Os astronautas deixaram sacos de cocô na Lua; por que deveríamos buscar
Entre 1969 a 1972, a Nasa (agência espacial norte-americana) fez seis missões tripuladas até a Lua. Nessas idas e vindas, os astronautas deixaram na superfície lunar 96 sacos de dejetos humanos (fezes, urina, vômito). Sim, deixamos lixo para trás.
Os cientistas da Nasa estudam a possibilidade de recolher esse lixo na próxima missão lunar, e isso não é por uma questão ambiental. O objetivo é saber se existe algo vivo dentro deles —calma, estamos falando de fungos e bactérias.
A expectativa é que a próxima missão na Lua ocorra em 2024, quando mais um homem e a primeira mulher vão pisar por lá, no Projeto Artemis. Ainda falta muita preparação, e isso inclui, inclusive, projetos de pesquisa para desenvolver um banheiro eficiente.
Sacos de lixo deixados para trás
A primeira coisa para entender a existência desses sacos de lixo é saber que os astronautas das missões Apollo tinham de defecar e urinar, dentro da nave, em coletores. Ou seja, não havia um banheiro como os da sua casa e os de missões espaciais mais recentes.
Eles tinham um saco para as fezes e um coletor de urina. Quando estavam fora da nave, a solução era usar uma espécie de fralda espacial.
Em entrevista à Vox, dada há alguns anos, o astronauta Charlie Duke, da Apollo 16, confirmou o lixo abandonado.
"Deixamos a urina que foi coletada em um tanque. E eu acredito que tivemos alguns movimentos intestinais — mas não tenho certeza. E isso estava em alguns sacos de lixo. Nós pegamos alguns sacos de lixo e abandonamos na superfície lunar."
Esse lixo produzido durante os dias da viagem representava um peso adicional e desnecessário à nave em sua viagem de retorno à Terra. Como em todas as missões, os astronautas coletaram material lunar, como pedras e poeira, para ser analisada posteriormente. Por isso, era importante deixar para trás o máximo de peso possível.
Que vida poderia restar
Metade do material seco das fezes é composto por bactérias, e ali há centenas e até milhares de espécies diferentes de vida microbiana (além de bactérias, fungos e vírus).
Estudar se ainda há vida nesse material, deixado há cinquenta anos na superfície lunar, pode ajudar a entender em que condições extremas a vida é capaz de sobreviver.
A Lua não tem atmosfera como a Terra, então os sacos que por lá ficaram estão sob forte radiação solar e enfrentam ainda temperaturas extremas, entre -170°C e 100°C.
O astrobiólogo Andrew Schuerger, da Universidade da Flórida, é um dos pesquisadores interessado nos sacos deixados sobre a lua. Em 2019, ele e outros colegas publicaram o artigo "Um modelo de sobrevivência microbial na lua para predizer a contaminação progressiva da Lua".
Schuerger afirmou à Vox que é grande a probabilidade de que nada tenha restado com vida. Esses sacos espaciais, porém, garantem alguma proteção ao material biológico.
Por isso, o astrobiológico acredita que é dentro deles onde "há a maior probabilidade [de vida] dentro de tudo que ficou sobre a lua".
Na época, o astronauta Buzz Aldrin, um dos primeiros homens a pisar na Lua, reagiu ao artigo da Vox no Twitter e comentou que sente muito por quem encontrar a mala de dejetos dele.
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