Megacometa descoberto por brasileiro está se aproximando da Terra; entenda
O maior cometa já registrado pela humanidade está se movendo em direção à Terra. Com largura estimada entre 100 e 160 km, ele foi descoberto por dois astrônomos da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos - um deles, o brasileiro Pedro Bernardinelli.
Em 2031, ele chegará o mais perto possível de nós. Mas calma! Não há motivo para pânico. Este "perto" é em termos astronômicos. Na verdade, ele cruzará o Sistema Solar entre as órbitas de Saturno e Urano, a cerca de 1,5 bilhão de quilômetros de nosso planeta, sem qualquer risco de impacto.
Chamado 2014 UN271, o megacometa foi descoberto pelo brasileiro e seu colega norte-americano Gary Bernstein, enquanto vasculhavam o arquivo de imagens da Dark Energy Survey, uma pesquisa sobre a expansão do Universo. O primeiro registro que localizaram do objeto data de outubro de 2014 (por isso o nome), quando ele estava a 4,3 bilhões de quilômetros do Sol.
Inicialmente, não foi possível afirmar se era mesmo de um cometa ou outro corpo, como um planeta anão em uma órbita de cometa. Ele foi classificado como "objeto transnetuniano" - menores que os planetas, orbitando o Sol a longas distâncias além de Netuno, nas estruturas conhecidas como Cinturão de Kuiper e Nuvem de Oort; Plutão, que foi rebaixado, é o principal deles, com 2.400 km de largura.
Após coletar e analisar novos dados e observações, veio a confirmação. O objeto foi batizado Bernadinelli-Bernstein (BB), em homenagem a seus descobridores, e um artigo foi publicado esta semana na revista The Astrophysical Journal Letters. O título engraçadinho, "A Vaca Quase Esférica dos Cometas", remete a uma piada nerd, sobre a simplificação de modelos científicos.
Ainda não conhecemos a sua composição - provavelmente uma mistura de rocha, gelo e gases -, mas certamente é gigante e irregular, muito maior que qualquer outro cometa. Para efeitos comparativos, o Neowise, que nos visitou recentemente, tem 5 km de largura. O Hale-Bopp, considerado grande, tem 50 km; e o famoso Halley tem 15 km.
Máquina do tempo
A passagem do Bernardinelli-Bernstein é uma oportunidade única para espiarmos as origens do Sistema Solar e até da vida na Terra. Sua jornada começou bilhões de anos atrás, nos eventos e colisões de rochas espaciais que criaram os planetas.
"É imaculado", disse o brasileiro ao site The Daily Beast. "Não aconteceu muita coisa com este objeto desde sua formação, no início do Sistema Solar. Portanto, podemos pensar nele como uma janela para o passado."
Os outros cometas que registramos por aqui já haviam mudado muito ao longo do tempo - seja por serem muito pequenos ou fragmentados, ou porque passaram muito perto do Sol e tiveram sua composição alterada pelo calor. Então nossa compreensão foi "editada" por forças externas.
Pelo tamanho enorme, o 2014 UN271 tem gravidade suficiente para se manter inteiro por sua viagem. "A história contada por este cometa nos dirá o que existia aqui bilhões de anos atrás, e podemos usar isso para entender as coisas que vemos hoje por todo o Sistema Solar", completou Bernardinelli.
A longa distância até o Sol também ajudou a preservá-lo - ele passa a maior parte do tempo na zona super congelada do Sistema Solar externo. De acordo com os cálculos dos astrônomos, a última vez que o megacometa chegou na nossa região foi há cerca de 5 milhões de anos, e sequer se aproximou de Urano, onde mal foi tocado pelo calor.
Tudo isso indica que o "BB" guarda as características e o estado químico da nuvem de gás e poeira que formou nosso sistema, cerca de 4,5 bilhões de anos atrás.
Visita
O 2014 UN271 tem uma órbita enorme e extremamente excêntrica (longa), levando cerca de 600 mil anos para completar uma volta ao redor do Sol. Ele só conseguiu ser localizado e ter seu tamanho estimado quando chegou a cerca de 3 bilhões de quilômetros da Terra, se aproximando de Urano. E segue se movendo.
Até janeiro de 2031 - seu periélio, momento em que estará o mais perto do Sol -, ele deve desenvolver as características de um cometa, como a cauda, conforme a estrela vaporizar os materiais de sua superfície.
Mas não espere um show celeste. O objeto, provavelmente, não será visível a olho nu. Mas poderá render belas imagens de telescópios e observatórios pelo mundo, além de ser uma chance única para os astrônomos estudarem um objeto que vem das profundezas do Sistema Solar.
Depois desta visita, Bernadinelli-Bernstein voltará para a escuridão gélida, em uma viagem de milênios até a Nuvem de Oort.
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