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Rocha de 2 bilhões de anos prova: Lua 'morreu' mais tarde do que se pensava

Divulgação/Twitter @Space_Station
Imagem: Divulgação/Twitter @Space_Station

Bruna Totaro

Colaboração para Tilt*, em São Paulo

13/11/2021 04h00Atualizada em 19/11/2021 10h06

Desvendar a história da Lua: esse é o papel da missão espacial chinesa Chang'e 5, que conseguiu coletar e trazer para a Terra, no final do ano passado, rochas lunares. A novidade recente é que análises do material trazem novas evidências sobre a vida e "morte" do satélite natural.

Um estudo divulgado há poucas semanas pela revista científica Science mostra que a atividade vulcânica lunar acabou mais recentemente do que imaginávamos. O que significa que a Lua não "morreu" tão cedo quanto a ciência calculava.

O que rolou?

Os pesquisadores analisaram rochas vulcânicas retiradas de uma região de lava solidificada de uma antiga erupção da Lua, área que os cientistas chamam de Oceanus Procellarum.

Segundo o estudo, as rochas coletadas dessa vez são mais novas do que as rochas trazidas pelas missões espaciais anteriores, das décadas de 60 e 70, como a Apollo, da Nasa, nos EUA, ou a Luna, da URSS (antiga União Soviética).

Até hoje, cientistas só conheciam amostras de lava solidificada com mais de 3 bilhões de anos. Mas essas novas rochas têm cerca de 2 bilhões de anos. Ou seja, a Lua teve lava "fresca" por mais 1 bilhão de anos além do que se sabia.

Ainda não dá para saber exatamente se a Lua teve vulcões ativos como os da Terra, só que já existiu uma fonte de calor nessa região da Lua capaz de estimular essa atividade vulcânica mais tardia —elementos como potássio, tório e urânio são a prova disso.

Apesar do resultado, a pesquisa baseada nessas amostras começou agora, então ainda há muito o que investigar e descobrir.

Novas missões e amostras de outras regiões lunares podem ajudar os cientistas a desvendar os seus mistérios com mais rapidez. O próximo pouso da China no satélite natural da Terra já está planejado para 2024, com a missão Chang'e 6.

Por que a descoberta é importante?

A história vulcânica da Lua pode nos ensinar mais sobre a própria Terra, já que a principal teoria de sua formação é que o satélite seja apenas um pedaço do nosso planeta, que teria se soltado quando colidiu com outro, há 4,5 bilhões de anos.

Para alguns cientistas, obter novas informações sobre a idade da Lua e suas atividades vulcânicas pode ajudar a compreender outras questões sobre o universo, incluindo o vulcanismo e a geologia geral de outros planetas.

É possível estabelecer uma cronologia de eventos na Lua mais próxima da realidade e, com isso, ter um modelo mais ideal para datar elementos de outros planetas.

Há até quem vá além e questione se essas novas descobertas não ajudariam a responder se há ou não vida espalhada pelo Universo. Isso porque saber se existe vida em outro planeta requer, primeiro, compreender se o local seria habitável.

Esse combo tem a ver com a atividade vulcânica, que desempenha um papel importante no cultivo de atmosferas e oceanos, componentes essenciais para a vida.

Entenda o vulcanismo

  • Vulcanismo: são as atividades que movimentam e liberam materiais magmáticos do interior para a superfície da Terra, por exemplo. Pode estar relacionado a vulcões ou aos materiais liberados por eles, como é o caso das rochas.
  • Materiais magmáticos, rocha magmática ou rocha ígnea: são as rochas que se formam pelo resfriamento e pela solidificação de um magma.
  • Magma: material que existe abaixo da superfície do planeta e que pode chegar ao topo na forma de lava, quando expelida pelos vulcões.

Os vulcões são importantes para modelar relevos, uma vez que a solidificação da lava que emitem dá origem às rochas magmáticas extrusivas —como, por exemplo, o basalto, que traz diversos minerais e é usado para criar asfaltos e calçadas.

Rochas vulcânicas ainda podem dar origem aos solos, que transformam-se em metamórficas, de onde vêm materiais como o mármore, ou rochas sedimentares, como areia, argila e calcário.

As palavras podem parecer difíceis de início, mas as definições se completam e mostram que áreas ao redor de vulcões apresentam terrenos férteis, graças aos materiais que emitem.

Resta saber, então, quais eram as condições lunares que deram vida às atividades vulcânicas há dois bilhões de anos. O jeito é aguardar o andamento das pesquisas, afinal, existe literalmente um universo inteiro a descobrir.

*Com informações do site Technology Review