'Facebook prefere lucros à segurança': 5 revelações de uma ex-funcionária
Tornar o Facebook mais seguro significaria ganhar menos dinheiro — por isso, não se esforça para combater a desinformação e discursos de ódio. É o que afirma uma ex-funcionária da maior empresa de redes sociais do mundo.
Frances Haugen (37) é engenheira de computação com MBA em Harvard e foi diretora de integridade cívica do Facebook nos últimos dois anos, até se demitir em maio de 2021. Ela vazou à imprensa e à justiça dos Estados Unidos milhares de páginas de documentos confidenciais.
Haugen revelou sua identidade no domingo (3), em uma entrevista ao programa 60 Minutes, da CBS. Ela irá depor no Congresso na terça-feira (5), a respeito do impacto das plataformas da empresa para os jovens. Curiosamente, nesta segunda-feira (hoje), todas elas — Facebook, Instagram e Whatsapp — saíram do ar.
Confira as principais revelações da ex-funcionária do Facebook.
1. Lucros acima da segurança
"O Facebook se deu conta de que, se mudar o algoritmo para ser mais seguro, as pessoas vão gastar menos tempo no site, clicar em menos anúncios e, consequentemente, gerar menos dinheiro", disse.
A desinformação gera mais engajamento.
Haugen, que já trabalhou para outras gigantes de tecnologia, como Google, Pinterest e Yelp, acredita que a empresa de Mark Zuckerberg é "substancialmente pior do que qualquer outra".
"O Facebook, repetidamente, mostrou que prefere o lucro à segurança. Está subsidiando seus lucros com a nossa segurança", pontuou.
2. Tóxico para os jovens
Segundo a ex-diretora, a empresa tem conhecimento de que seus produtos estão prejudicando a saúde mental e a autoestima dos jovens, principalmente de garotas adolescentes. Documentos vazados, publicados pelo The Wall Street Journal, mostram que 32% delas dizem que o Instagram faz com que se sintam mal em relação a seus corpos.
"Nós pioramos os problemas com a imagem do próprio corpo para uma a cada três garotas adolescentes", diz uma apresentação interna.
Também há indícios de que as redes sociais potencializam casos de ansiedade e depressão entre os jovens.
3. Cultura de ódio
"É mais fácil inspirar as pessoas à raiva do que a outras emoções", disse Haugen na entrevista.
Ao alimentar discursos de ódio e divisionistas, a empresa ganha mais dinheiro.
"Quanto mais você sentir raiva, mais vai interagir, mais conteúdo vai consumir", criticou.
Ela explicou que, ao determinar quais conteúdos mostrar para cada pessoa, o algoritmo é orientado a priorizar aqueles que gerem reações negativas.
"E isso corrói nossa confiança cívica, corrói nossa fé uns nos outros, corrói nossa capacidade de querer cuidar uns dos outros. A versão atual do Facebook está destruindo nossas sociedades e causando violência étnica em todo o mundo", alertou.
4. Ameaça à democracia
Haugen lembrou que, na época das eleições presidenciais norte-americanas de 2020, o Facebook ativou sistemas de segurança para tornar o ambiente menos hostil — após diversas denúncias de interferência política nos anos anteriores.
Porém, assim que o período eleitoral terminou, esse sistema foi apagado.
"A configuração voltou a ser a mesma de antes, priorizando o crescimento e não a segurança. Isso realmente me parece uma traição à democracia", disse ela, que defende o monitoramento público das redes sociais.
5. Manipulação dos investidores
Haugen também acusa o Facebook de enganar seus próprios investidores, emitindo comunicados que mascaram os problemas e não correspondem às ações internas da empresa.
"Há declarações falsas e omissões relevantes nos memorandos aos investidores e potenciais investidores", comentou no programa.
Ela abriu um processo de delação junto ao órgão regulador de mercado dos Estados Unidos.
O que diz o Facebook
O Facebook negou todas as acusações e classificou as declarações da ex-funcionária como "enganosas". Em nota ao 60 Minutes, a empresa disse que mantém contratos com 80 agências de checagem em 60 idiomas e que um ambiente violento é ruim para os usuários, para os anunciantes e para os negócios.
Esta nova etapa de polêmicas sobre privacidade de dados, desinformação e discurso de ódio no Facebook pode levar a punições e decisões judiciais inéditas.
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