Não é só apertar um botão: entenda como será a implantação do 5G
No início de novembro, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) realizou o leilão do 5G. Mas, a partir de agora, o que será necessário para que essa tecnologia, que permite internet até 20 vezes mais rápida que o 4G, esteja disponível aos brasileiros? Em quanto tempo esse serviço estará disponível?
Bom, ainda vai levar alguns anos para que o 5G chegue definitivamente ao Brasil. A implantação da tecnologia será gradual e dependerá diretamente da criação de uma infraestrutura de rede que permita que o 5G funcione em sua totalidade —ou seja, sem depender do que já existe hoje para o 4G funcionar, de acordo com especialistas e empresas do setor ouvidas por Tilt.
Quando sua cidade receberá o 5G?
O edital do leilão prevê que o 5G comece a funcionar em todas as capitais do país até julho de 2022 —mas isso não quer dizer que todos os pontos dessas cidades terão acesso à nova geração da internet.
O desafio, como já mostrou uma reportagem de Tilt, é superar burocracias para instalação de infraestrutura de telecomunicações, as chamadas torres ERBs (Estações de Rádio Base), antenas e torres que transmitem o sinal da operadora para o seu celular. Muitas cidades ainda possuem leis que deixam esse processo mais longo, segundo os entrevistados.
Acredita-se que a demanda do 5G exigirá de quatro a cinco vezes mais antenas do que as que estão instaladas atualmente para que ele possa funcionar em suas diferentes faixas de frequência (como se fossem pistas de uma rodovia pelas quais a tecnologia funciona). "Vamos precisar também de mais roteadores e elementos que suportem esse tráfego maior", diz Vinicius Castelo, diretor de Telecom da consultoria Oliver Wyman.
Outro dos prazos previstos pelo governo federal é de que só em 2028 cidades com mais de 30 mil habitantes comecem a ter acesso ao 5G.
"O país tem mais de 5 mil cidades, a infraestrutura tem que chegar com fibra em todas essas cidades para ter o bom funcionamento do 5G, e isso não vai acontecer de um dia para o outro", afirma Castelo.
"Para as cidades grandes como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Fortaleza, deve chegar ano que vem. A partir de 2023 deve chegar nas cidades médias, 2024 nas menores, e em cinco anos ter uma cobertura de mais de 90% da população. Acredito que até 2027 ainda vamos ter uma parcela da população sem o 5G", acrescenta.
O cronograma previsto de implementação do 5G pelo Governo Federal segue assim:
- Cidades com mais de 500 mil habitantes: até julho de 2025
- Cidades com mais de 200 mil habitantes: até julho de 2026
- Cidades com mais de 100 mil habitantes: até julho de 2027
- Cidades com mais de 30 mil habitantes: até julho de 2028
E por que esse cronograma será longo?
Um dos motivos para o cronograma de implantação do 5G no Brasil ser extenso é o formato que foi escolhido para sua implantação. No país, as redes serão standalone, ou seja, um "5G puro", totalmente autossuficiente. Isso significa que parte da infraestrutura não terá dependência da que existe atualmente para o 4G funcionar.
"Para ter mais velocidade, menos latência [tempo de resposta entre um comando e outro] e mais densidade de acesso, ou seja, a possibilidade de mais gente estar conectada na mesma metragem quadrada, é necessário trabalhar com a rede standalone, já baseada na ativação mais pura do 5G", afirma Fernando Moulin, especialista em negócios digitais e sócio da consultoria Sponsorb.
Sendo assim, as operadoras vencedoras do leilão precisarão, sim, investir em infraestrutura para oferecer uma melhor conexão, como a instalação de fibras ópticas, que envolve um meio no qual a informação trafega. Elas são instaladas junto com os postes de luz.
As empresas aproveitarão ao máximo o conhecimento adquirido com as redes 4G. Porém, o investimento terá de ser ainda maior nos locais onde ainda hoje não se possui nem mesmo a internet via fibra óptica.
"A capacidade de tráfego é muito grande, não existe outra opção a não ser conectar todas essas antenas por fibra. Não é possível conectar com uma tecnologia inferior porque não vai chegar na velocidade necessária, estamos falando de velocidades de gigabytes", afirma Castelo.
"No Brasil, a fibra passa junto com poste de luz, assim teremos que passar mais fibras, em mais postes, para conectar mais antenas. A cada 30 km, 40 km, você precisa ter roteadores [dispositivo que distribui a internet]. O upgrade não é na fibra em si, mas é preciso um upgrade nos equipamentos entre os diversos nódulos da rede para conseguir trafegar com maior capacidade", acrescenta.
E por que escolheram um 5G independente da rede 4G?
Você pode estar se perguntando os motivos de a opção que não aproveita totalmente a estrutura do 4G ter sido a escolhida. Isso ocorre porque, ao utilizar a rede standalone, será possível atingir a capacidade total do 5G, o que será importante não somente ao consumidor, mas principalmente para revolucionar setores como a indústria e a agropecuária.
Para diminuir a latência do 5G, por exemplo, será necessário colocar os recursos próximos aos usuários (levando a fibra óptica até as antenas), ou seja, muito mais delas terão de ser instaladas do zero para atender ao Brasil. Esse é um dos pontos de maior diferença entre as arquiteturas do 4G e do 5G.
Próximos passos
Com o leilão realizado, as empresas que conseguiram arrematar as faixas terão o direito de oferecer conexão às pessoas e empresas. A partir de agora começa a fase de planejamento para a implementação, com a instalação da infraestrutura compatível com a tecnologia.
Entre os principais fornecedores desses equipamentos no Brasil estão a Huawei, a Ericsson e a Nokia.
Em entrevista a Tilt, a fabricante chinesa Huawei diz ter uma solução para essa grande demanda de antenas necessárias para o 5G. "A ideia é reduzir o quantitativo de antena hoje existente. Essa antena de 2G, 3G e 4G também pode trafegar 5G nas frequências mais baixas", explica Bruno Ribeiro, gerente de solução wireless da empresa no Brasil.
Isso significa que o 5G poderia funcionar aproveitando alguns recursos das redes mais antigas. Contudo, só algumas dessas faixas.
"A Huawei oferece uma solução fim a fim, desde antena até a parte de backbone (espinhas dorsais da rede), de energia, gabinetes de energia necessários. Já estamos nesse desenvolvimento há muito tempo, já temos muitas redes 5G no mundo e, principalmente, temos uma solução muito madura e massiva, uma solução de altíssima capacidade para o 5G", diz Ribeiro.
A Ericsson também vem fazendo grande investimento para participar da implantação do 5G no país. Segundo a empresa, serão investidos R$ 1 bilhão em até cinco anos para a construção da linha de produção, desenvolvimento e pesquisa.
"A Ericsson opera em todos os continentes, em países como Estados Unidos, China e Japão. Estamos presente em todos esses mercados, então lidamos com demandas e solicitações de clientes dos mais diversos tipos. Isso permite que a Ericsson amadureça seus produtos com uma diversidade muito grande", afirma Paulo Bernardocki, diretor de soluções e tecnologia de redes da empresa no Brasil.
As companhias não abriram como está o andamento nas negociações com as vencedoras do leilão, mas explicaram como serão os processos a partir de agora. Segundo Bruno Ribeiro, da Huawei, existem os casos das empresas que já possuem a infraestrutura de fibra e torre, o que facilita no planejamento.
"Nesses casos, vamos fazer um cronograma com elas [empresas], montar a melhor solução específica e fazer a instalação. Vai depender da localidade, do tempo de colocação dessa torre etc. Isso pode variar de dez dias a seis meses, dependendo, obviamente, do cenário", afirma.
Já para operadoras que necessitam de toda a infraestrutura, ele diz ser mais difícil precisar o tempo para instalação.
No caso da Ericsson, Bernardocki afirma que a atividade para empresas que já possuem uma infraestrutura demora cerca de dois dias para ser otimizado para o 5G.
"O que nosso pessoal faz é chegar com equipamento novo, com os rádios novos, que estão sintonizados na frequência vendida no leilão, sobem na torre, fazem a fixação desse rádio no alto, fazem as conexões, descem alguns cabos que vão conectar na placa de controle, e faz a configuração do rádio para que possa operar em 5G", diz.
Já para os casos que não possuem a infraestrutura, será necessário primeiramente procurar um local para a instalação da torre. Para isso, uma equipe de engenheiros faz um estudo prévio de topografia e escolhem uma área adequada.
"Isso é tudo obrigação das operadoras: achar o local da torre e mandar essa equipe em campo. Encontram um terreno vazio, fazem um contrato com o dono do terreno, ergue-se a torre no local. Uma vez com ela erguida, aí entra o time da Ericsson, mandando para o local os equipamentos de energia, os rádios, fazemos a conexão da fibra etc.", afirma.
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