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Nasa descobre a profundidade da mancha de Júpiter; por que é importante?

Mercella Duarte

Colaboração para Tilt,

29/10/2021 16h25

A missão Juno, da Nasa, conseguiu a primeira imagem 3D da violenta atmosfera de Júpiter, que trouxe descobertas interessantes, principalmente sobre a maior e mais famosa tempestade do planeta: a Grande Mancha Vermelha. Elas foram apresentadas ontem (29), por cientistas da agência espacial.

A Grande Mancha, que pensávamos ser um anticiclone achatado, como uma panqueca, é muito mais profunda que o esperado. Após sobrevoá-la duas vezes, a Juno descobriu que seu vórtex atinge entre 200 km e 500 km abaixo das nuvens visíveis, planeta adentro.

"Sabíamos que ela já durava muito tempo, mas não sabíamos quão profunda ou como realmente funcionava", disse Scott Bolton, o principal pesquisador da missão. "Ela provavelmente vai diminuindo gradualmente, conforme desce."


Até agora, cientistas acreditavam que as centenas de tempestades coloridas que recobrem Júpiter - um gigante gasoso - eram restritas à camada superior de nuvens, que a luz do sol consegue penetrar, onde espera-se que água e amônia se condensem. Mas todas elas são mais "altas" do que imaginávamos.

"A Grande Mancha Vermelha está tão profundamente dentro de Júpiter quanto a Estação Espacial Internacional está bem acima de nossas cabeças", disse Marzia Parisi, pesquisadora do Laboratório de Propulsão a Jato, da Nasa.

Foram 37 passagens da nave bem pertinho de Júpiter; em fevereiro e em julho de 2019, ela voou bem acima da enorme tempestade, de 16.000 km de largura. Equipada com um radiômetro de microondas e um medidor de gravidade, entre outros instrumentos, foi possível dar uma inédita olhada tridimensional para os fenômenos.

Mas, apesar de gigantesca, a icônica Grande Mancha Vermelha está diminuindo: em 1979, tinha duas vezes o diâmetro da Terra (cerca de 24.000 km); desde então, encolheu pelo menos um terço.

Fenômenos meteorológicos

Outra descoberta importante é a respeito dos resilientes ciclones geométricos nos polos do planeta. A Juno descobriu que são cinco tempestades ciclônicas no polo Sul, em forma de pentágono, e oito no polo Norte, formando um octógono. Em cinco anos de observações, eles estranhamente permaneceram no mesmo local - devido a um jogo de empurra-empurra que leva ao equilíbrio.

Os novos dados mostram que ciclones são mais quentes em cima, com densidades atmosféricas mais baixas, e mais frios embaixo, com maiores densidades. Anticiclones, que giram na direção oposta, como a Grande Mancha, funcionam de maneira inversa: mais frios em cima e mais quentes embaixo.

A circulação de ventos na atmosfera de Júpiter também chama a atenção. As nuvens estão inseridas em correntes de jato (jet streams) verticais, leste e oeste, que se estendem por até 3.200 km de profundidade. São cinturões e zonas bem distintas, avermelhadas e brancas, que envolvem o planeta; ventos se movendo em direções opostas separam as faixas.

Como esses jatos, que alimentam as tempestades, se formam ainda é um mistério a ser desvendado pelos cientistas. Mas Juno trouxe uma pista: o movimento do gás amônia da atmosfera. Ele viaja para cima e para baixo, de norte a sul, ao redor dos jatos, alinhado com as correntes.

A Juno está em operação desde 2016, escaneando a atmosfera e mapeando os campos magnéticos e gravitacionais do maior planeta do Sistema Solar. A missão deve se estender até 2025. Diversas pesquisas estão sendo publicadas com base nas novas descobertas.