'Cocô espacial' e mais: 5 grandes questões sobre filme russo gravado na ISS
A era do turismo no espaço ganhou força neste mês com a viagem de quatro civis liderada pela empresa SpaceX, de Elon Musk. E os planos não vão parar por aí. A próxima grande jornada dos humanos será fazer um filme com cenas gravadas fora da Terra. Mas qual será o primeiro país a conseguir fazer isso em meio a uma nova corrida espacial?
Parece que, dessa vez, a Rússia está um passo à frente dos Estados Unidos nesse processo. Em 5 de outubro, o diretor Klim Shipenko e a atriz Yulia Peresild voarão para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) onde passarão uma semana e meia filmando partes do filme russo chamado "Challenge" (Desafio, em tradução livre).
Na outra ponta, um documentário japonês e um longa-metragem norte-americano estrelado pelo ator Tom Cruise também estão em andamento. Este último com previsão para decolagem também em outubro deste ano.
O filme russo tem o apoio da agência espacial da Rússia, a Roscosmos, e Peresild interpretará uma cirurgiã que irá conduzir uma operação cardíaca em um cosmonauta (como o país denomina sua tripulação espacial) doente.
Peresild e Shipenko estão em treinamento desde maio na Cidade das Estrelas, em Moscou, que abriga o Centro de Treinamento de Cosmonautas Yuri Gagarin.
Contudo, o processo de filmagem no espaço gera algumas dúvidas curiosas. Em artigo publicado no site The Conversation, a arqueóloga espacial Alice Gorman destacou alguns:
Como a tripulação da ISS reagirá a uma 'turista' mulher?
Devido ao histórico de mulheres russas no espaço, a questão parece ser bem importante. Afinal, os russos não estão acostumados com pessoas do sexo feminino em suas naves.
Após a primeira mulher no espaço, Valentina Tereshkova, em 1963, somente outras quatro cosmonautas deixaram a Terra.
Svetlana Savitskaya foi a segunda, em 1982, e, ao chegar, recebeu de seus companheiros de tripulação na estação espacial Mir um avental — sugerindo que ela trabalharia na cozinha.
Gorman conta que já ouviu um treinador de cosmonautas dizendo que "o espaço não é lugar para uma mulher."
Por outro lado, na Rússia, a medicina é vista como uma profissão feminina, papel que Peresild interpretará.
E os banheiros espaciais?
A higiene pessoal não é algo fácil na estação espacial. Os banheiros fazem uso de bombas a vácuo para sugar tudo do corpo para dentro dos tanques. Além disso, urina é reciclada para aumentar o suprimento de água da estação.
E não para por aí.
Em 2009, foi criada a "política do cocô espacial" devido às relações tensas entre Moscou e Washington. Com isso, tripulações russas e norte-americanas não podem usar os banheiros uns dos outros.
Outro ponto a se destacar é que a Nasa, agência espacial dos EUA, instalou o primeiro banheiro feminino na estação somente em 2020. No segmento russo, onde acontecerão as filmagens, há um antigo banheiro projetado para a anatomia masculina.
A pergunta é: Peresild usará o banheiro da Nasa?
Quão realistas serão as cenas de cirurgia?
Líquidos não contidos formam bolhas e flutuam no ambiente espacial. Portanto, cirurgias no espaço apresentam alguns desafios, porque o sangue tende a se acumular nas partes superiores do corpo.
Para missões futuras, estão em desenvolvimento tecnologias que inclui cirurgia robótica, conduzida por braços mecânicos, e espécie de cápsula para envolver o paciente (aumentando sua proteção e mantendo o ambiente mais controlado).
No filme, como será feito para retratar essa parte tão importante e essencial? Não sabemos ainda.
A equipe de filmagem deixará algo para trás no espaço?
Para a filmagem, obviamente, a equipe do longa-metragem russo terá que levar todo o seu equipamento com eles. Entretanto, na volta para a Terra, experimentos científicos são priorizados devido ao espaço limitado de carga na nave.
Caso não haja espaço, os objetos de filmagem acabarão ficando para trás na estação espacial.
E depois?
Diversos filmes sobre viagens espaciais receberam indicações ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais. Contudo, no caso de "Challenge" esses efeitos visuais serão situações reais.
Podemos dizer, então, que o longa-metragem russo será um ponto de virada para retratar como os ambientes espaciais são realmente? E o público? Irá preferir as cenas fantasiosas ou as imagens reais de uma estação espacial em funcionamento?
A Estação Espacial Internacional
A Estação Espacial orbita cerca de 400 quilômetros acima da Terra e tem 16 módulos travados em uma configuração cruzada, sendo seis módulos russos no segmento orbital russo e 11 módulos administrados pelos EUA, Japão e Agência Espacial Europeia no segmento espacial norte-americano.
Em geral, são entre três e seis tripulantes morando na estação e trabalhando, principalmente, em experimentos científicos. Contudo, algumas áreas do local têm mais de 20 anos, o que demanda muita manutenção também.
A estação recebe naves espaciais, como a russa Soyuz e a cápsula de passageiros Dragon, da SpaceX, regularmente para levar tripulação e suprimentos, além de devolver outros à Terra.
Uma curiosidade é que, normalmente, as estações espaciais em filmes não correspondem à verdade. Não tem nada de interiores futuristas, pelo contrário, há cabos por toda parte, paredes cheias de equipamentos, ferramentas, pacotes de alimentos e notas, e mais de seis mil objetos perdidos pela tripulação.
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