio corpo para 1 a cada 3 garotas adolescentes no app.
A rede social, contudo, se opôs a maneira como WSJ interpretou os estudos internos aos quais tiveram acesso e afirma que os documentos também abordam os impactos positivos que o aplicativo tem sobre o público jovem. Em paralelo, o Instagram anunciou na segunda-feira (27) que iria dar uma pausa no projeto que cria uma versão infantil do app.
Infelizmente, a plataforma não divulgou os dados positivos citados pela vice-presidente e chefe de pesquisa do Facebook, Pratiti Raychoudhury, em sua resposta às reportagens do WSJ. O que torna mais difícil avaliar se as interpretações foram de fato fora da curva, destacou reportagem do The Verge.
Contudo, esta não é a primeira vez que ouvimos sobre problemas como esses no app.
Histórico de polêmicas
Pelo menos três polêmicas apontam para o Instagram com um potencial vilão na saúde mental de crianças e adolescentes. Em fevereiro de 2019, a rede social admitiu que a plataforma tem um problema no policiamento de conteúdo sobre automutilação.
Adam Mosseri, presidente-executivo da plataforma, disse na época que a empresa estava trabalhando para remediar isso. Ao site Telegraph, o executivo afirmou que lamentava a morte de Molly Russell, 14, em 2017, e que isso pressionou a empresa a melhorar a sua triagem de conteúdo envolvendo autoagressão.
Conteúdo de autoagressão
Russell morreu por suicídio. Sua família diz que ela seguia várias contas de automutilação com mensagens sobre tirar a própria vida no Instagram. Esse tipo de conteúdo já era proibido na ocasião, mas a plataforma dependia principalmente da comunidade para denunciá-los.
Após sua morte, a empresa treinou engenheiros e revisores de conteúdo para localizar posts relacionados ao tema mais rapidamente e implementou medidas para impedir sugestões de imagens, hashtags, contas e digitação relacionadas a esses termos na guia de pesquisa.
"Queremos muito acertar e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance", disse Mosseri.
A pior rede social para jovens
Em maio do mesmo ano, uma pesquisa apontou o Instagram como o pior aplicativo de rede social para a saúde mental de jovens. O relatório é da Royal Society for Public Health, no Reino Unido.
Foram entrevistados cerca de 1.500 jovens de 14 a 24 anos sobre como plataformas de mídia social afetam questões de saúde e bem-estar, provocando emoções ruins como ansiedade, depressão, problemas com a própria identidade e imagem corporal.
O relatório que rodou o mundo todo listava o Instagram no topo da lista em termos de impacto negativo — principalmente entre mulheres jovens. Segundo a pesquisa, a plataforma faz com que as adolescentes se comparem a versões irreais, cobertas de filtros e modificadas por Photoshop, da realidade. Fazendo com que mulheres sintam que seus corpos não são bons o suficiente, pois a cultura do Instagram é de que pareçam perfeitas.
Efeito Kardashians
Em setembro de 2019, o Instagram disse que iria restringir quem pode ver posts sobre procedimentos cosméticos, cirurgias estéticas e produtos para perda de peso, largamente divulgados no mundo todo por personalidades fashion e fitness como as irmãs Kardashians.
A plataforma começou a impedir que pessoas com menos de 18 anos vejam conteúdos que promovam produtos para perda de peso e cirurgia estética. Em alguns casos, os posts também podem ser apagados.
A restrição de idade acontece nos casos em que os posts incluem um incentivo para comprar ou são acompanhados por um preço do produto. Já a remoção ocorre se foi feita uma afirmação milagrosa sobre certos produtos para dieta ou perda de peso e estiver vinculada a uma oferta comercial, como um código de desconto.
As diretrizes e políticas de publicidade do Instagram nunca permitiram a promoção desses produtos, mas a explosão de influenciadores neste ramo levou a ações adicionais no app.
Flashback do caso Cambridge
Para analistas, as tentativas de rebater acusações e críticas sobre o algoritmo do Instagram é muito similar a forma como o Facebook lidou com os escândalos envolvendo a Cambridge Analytica, que revelou como era fácil coletar dados pessoais de usuários do Facebook para fins questionáveis (como influenciar eleições e mostrar aos membros conteúdo enviesado).
Políticos de ambos os partidos políticos nos EUA têm pressionado as plataformas de tecnologia de forma mais agressiva sobre o impacto que elas têm sobre a saúde mental de usuários mais jovens. A audiência será transmitida ao vivo por volta das 10h30 em Washington (11h30, no horário de Brasília) no site do subcomitê de privacidade do Senado.
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