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Impostos e dólar? O que faz o iPhone 13 no Brasil ser o mais caro do mundo

IPhone 13 e iPhone 13 mini em cinco cores - Divulgação/ Apple
IPhone 13 e iPhone 13 mini em cinco cores Imagem: Divulgação/ Apple

Hygino Vasconcellos

Colaboração para Tilt, de Balneário Camboriú (SC)

23/10/2021 04h00Atualizada em 27/10/2021 18h03

Os novos iPhones começaram a ser vendidos ontem no Brasil com preços que vão de R$ 6.599 a R$ 15.499. O iPhone 13, por exemplo, custa a partir de R$ 7.599. Com esse valor, o modelo vendido no Brasil ganhou o posto de mais caro do mundo, segundo um levantamento que comparou preços em diferentes países.

De acordo com relatório realizado pelo site Nukeni, o iPhone 13 de 128 GB custa no Brasil o equivalente a US$ 1.349,15. Nos Estados Unidos, o local onde o aparelho é menos caro, ele pode ser encontrado por US$ 829 — valor do site oficial da Apple do modelo desbloqueado.

Além dos EUA, Japão, Hong Kong e Tailândia possuem o modelo mais em conta entre os locais analisados. A Turquia é o segundo lugar mais caro, bem próxima do Brasil, com o valor de US$ 1.248,83. Mas o que deixa o iPhone 13 tão caro por aqui?

A alta carga de impostos e o dólar em alta são duas das explicações, segundo especialistas consultados por Tilt. Contudo, antes de entrar nas percepções dos entrevistados, é importante destacar que, mesmo sendo mais caro no Brasil, o iPhone 13 ainda chegou ao país custando menos do que o seu modelo anterior, lançado em 2020.

O iPhone 12 com 128 GB de memória interna começou a ser vendido por R$ 8.499. Ou seja, R$ 900 mais barato.

1. Alta carga tributária

Não é novidade para ninguém da alta carga de impostos no Brasil. E o iPhone não escapa disso: 40,14% do valor do aparelho é para o pagamento de tributos, conforme cálculos do advogado tributarista Eduardo Natal, do escritório Natal & Manssur.

Por ser um produto internacional, 14,78% vai para pagamento do imposto de importação e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), explica.

Há ainda outros 8,37% que são destinados para outros dois tributos federais:

  • PIS (Programa de Integração Social)
  • Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social), que é uma contribuição para o financiamento da Seguridade Social, incluindo a Previdência Social, a Assistência Social e a Saúde Pública.

Além disso, outros 17% são para o pagamento de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). O tributo é estadual e, por isso, varia de lugar para lugar. Porém, o advogado toma como base uma média calculada pelo IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário).

Diferentemente de outros países, o Brasil tributa toda a cadeia produtiva, desde a fabricação até a hora do produto ser pago no caixa, destaca o especialista.

Em outros lugares do mundo, a tributação recaí mais sobre a renda, o que ajuda a evitar desigualdades. Ao fazer as compras no supermercado, por exemplo, os impostos não são pagos na boca do caixa, mas acabam sendo cobrados depois, de acordo com o rendimento anual da pessoa.

Para Natal, uma saída para a redução das cargas tributárias em um produto seria uma reorganização do sistema tributário. "O fato é que o consumidor paga muito do consumo. O operador comercial também paga muito cara a tributação de toda a cadeia de revenda desse produto. Sobra pouco para pagar até mesmo imposto de renda", afirma.

No começo deste ano, o STF (Supremo Tribunal Federal), por exemplo, rejeitou pedido de uma empresa de Santa Catarina para não pagar duas vezes o imposto de importação — cobrado no momento que o produto entra no país e depois que é revendido.

2. Dólar em alta

O dólar em alta impacta diretamente no produto importado vendido no Brasil. Quanto maior o valor da moeda estrangeira, maior será o preço na hora da compra por aqui.

Em em 16 de março de 2020, o dólar comercial ultrapassou a marca dos R$ 5,00 e, desde então, só baixou deste patamar em 12 dias, mas sem sair da casa dos R$ 4,90. Durante este período, atingiu o pico de R$ 5,90 em 13 de setembro do ano passado. Recentemente, a moeda estava cotada em R$ 5,56.

"Ao preço que está o dólar hoje, encarece bastante o material importado porque teoricamente um produto que é cotado em dólar é o mesmo valor em todos os lugares, em dólar. Aqui no Brasil já existe uma diferença em relação à questão do dólar do produto. Então paga-se mais caro", afirma Luciane Carvalho, economista e professora da Escola de Administração e Negócios da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).

3. Falta de peças

A escassez no mercado internacional de peças, como chips, microchips e semicondutores é outro fator que contribui para os preços altos de produtos como os iPhones.

Com menor oferta de componentes, o preço final tende a aumentar, explica João Guilherme Silva Vieira, professor de economia da UFPR (Universidade Federal do Paraná). A situação também é identificada nas indústrias de carros, que teve que diminuir a produção.

"As empresas de tecnologia em geral estão sofrendo pelo desabastecimento e atrasos nas entregas dos componentes que estão mais caros. Não é só o dólar, mas componentes eletrônicos e a própria pandemia geraram um problema nas cadeias globais de fornecimento, de chips. O dólar realmente está caro, mas em termos históricos não subiu tanto assim", diz Vieira.

Particularidades da Apple

A Apple é considerada uma marca premium, de luxo, com preços de produtos mais elevados em relação a outras marcas. Sabe produtos que investem no conceito, na propaganda e em outras características que não só um item básico e simples no mercado?

A intenção da empresa não é oferecer o mais barato, segundo o professor Eduardo Pellanda, coordenador do laboratório de pesquisa em mobilidade e convergência midiática da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).

"O iPhone é caro no mundo inteiro. É uma empresa muito mais premium do que de consumer [consumidor], como é por exemplo a Samsung", afirma o professor, que estuda a marca Apple há 40 anos.

A característica premium torna os celulares da Apple objetos de desejo entre os consumidores, fazendo com que outros fatores entrem em jogo, acrescenta a professora da UFMS. "O benefício do iPhone é grande em relação a tudo aquilo que ele oferece na palma da mão, mas ele também atende as pessoas no seu psicológico. É uma marca de luxo."

Para Carvalho, o consumidor que vai utilizar o iPhone vai usar não só por ser um celular, pelas opções que oferta ali, mas por trabalhar com psicológico. "Na teoria do consumidor a gente trabalha quando o produto é útil e quando tem a satisfação pessoal. Então, eu coloco como sendo esses fatores que vão agregar valor. Tem uma questão de poder. Essa posição que a marca tem frente ao mercado faz com que as pessoas tenham o desejo de ter o produto", destaca.

Apesar do selo "premium", a marca tem ampliado a oferta de versões dos aparelhos para abocanhar um público maior, apesar dos preços salgados, lembra Pellanda.

"A Apple diversificou muito a linha [com vários lançamentos a cada geração]. Ela acabou dando mais opções nos últimos anos, coisa que ela não fazia antes. No começo era um iPhone só, com tamanho para todo mundo. Isso permite atender a diferentes tipos de consumidores, com diferentes características", completa Pellanda.